sábado, 27 de fevereiro de 2010

Brasil precisa valorizar cultura arquitetônica

*Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo em 26/02/2010
Sérgio Magalhães
O museu projetado pelo espanhol Santiago Calatrava irá ocupar área onde, há anos, o francês Jean Nouvel projetou o museu Guggenheim.
Intensa campanha contrária fez o então prefeito Cesar Maia desistir da ideia. Mas não de uma obra monumental: construiu a Cidade da Música, na Barra da Tijuca, de outra estrela da arquitetura mundial, Christian de Portzamparc. O polêmico Palácio da Dança, em São Paulo, é projetado pelos suíços Herzog & de Meuron.


O que ganham as cidades brasileiras com projetos de arquitetos estrangeiros?
Uma obra de alta qualidade arquitetônica é boa para a cidade e para a cultura. Um arquiteto famoso traz a probabilidade da boa obra, mas não é garantia.
O museu Iberê Camargo, em Porto Alegre, de autoria do português Siza Vieira, é atestado de altíssima qualidade de projeto e de construção. Não diria o mesmo da Cidade da Música. Parece que o arquiteto ficou sem interlocutor qualificado, o que levou ao exagero programático e projetual.
Nossos governos são clientes desatentos à arquitetura e pouco afetos à exigência da qualidade. Em geral, nossa sociedade não se aculturou na fruição do espaço arquitetônico.
É compreensível: a valorização do espaço é algo que se elabora no bojo do conhecimento. A arquitetura é uma complexa produção da cultura. As pessoas não nascem com a compreensão de seus valores.

O Brasil produz milhões de construções anuais. Os governos promovem milhares de edificações por ano. Poucas são aquelas em que se desejou um bom projeto.
Por que Calatrava, Nouvel, Portzamparc, Siza, Herzog, fazem obras tão qualificadoras? Porque são talentosos e em seus países se valoriza a cultura arquitetônica.
Com 200 milhões de habitantes, está na hora de o Brasil desejar um ambiente urbano qualificado. Cidades bem feitas, de bons edifícios -que não custam mais caro do que os feios e medíocres.
Concurso de projetos para as obras públicas é instrumento de melhora das cidades. Tendo a seleção pela qualidade, seremos mais aptos a apreciar uma boa obra de arquitetura, inclusive a de arquitetos famosos.
Nossas cidades serão valorizadas por milhares de obras assinadas pelo talento e competência dos milhares de arquitetos brasileiros, prontos a ajudar a tornar o Brasil ainda mais qualificado e bonito.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Banho de tinta, banho de "civilização"?


Sérgio Magalhães
Volta o tema de pintar as casas de favelas. Estimuladas pelo governo, empresas patrocinarão as tintas.
Há precedentes, como o projeto ‘aquarela’, que pintou as casas de favela no morro Dois Irmãos, Leblon. Também as casas do morro da Coroa, no Catumbi, foram pintadas, no caso, de branco. Na Santa Marta, a urbanização da favela incluiu o serviço de “melhorias habitacionais”, que emboçou e pintou parte das moradias.
O arquiteto Eduardo Cotrim, há alguns anos, refletiu sobre o motivo pelo qual as famílias não emboçavam suas casas e formulou, como hipótese, uma certa estética-ética de valorização do inacabado. Hoje, O Globo publica interessante artigo assinado pelo sociólogo Paulo Magalhães, que ajuda a entender a complexidade da questão.
Vale lembrar um dos pilares da arquitetura do movimento moderno: a “verdade dos materiais”. Concreto aparente, tijolo à vista, entre outros, constituíram-se em marcas de determinadas correntes modernistas. A rejeição ao adorno, componente fundamental na constituição dessa estética, deitou raízes profundas. Se ela não explica o não revestimento das casas de favela, poderá ajudar a compreender um certo olhar de simpatia, desde a classe média arquitetônica, ao aspecto inacabado em foco.
Se se perguntar ao morador, ouviremos, seguramente, a resposta da falta de dinheiro para emboçar e pintar o exterior da casa. O interior está prontinho, os equipamentos domésticos disponíveis, mas falta ainda para outras coisas mais úteis, antes da fachada. “Intelectual é que gosta de pobreza, pobre gosta de luxo”, seria a máxima atribuída a Joãozinho Trinta.
Enfim, o tema é maior que uma nota em blog admite.
E ainda fica faltando refletir sobre o quão profundamente a estética inacabada/pobre das casas faveladas atinge a sensibilidade e autoestima dos moradores do asfalto e dos governos...
Vale a pena ver o artigo citado: "É melhor jogar dinheiro..."

