domingo, 26 de setembro de 2010

Excelente sinal

Sérgio Magalhães
Mais do que uma boa notícia, o artigo assinado por Felipe Góes e Washington Fajardo traz um sinal positivo para o desdobramento das atividades olímpicas programadas para a cidade.

Felipe é secretário de Desenvolvimento do Rio, presidente do Instituto Pereira Passos, e responsável pelo projeto Porto Maravilha; Washington, é subsecretário de Patrimônio e Arquitetura, da secretaria de Cultura. Logo, o artigo pode ser lido também como um indicador importante para a sociedade e para empreendedores.

É mais um passo para a readequação do projeto olímpico à construção de um legado de maior expressão para a cidade.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O Centro e os seus vazios

Eduardo Cotrim
Os centros são imparciais porque não disputam preferências com outras regiões do cosmos, das figuras geométricas, de gravidades ou dos poderes democráticos constituídos. Também, no mundo todo, aparentemente, todas as regiões das cidades se destacam dos seus centros, que são indiferentes, meio mudos, mas acima de tudo coletivos e unâmines. O que as regiões gritam, os centros agregam.

Tijuca do Rio, Guillermerie de Toulouse, Kralingem de Rotterdam, Oued Kouriche de Argel possuem muitos sons, vitalidades, vaidades, mas não possuem ruas tão públicas e anônimas ao mesmo tempo, como a do Ouvidor, a du Tour, a Gouvenestraat ou a Rabah Rajah, que deve ser fascinante conhecer. As regiões ou os bairros, é verdade, são tão fundamentais quanto os centros, porque naqueles vivem os cidadãos.



No Rio, chamamos, ou chamavam nossos pais e avós, o centro de Cidade. Vou ou vamos à Cidade. De dia, isso significava resolução de papeladas, de noite, diversão. Durante o dia e à noite, a cidade no Rio era o Centro. Entre uma e outra papelada, havia bancos nas praças na hora do almoço e de noite havia luzes.

Praças e luzes. Parecem uma boa retomada para a Cidade, para o centro do Rio.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Rio se reencontra

*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo de 19/09/2010.
Sérgio Magalhães
Depois de quarenta anos de hegemonia do modelo de dispersão territorial e de valorização de centralidades novas a oeste, poderemos ter um outro polo a reorientar a direção do desenvolvimento urbano: o Centro do Rio. Sim, o velho Centro, lugar histórico, lugar político, a fonte da cidade. Os grandes eventos programados para os próximos anos poderão significar o reencontro da cidade com o seu Centro.

São muitos os embates que o Centro tem enfrentado. A ele se opõe, há décadas, a expansão em baixa densidade demográfica. O censo de 2010 daqui a poucas semanas confirmará o pouco crescimento da população do município, praticamente estável. Não obstante, se o censo também medisse a ocupação territorial, veríamos que a cidade se expandiu desproporcionalmente. É um espraiamento predatório, porque implica gastos ambientais, sociais e econômicos insustentáveis.
Ao Centro também se opôs, desde os anos 60, a ideia modernista de que a cidade precisava ser outra, que seria desejável promover-se uma nova centralidade metropolitana nos terrenos ociosos de Sernambetiba, onde se estabeleceu uma nova hegemonia imobiliária, e para onde, quiçá, se transferiria a capital do estado. Isto é, depois de deixar de ser capital federal, o velho Rio também perderia a condição de capital estadual...
Ainda durante a hegemonia funcionalista, pretendeu-se que o Centro do Rio não poderia abrigar moradias —e lei proibiu aí novas habitações, sem considerar que a vitalidade dos tecidos centrais se dá também pelaocupação diuturna.
Nesse verdadeiro turbilhão, se consolida a praia como referência urbana, disputando com o Centro o lugarprivilegiado do convívio e da bem-aventurança.
E, ainda nos anos 60, com a desestruturação dos transportes sobre trilhos (trens e bondes), em benefício de ônibus e automóveis, e com a abstenção de políticas metropolitanas, dificulta-se o acesso ao seu núcleo. A condição de melhor acesso, um dos primeiros atributos dos centros urbanos, se enfraquece.
Assim que políticas de preservação ambiental e patrimonial, embora fundamentais, não logram reverter as perdas estruturais. O Centro do Rio, que já fora a principal centralidade nacional na representação política, social e financeira, pareceria estar condenado a ser um bairro qualquer — não fosse a sua derrota a própria ruína da cidade.
Se admitirmos que uma grande cidade, uma metrópole, precisa de um ambiente público que sintetize a identidade coletiva, que seja representativo das suas memórias e da sua história, que esse espaço seja indispensável para a coesão social, e que ele não seja meramente simbólico mas que seja permanentemente vivenciado e fortalecido no enriquecimento cotidiano do seu uso, então o nosso Centro precisa ser cuidado e sua vitalidade precisa ser fortalecida.
É o Centro que nos dá essa resposta — e nenhum outro espaço, por mais privilegiado e bonito que possa ser —, porque é nele que se encontra o núcleo metropolitano, as melhores estruturas urbanas, os focos urbanos mais relevantes da história do país, o repertório arquitetônico mais rico e diversificado construído em quatro séculos, o maior patrimônio cultural brasileiro.
É nesse entendimento que, após um ano da vitória do Rio como sede olímpica, se vislumbram novas condições para a cidade. Os grandes eventos têm esse papel crucial: podem ser capazes de potencializar esforços e recompor realidades.
Nós continuamos a investir exageradamente na expansão, é verdade. Precisamos ter cuidado em não deixar prosperar novas ocupações junto ao Arco Metropolitano, bem como precisamos preservar a Baixada de Guaratiba, evitando que a Transoeste seja um vetor predador.
Contudo, temos a comemorar, neste um ano, um novo fator potencialmente redirecionador do desenvolvimento urbano, que é o aproveitamento da área portuária.
Há poucos dias, o prefeito do Rio anunciou concurso público de arquitetura e urbanismo para escolha de projetos que contemplem parte dos equipamentos olímpicos a serem construídos na região, inclusive instalações destinadas à mídia. Tornar-se a área portuária em Porto Olímpico é um passo essencial, político e simbólico, para o redirecionamento do desenvolvimento.
Com a Copa de 2014, a ser realizada no Maracanã, e há um ano da vitória do Rio como sede dos Jogos de2016, é uma decisão estratégica de reorientação de investimentos. É uma garantia para o projeto Porto Maravilha como uma realidade transformadora.
Depois de quarenta anos de hegemonia do modelo de dispersão territorial e de valorização a oeste, teremos um contraponto estratégico, outro polo a orientar o desenvolvimento. Ou seja, retornando às origens da cidade o dom de amalgamar a cidade metropolitana em torno de sua sede histórica.
A expansão desmedida passará a ter um contraponto. É o Rio que se reencontra.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Patrimônio carioca

