sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mais uma do Metrô...

André Luiz Pinto



O que se passa com o Metrô no Rio de Janeiro?
Parece que não houve aprendizado nenhum com o horrendo viaduto da Av. Francisco Bicalho e a estação mais esquisita do mundo em frente a Prefeitura...


O arquiteto Washington Fajardo escreveu um manifesto, que assino embaixo:


Manifesto pelo fim da adolescência na arquitetura ou pela calma

Acredito na arquitetura.
Acredito piamente na contribuição da arquitetura e dos arquitetos para com a paisagem natural.
Acredito na engenharia e na técnica.
Acredito que a instalação de elementos marcantes na paisagem podem ser decisivos na regeneração de contextos degradados ou depreciados. Ou trazer adensamentos oportunos e revitalizadores.
Acredito que elementos verticais na paisagem não são incompatíveis a priori com contextos históricos e ou naturais. Podendo trazer boas soluções.
Acredito no design.
Mas quem tem pedra da gávea não precisa de ponte estaiada.
O que quer o metro com tais elementos? Ponte treliçada, passarela metálica, ponte estaiada...
Há algum complexo de inferioridade infra-estrutural?
Seria o metrô um adolescente rebelde pela paisagem carioca?
Calma...
Precisar não precisa.

7 comentários:

  1. Eu gosto da ponte estaiada, contribui para a criação de uma identidade no local e marca a chegada do metô no bairro. Em todo o caso, pelo projeto seria preciso construir uma ponte. Ora, melhor que seja bem feita, criativa, única. Não acredito que vá competir com a pedra da Gávea, nem fazer com que esta perca sua força na paisagem. São proporções completamente diferentes... Também acho positiva a contribuição da nova passarerla da Av. Presidente Vargas, tem um desenho pouco usual, faz uso de elementos pré-fabricados e melhora a questão da acessibilidade e do cruzamento da via (não concordo com a construção da linha 1A, mas isso é outra história). Me incomodo também com a utilização do termo "horrenda". Não quero fazer juízo de valor estético, pois não acho que ninguém tenha essa poder, mas pra alguém que passa pela Pres. Vargas diariamente há alguns anos, afirmo que a paisagem urbana se tornou muito mais interessante após a construção da passarela e a viagem, menos monótona no meio da mesmice característica de quase tudo que é construído nessa cidade.

    ResponderExcluir
  2. Pelo menos uma opinião diferente! Que bom.
    No vazio de debate urbano, é importante ouvir muitas vozes. É a partir delas que a cidade consegue acertar mais -e errar menos.
    Mas, aqui, o Rodrigo Abbade há de concordar: ele não confere a ninguém o poder de "fazer juízo estético" -mas imediamente afirma que a paisagem da Pres Vargas se tornou mais interessante após a construção da passarela.
    Reivindica que a ponte do metrô da Barra dê identidade ao lugar, que seja única,criativa.
    Prezado Rodrigo, o que é isso senão juizo estético?
    Pois eu defendo o juizo estético, o econômico, o ético, o funcional, entre outros.
    Concordo com o André e com o Washington quanto à impropriedade das novas intervenções do metrô -sob o ponto de vista estético e quanto aos demais também.
    Mas, aí, já o assunto demandaria mais tempo e espaço.
    Parabéns ao Washington Fajardo pelo "Manifesto".
    Sérgio Magalhães

    ResponderExcluir
  3. Quando postei o comentário, imaginei que talvez não seria bem compreendido, talvez devesse ter escrito um pouco mais para explicar porque não acho que esteja sendo incoerente ou fazendo "juízo de valor estético".
    Ao afirmar que a paisagem ficou mais interessante, não defendi que ela tenha se tornado mais ou menos "bela", o que se configuraria de fato em um julgamento de valor estético, como é o caso quando utiliza-se o termo "horrenda". A paisagem se torna "interessante" pois reflete o dinamismo da cidade e as suas necessidades de conexões de uma maneira pouco usual ou óbvia, o que não acontece na área do "cebolão" onde diversos viadutos se cruzam em um grande emaranhado de concreto armado. Ou seja, estou ressaltando as características concretas do projeto (o uso de um desenho original, e o fato de que um elemento de grande porte com um design diferenciado contribua para a criação de uma identidade do espaço urbando onde está inserito são de comum acordo entre todos os observadores, independente de "gostar" ou "desgostar" dos projetos). Assim, repito, ao dizer que determinado objeto seja único, criativo etc.. , não faço nada mais que ressaltar suas características intrínsecas, e isso poderia ser feito por qualquer um de nós. Professor Sérgio, você discorda que a passarela, a ponte estaiada do fundão ou a nova ponte do metrô da Barra possuam essas qualidades?
    Agora, o que me incomoda de fato, são expressões como "coisa horrível" utilizada na matéria do jornal "O Globo". Por que "coisa horrível?". Como esse termo se justifica? Defendo que todos tenhamos o direito de ter as nossas opiniões pessoais, isso é básico, mas o que estou tentando fazer é chamar atenção para determinados elementos que não dizem respeito a opiniões pessoais e ressaltar que esses projetos possuem sim os seus méritos.
    Em suma, vocês possuem todo o direito de achar as intervenções "horrendas", mas isso nunca será uma verdade absoluta e não elimina as qualidades das mesmas.
    Respeitando as opiniões de todos e agradecendo a oportunidade de me manifestar a respeito do assunto,
    Rodrigo Abbade