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Conte ao menos até três

Lucas Franco
Durante a minha juventude, isto é, muito antes de começar a estudar arquitetura, e mesmo sendo proveniente de uma família de arquitetos, diria que são poucas as experiências emocionantes relacionadas com o tema que consigo me recordar.
Porventura, na semana passada uma delas veio à tona: a belíssima escada do Rio Design Center.
Infelizmente, a lembrança veio junto a uma lastimável notícia, a partir de uma mensagem eletrônica com o desabafo do arquiteto autor do projeto, Max Gruzman:
“Saudades da escada de um shopping da Barra...
Ela era escultural, brincava com o espaço em torno;
frequentou desfiles, fotos e novelas.
Foi demolida:para dar lugar a novas lojas..."

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SILACC 2010: Chamada de Trabalhos


SILACC 2010: Simpósio Ibero-Americano “Cidade e Cultura: novas espacialidades e territorialidades urbanas”

Chamada de Trabalhos

São Carlos, 29 de agosto – 01 de setembro 2010

Com muita satisfação que a Comissão Organizadora, o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo convidam pesquisadores a participarem do SILACC 2010 – “Cidade e Cultura: novas espacialidades e territorialidades urbanas”. O SILACC 2010, pensado com periodicidade bienal, alcança sua terceira edição, agora com âmbito ibero-americano, ratificando a convicção de que é possível construir espaços adequados de reflexão e debate sobre problemáticas da cultura e da espacialidade da cidade, suas continuidades e transformações em curso: um fórum que, a partir de marcos referenciais teóricos que contextualizem as temáticas abordadas no cenário de produção do conhecimento em torno das múltiplas dimensões que caracterizam a cidade contemporânea como objeto de estudo, estabeleça questões para a continuidade do debate.

(...)
A seleção dos trabalhos para o SILACC 2010 se dará em duas etapas, conforme o calendário a seguir. A primeira, uma pré-seleção a partir dos resumos expandidos encaminhados. A seleção final será efetuada num segundo momento com base nos trabalhos completos. Os trabalhos submetidos deverão ser inéditos e consoantes com as linhas conceituais das sessões temáticas. As normas para o encaminhamento dos resumos e dos trabalhos serão detalhadas no site do evento, a ser disponibilizado ao final de janeiro de 2010.

SILACC 2010: Calendário

Divulgação do Simpósio dezembro de 2009
Disponibilização de Portal Web janeiro de 2010
Prazo para Encaminhamento de Resumos 22 de março de 2010
Resposta das Comissões Científicas. Pré-seleção dos trabalhos 29 de março de 2010
Prazo para Encaminhamento dos Trabalhos Completos 17 de maio de 2010
Seleção Final dos Trabalhos 27 maio de 2010


Leia aqui o documento na íntegra

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sergio Teperman analisa as oportunidades do Rio com as Olimpíadas de 2016

Sérgio Magalhães

O arquiteto Sergio Teperman é emérito cronista da revista brasileira aU, de arquitetura e urbanismo. Na última edição, comenta a realização da Olimpíada na Cidade Maravilhosa.

“A questão principal não é a Olimpíada em si: é a oportunidade única de dar (ou devolver) ao Rio de Janeiro a importância política e representativa no País. (...) Mas não são os estrangeiros que devemos impressionar: é o povo (não digo sofrido porque ninguém sofre morando no Rio) desiludido da antiga capital formal que deve receber a sua cidade de volta..."

Vale a pena conferir na íntegra: Céu, Sal, Sul...Rio, o samba dos aviões(de Ipanema)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Olímpica esperança

Sérgio Magalhães
Nos enche de esperança o artigo do presidente do COI, que O Globo publica hoje. Jacques Rogge exalta a necessidade da Olimpíada construir um legado que seja uma alavanca para o desenvolvimento local. Destaca o caso de Vancouver, onde “a Vila Olímpica vai transformar uma zona industrial degradada em modelo de habitação sustentável ... abrigando uma comunidade de classes de poder aquisitivo variado”. Em Londres, onde “os Jogos já estão ajudando a revitalizar uma área [central] que sofre de problemas econômicos”. Recomenda o presidente do COI que as cidades-sedes busquem aprender com a experiência das cidades que já abrigaram Olimpíadas.


Diferentemente de Vancouver, no Rio a Vila Olímpica está prevista para uma área rica, será de apartamentos milionários construídos com subsídios públicos e vendidos com subsídios públicos –e com as infraestruturas pagas pelo governo.

Oxalá a opinião de Jacques Rogge possa ajudar a redirecionar o projeto olímpico carioca. Os investimentos públicos precisam contemplar o interesse da cidade inteira –e não de apenas uma parte.

Lembrete: vide post de 26nov09, neste blog.

Veja o artigo do Presidente do COI

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Metrô Rio: 1968-2010

Marat Troina
Em 1968 o projeto METRO RIO definiu o encaminhamento do sistema de metrô existente hoje no Rio de Janeiro e pautou as ampliações e complementações da rede até poucos anos atrás. Agora mudou.
O belo documento, disponível nas bibliotecas públicas do Rio, apresenta mapas interpretativos da Guanabara constando:
1. O tipo do solo;
2. A evolução da malha viária;
3. A localização das agências bancárias;
4. A localização das instituições públicas de ensino;
5. O valor estimado da terra junto às principais ruas da área urbana.
São propostas então duas linhas de metrô, sobrepostas à cidade existente.
LINHA 1
A Linha 1- em vermelho, tem sua extensão a partir do Jardim de Alá chegando à Jacarepaguá pelo norte, atendendo no caminho os bairros do Andaraí, Grajaú, Vila Isabel, Méier e Engenho de Dentro antes de atravessar o maciço. Após, estão planejadas as estações três Rios, Freguesia, Cidade de Deus, Gardênia Azul e Jacarepaguá.
Todos os bairros citados antes do maciço vêm perdendo população. Ou seja, são áreas estruturadas do Rio de Janeiro, com ruas, drenagem, iluminação pública, hospitais públicos, escolas, que ganharão interesse a partir do fácil acesso ao transporte público de massa, aliviando a pressão sobre a Zona Sul formal (prédios) e informal (favelas). O adensamento populacional de Andaraí, Grajaú, Méier e etc. caminham no sentido da sustentabilidade urbana e ambiental. Adensando áreas já urbanizadas é possível preservar as áreas não urbanizadas e seus ecossistemas como nas Vargens e nas lagoas da Barra da Tijuca.
A RA- Jacarepaguá tem área um pouco menor do que a RA- Barra da Tijuca, mas sua população hoje é 3 vezes maior. 
LINHA 2
Já a Linha Dois – em verde, tem proposta sua continuação no sentido Centro com as estações Catumbi/Sambódromo, Praça da Cruz Vermelha, Morro do Santo Antônio, Largo da Carioca (segunda baldeação com a Linha 1) e Castelo com a indicação de continuidade até Niterói. Mais fácil do que imaginar uma estrutura submarina seria uma possibilidade de integração dos modais ferroviário e hidroviário, mantendo o sentido da coisa. De qualquer forma, o projeto aumenta as possibilidades de acesso ao Centro, sem colocar toda a população nas mesmas estações abarrotadas.
Nada contra novas propostas e reflexões. A cidade é mutável e os projetos a serem realizados com o dinheiro público devem ser questionados exaustivamente antes de sua execução. Entretanto, talvez por desinformação, vejo mais coerência no plano METRO RIO de 1968 do que nas conexões Pavuna-Botafogo, executada, e Gávea-Jardim Oceânico, anunciada.