Lucas Franco
Na última semana, dois artigos publicados no Globo alertavam para o rumo que as mais novas intervenções na cidade do Rio de Janeiro estão tomando dentro dos preparativos para a Copa de 14 e os JJOO de 16.
“Como se não houvesse amanhã” da paisagista Cecília Herzog e “Maracanã, corra para vê-lo” do arquiteto Alfredo Britto nos chamam a atenção para o que há de mais importante no trato do ambiente, natural e construído, respectivamente.
Leia os artigos:
Os autores criticam a falta de transparência dos processos administrativos, do atropelo à legislação, o modelo do “se fazer a qualquer custo”, e nestes casos especialmente, a impressionante falta de sensibilidade com o valioso patrimônio carioca, seja ele natural, paisagístico, cultural ou arquitetônico.

“(...) Quando os recursos financeiros jorram, os estragos podem ser incalculáveis. Falta visão holística, de conjunto, e de um planejamento sistêmico que seja rebatido no território, na paisagem, baseado em suas especificidades. Considerar a cultura local, e sua diversidade, é essencial para que não nos tornemos uma cidade “global” homogênea, “genérica” como tantas outras, sem identidade. Cidade composta de edifícios sem alma, sem contato com a realidade ambiental, social e cultural do lugar. Assistimos à eliminação iminente do que resta do patrimônio paisagístico e cultural, reconhecido mundialmente, e que certamente contribuiu para que fosse a cidade escolhida dessa década para tantos eventos internacionais. (...)”
*Cecília Herzog em "Como se não houvesse amanhã".

“(...) Mas, alguém viu o projeto de modificação do Maracanã? Não. Permanece um mistério. Em todos os sites disponíveis só fotos externas e distantes do “novo” Maracanã. Pode-se observarem uma delas uma sobrecobertura; mera ilustração, nenhuma viabilidade estrutural a sustenta. A Secretaria de Estado de Obras/Emop realizou uma audiência pública referente à licitação para “Obras e readequação do Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã) ao Caderno de Encargos da Fifa para a Copa do Mundo de 2014”. Era uma oportunidade para conhecê-lo. Presentes muitos empreiteiros, advogados, proprietários de cativas. Muitos questionamentos sobre prazos, custos, adequações patrimoniais. Nada sobre seu aspecto final, sobre seu projeto, seus valores como patrimônio cultural da nação, um ícone da cidade. Nenhuma imagem ou desenho (projeto) foi mostrado nessa audiência. E ninguém se preocupou com tal detalhe irrelevante (...).”
*Alfredo Britto em “Maracanã, corra para vê-lo”.


Veja aqui algumas imagens do projeto de reforma do Maracanã, divulgadas pela EMOP dias após a publicação do artigo de Britto.

domingo, 12 de setembro de 2010

Marcos Boldarini e o modernismo

Sérgio Magalhães

Gostei muito das observações do arquiteto Marcos Boldarini, expostas como comentário na nota “Como é dificil entender a arquitetura”, postada pouco mais aí abaixo. Deixo de comentar o comentário lá na nota, e o faço aqui, para que se dê um pouco mais de destaque ao assunto.