    ResponderExcluir
  4. Por que "coisa horrível"? Caro Rodrigo Abade, não sei qual é a sua formação, nem a lógica que formula o seu pensamento, mas como Arquiteto e Urbanista, a única certeza que tenho é que minha opinião é exatamente o contrário da sua.
    O que faz com que ela seja horrenda, é a proporção entre os elementos projetados, são as linhas de composição, a relação entre os cheios e vazios, a maneira como o elemento projetado se insere na paisagem, o desrespeito pelas pré-existências do local, a falta de um embasamento teórico-conceitual que justifique a solução formal. Sinceramente se eu pudesse jogar ela na privada e dar descarga, eu faria com muito orgulho, pois se tem uma palavra que define bem essa ponte estaiada essa palavra não é horrenda ,e sim MERDA.
    Quando cita “Assim, repito, ao dizer que determinado objeto seja único, criativo.” tenho a certeza que você está completamente equivocado. O que faz com que um objeto seja único, é o fato dele não se repetir em lugar nenhum. Se tal ponte fosse executada, ela poderia ser única em nossa cidade, mas não seria única no Brasil, já que São Paulo e Natal contam com suas pontes. Também não seria única como ponte estaiada, pois assim como São Paulo e Natal existem diversos exemplos pelo mundo. Criativa se fosse autêntica como o desenho da Puente de La Mujer, projetada por Santiago Calatrava em Buenos Aires. Um bom projeto depende da capacidade do seu autor ou da equipe que o concebe, se for preciso ele tem que ser revisado vinte, trinta vezes até que fique bom. Não é o primeiro croqui esboçado que deve ser executado, tudo pode melhorar. Assim como os exemplos do Centro, a ponte da Barra não chega a ser medíocre, ela é muito pior que isso. As passarelas mais belas do Rio são as do aterro, projetadas por Reidy. Ao invés de se tornarem uma cicatriz como as intervenções do metro, elas se integram à paisagem, são elementos com ótima funcionalidade e, sobretudo simples. Sem vaidade, sem a necessidade de se tornar um marco, mesmo assim com uma grande qualidade estética. Reidy foi único e criativo, pois até hoje não vi em lugar nenhum uma passarela como a dele.
    Gostaria de pedir desculpas a todos as pessoas que acompanham esse blog por usar um termo de baixo calão, mas eu estou me sentindo completamente revoltado com tudo que tem acontecido em nossa cidade nos últimos anos, a verba pública tem sido mal aproveitada em projetos que ao invés de contribuir para o desenvolvimento da cidade, agravam cada vez mais o quadro social. São eles: Cidade da música, Parque olímpico na Barra, Transoeste, Transcarioca, e o metro na Barra. Tais projetos não estimulam o desenvolvimento das áreas mais necessitadas e carentes da cidade, como a região central e o subúrbio carioca. Desenvolver somente o bairro mais novo da cidade, também significa subdesenvolver as áreas mais pobres, o que faz com que a qualidade de vida da “cidade inteira” piore. A desigualdade social aumenta, a violência urbana se potencializa. Bairros importantes como Rio Cumprido, Benfica, São Cristóvão, Penha estão completamente largados. As calçadas do Centro estão complemente esburacadas. Onde está o amor e o carinho com as áreas mais importantes da história da cidade. Afinal de contas que hierarquia é essa onde investimento público é destinado somente para uma pequena parte da cidade. Está tudo completamente errado.
    Minha geração terá uma grande dificuldade para reverter esse quadro, mas a preocupação do momento é a ponte estaiada. Sugiro que os jovens arquitetos se unam para impedir a construção dessa ponte.

    Parabéns pela postagem André, grande tema.

    Eduardo Baptista Xavier

    ResponderExcluir
  5. O debate pegou fogo, com a nota postada por André Luiz Pinto, sobre as obras do Metrô, que recebeu vários comentários. Evidencia o interesse/amor pela arquitetura e pela cidade. Elas apaixonam, nos fazem exaltados. Mas quem não há de?
    Penso que o comentário do Eduardo Xavier é fundamentado lá nas entranhas éticas que justamente constroem a paixão pela arquitetura. Sem elas, não vale a pena. Brigamos, então, para que a obra de arquitetura seja íntegra, firme, tenha juízo de valor. Acho que também esse é o propósito do Rodrigo Abbade. Por isso, felicito os dois pelo embate.
    Posso concordar com o Rodrigo que o termo “horrível” pode não expressar todo o juízo sobre determinada obra. Assim como o termo “belo”, que ele também condena. Mas pelo fato de não expressarem todo o juízo não quer dizer que sejam inadequados, ou que sejam desprezíveis. Podem ser insuficientes.
    Nos diz o Houaiss, sobre “horrível”: “muito ruim ou desagradável; horroroso, péssimo.” Para mim, tais categorias podem ser referidas a uma obra arquitetônica. É pena, se merecedoras. Gostaria que o mundo fosse somente feito de coisas belas, lindas. Mas sei que não é assim. Por isso, formamos nosso juízo estético em gradações.
    Contudo, uma crítica de arquitetura não deverá se ater apenas a essa síntese estética. Outros elementos precisam ser considerados.
    É o que tanto o Rodrigo Abbade como o Eduardo Xavier fizeram em defesa de seus pontos de vista.
    O que o André Luiz Pinto chamou por “horrenda”, também, pelo Houaiss, é “extremamente feio, pavoroso, hórrido, horrivel”, entre outras acepções menos gratas... Por mim, vale igualmente.
    É claro que podemos adotar qualquer desses qualificativos para muitas outras avaliações. Uma mulher, por exemplo. Pode ser bela, belíssima, maravilhosa, feia, feíssima, etc. Isto não dirá, nenhum deles, se a portadora de tais predicados será boa, má, atenciosa, grosseira, alta, baixa, educada, mal educada, engenheira, médica, arquiteta, etc. Mutatis mutandi, para muitas outras cositas na vida.

    A nota já está grande, para um blog. Duas observações mais:
    1. O arquiteto Ricardo Villar avaliou a passarela da Presidente Vargas e concluiu que as escadas duplas, em concreto, que lhes servem de acesso desde os canteiros centrais da avenida, constituem-se como verdadeiros pórticos. Nesse caso, os arcos seriam estruturalmente dispensáveis... Vigas convencionais venceriam os vãos, até modestos.
    Foram valores estéticos os invocados para o desenho da passarela, é claro. No caso, porém, de resultado duvidoso: para mim e para outros, resultado ruim; para Rodrigo Abbade e, pelo menos, os responsáveis pela passarela, resultado bom...
    Viva o debate arquitetônico e urbano!

    2. O arquiteto Eduardo Xavier mostrou não haver originalidade na ponte estaiada proposta para o metrô da Barra, e lembrou outros dois exemplos no país. Mas esqueceu outros dois: a ponte sobre o lago, em Brasília, e a ponte, em construção, sobre o canal do Cunha, que ligará a ilha do Fundão à Linha Vermelha, na Maré.
    Se a ponte estaiada da Barra é desejável para que contribua para a identidade da Barra (assim avaliada por Rodrigo Abbade), cuidado: o passageiro pode descer na Maré pensando estar cruzando o canal de Sernambetiba. Isto pode dar confusão.

    ResponderExcluir
  6. Do debate, tirei como boa lição o seguinte: certas obras dão a "cara" à região. Se tal projeto for ofuscar a pedra encantada, estou com a turma que acha horrivel a ponte estaiada. Em brasilia, a nossa ponte estaiada simplesmente ofusca o lago. Mas aqui, terra do Niemeyer, quem liga?

    ResponderExcluir
  7. Talvez se estivesse em outro local não seria tão horrível. Mas fere brutalmente minha sensibilidade na escala com os morros e a desproporção com a delicadeza da natureza ao redor. Uma bosta de arquitetura!

    ResponderExcluir