Última Semana

Eduardo Xavier
Com a intenção de comemorar o centenário da abertura dos portos, em 1908, Afonso Penna promoveu o primeiro evento internacional de grande porte, para mostrar ao mundo as qualidades da capital da jovem República Brasileira. Após as reformas realizadas pelo prefeito Pereira Passos a cidade ganhara a identidade “cidade maravilhosa”, e estava pronta para ser apresentada internacionalmente.
Vale a pena destacar a qualidade arquitetônica dos pavilhões durante o evento. Está acontecendo uma exposição sobre o evento de 1908, que foi desenvolvida pela Professora Margareth Pereira da Silva, de terça à domingo de 12h às 19h até o dia 12 de fevereiro no centro Cultural dos Correios, Rua visconde de Itaboraí, 20, Centro.
Vale a pena conferir!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Qual é o prédio mais bonito do Rio?

Lucas Franco
No último domingo, o jornalista Bernardo de La Peña publicou uma nota na coluna do Ancelmo Gois intitulada: Qual é o prédio mais feio do Rio?, divulgando a seleção de alguns arquitetos cariocas para o tema.
Uma pena. Logo eles, que costumam escrever notas e lançar enquetes que exaltam a beleza e exuberância social, cultural e da natureza carioca preferiram buscar o feio para falar de arquitetura.
Assim, em resposta a nota, em defesa da bela arquitetura, e ainda, em nome da equipe do Cidade Inteira, gostaria de lançar a enquete: Qual é o prédio mais bonito do Rio?
Para iniciar a disputa, mas tentando fugir dos medalhões, dos lugares comuns, e a fim de valorizar a sensibilidade coletiva, decidi escolher um conjunto, o notável e diversificado conjunto arquitetônico da Praia do Flamengo. Do castelinho Art Nouveau e o moderno edifício da Manchete, passando pelas acentuadas esquinas ecléticas formadas pelos parisiense Edifício Guinle e o Toscano Seabra, até as varandinhas Déco do Edifício Biarritz.
Enfim, edifícios da época em que os prédios tinham intenção, você podia identificar a entrada, as fachadas eram trabalhadas, e é claro, não se abria mão do estilo (com duplo sentido, por favor).
E para você, qual é o prédio mais bonito do Rio? Responda, participe. Críticas, sugestões e comentários serão muito bem-vindos.
Leia aqui a nota de BLP e AG.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Casa Solar Flex - Solar Decathlon

Lucas Franco
Esta semana, a equipe do Cidade Inteira recebeu dos colegas José Ripper Kós e Bitiz Afflalo a notícia de que uma equipe de cerca de 60 pessoas de seis universidades públicas brasileiras (UFSC, UFRJ, UFRGS, UFMG, USP e Unicamp) está desenvolvendo um projeto para o concurso Solar Decathlon.
Segundo a descrição da própria: “A Casa Solar Flex foi desenvolvida pela equipe brasileira para o Solar Decathlon Europe, uma competição entre casas que só podem usar o sol como fonte de energia.
(...)
Estamos propondo um modelo de unidade hoteleira para ser adotado por pousadas ou hotéis localizados em áreas com infra-estrutura muito limitada e ecossistemas frágeis, onde as alternativas existentes utilizam geralmente energia de geradores movidos a diesel ou gás e raramente possuem tratamento de esgoto.”
O (A) Cidade Inteira parabeniza o Consórcio BRASIL/Casa Solar Flex pela iniciativa e o engenhoso projeto, e fica torcendo pelo sucesso na competição e no desenvolvimento de uma boa arquitetura sensível às questões ambientais.
Leia aqui o release na íntegra
Acesse os links do projeto:
Consórcio BRASIL / Casa Solar Flex
www.sdbrasil.org

www.sdeurope.org
www.solardecathlon.org
http://casasolarflex.wordpress.com
http://lite.facebook.com/p/Casa-Solar-Flex/189849158086
http://www.flickr.com/photos/consorciobrasil
http://twitter.com/casasolarflex