A opinião de MB faz nexo com seu trabalho em favelas de São Paulo.


Não obstante, de certo modo, confirma minha impressão de haver uma certa “patrulha modernista”, quando o arquiteto informa sobre a pauta da entrevistadora, retomada a cada pergunta:


“O que você entendeu como patrulha modernista era na verdade a linha da pauta da entrevistadora. A relação da nossa arquitetura com a herança modernista era retomada em cada pergunta.”


A patrulha deixa de ser uma abstração, um elemento etéreo e autônomo, e se materializa em um determinado contexto epistemológico de algum modo ainda surpreendido pela não ortodoxia modernista.


Também concordo com Boldarini: como seria salutar se o tema pudesse interessar mais gente –e entrasse no debate.

O CidadeInteira está às ordens.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Polêmica

Lucas Franco
A polêmica causada pelo lançamento da concorrência para o projeto do Parque Olímpico do Rio parece que caminha para um final feliz.
No último dia 19, o CO-Rio 2016 publicou um edital de licitação para escolher o escritório que complementaria os estudos arquitetônicos já desenvolvidos, servindo de base para a licitação de obras e a contratação dos projetos executivos. Até aí tudo bem, não fossem as regras adotadas e a maneira como tudo aconteceu.
O edital divulgado somente pelo website do CO-Rio, publicado em 19 de agosto, concedia apenas 12 dias para as empresas se habilitarem. Da mesma forma, os prazos e valores estipulados para o desenvolvimento dos trabalhos revelavam-se incompatíveis com a magnitude do projeto.
As principais entidades representativas dos arquitetos e urbanistas, como o IAB, CREA e SARJ, especialistas e importantes veículos de comunicação protestaram e pressionado até pela prefeitura do Rio, o CO-Rio voltou atrás e decidiu reformular a licitação.
A defesa do bom planejamento, do melhor direcionamento dos investimentos, da construção de um legado urbano e do resgate e promoção da nossa arquitetura e identidade, certamente são valores importantes, fundamentais para o desenvolvimento da nossa cidade, e que certamente deverão ser sempre buscados.
Coerência, transparência e responsabilidade no processo, são o mínimo. E precisam ser exigidas.

Veja as notícias e reportagens relacionadas ao tema:
RJTV: Comitê Rio 2016 cancela licitação para construção de parque olímpico em Jacarepaguá

O Globo:
FSP:

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Deconstrutivimo e Mobilidade

Sérgio Magalhães
Recomendo duas excelentes matérias, aparentemente desconexas entre si.
Flavio Ferreira escreve sobre Arquitetura e o Deconstrutivismo.
Raquel Ronilk fala sobre a mobilidade em São Paulo.

FF relaciona importantes mudanças históricas na arquitetura ao advento de novas mídias de comunicação visual. No caso, o deconstrutivismo é associado ao advento do computador e da internet.
RR considera indispensável que nossas cidades comecem a "crescer para dentro", ocupando os vazios e adensando.

Ambos, tratam da arquitetura contemporânea (e, logo, da cidade contemporânea) à luz da revisão doutrinária experimentada nas últimas décadas, na qual o reconhecimento das preexistencias é um dos pilares fundamentais.

FLAVIO FERREIRA: Com a ajuda de Victor Hugo: o Deconstrutivismo e seus precedentes
RAQUEL ROLNIK: Entrevista em vídeo sobre mobilidade urbana e habitação para o "Isso não é normal"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Memória?

Sérgio Magalhães
Se nos perguntarmos sobre o desmatamento dos morros da cidade, nossa resposta será de desolação.
Agora, temos a oportunidade de testar nossa memória com imagens de três morros da zona Sul, esta que sempre é percebida como a em franco processo de devastação.Na mídia, também, a memória é reforçada pela informação que as favelas crescem e desmatam nossas encostas.

Vale a pena conferir.Mas, para facilitar, vamos colocar já cada imagem lado a lado.À esquerda, antes; à direita, depois.

Morro do Sumaré, Rio Comprido
Morro da Babilônia, Urca/Leme
Morro Dois Irmãos, Leblon
Aos que quiserem imagens com maior definição, seguem os links.

sábado, 4 de setembro de 2010

Conexões

Lucas Franco
Na semana passada, uma parceria formada pelo IAB-RJ, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a embaixada da Suíça, promoveu um simpósio para se discutir os desafios a serem enfrentados durante a qualificação urbana das cidades, especialmente a do Rio de Janeiro, considerando os grandes eventos esportivos programados para os próximos anos.
Em pauta, a política de investimentos, a integração das favelas, a obsolescência das instalações esportivas e é claro, os problemas de mobilidade urbana.
A equipe do Cidade Inteira saúda todas as parcerias formadas, em todos os âmbitos, que visam à troca de experiências, o conhecimento e aprofundamento dos casos, a fim de alcançar os melhores resultados, para os jogos e sobretudo, para as nossas cidades.

Leia o resumo do evento no site do IAB-RJ:
Veja as duas pequenas reportagens publicadas pelo Globo: