quarta-feira, 31 de março de 2010

A hora da Terra... E do Céu

Lucas Franco
Em função do movimento contra o aquecimento global promovido pela ONG WWF, Hora do Planeta, ocorrido no último sábado, a revista Vivercidades oportunamente publicou um artigo do arquiteto e lighting designer José Canosa Miguez acerca do tema:
“Uma mobilização denominada Hora do Planeta convidou governos, empresas e a população de todo o planeta a apagar as luzes durante sessenta minutos, às 20:30 hs de sábado dia 27 de março, para demonstrar sua preocupação com o aquecimento global. Ao chamar a atenção para a ameaça das mudanças climáticas, o gesto de desligar a iluminação nas cidades pode servir também para uma maior tomada de consciência da humanidade para o problema da poluição luminosa no céu noturno das áreas urbanas.
A olho nu, dos locais mais remotos do planeta, podemos ver cerca de 5000 estrelas e nos encantar com o fantástico espetáculo do firmamento durante a noite. Porém, nas ruas iluminadas de uma grande cidade, conseguimos com dificuldade perceber menos de uma centena delas.
A poluição luminosa é uma das conseqüências do uso incorreto da luz artificial. É facilmente percebida na noite das cidades pelo brilho amarelado do céu, proveniente das luzes emitidas para o alto por luminárias ineficientes. Estas luzes desperdiçadas se refletem e refratam nas diversas partículas da atmosfera e o brilho daí decorrente impede a visão clara do firmamento ao reduzir o contraste entre o brilho dos astros e o escuro natural do céu noturno.
(...)
Ao modificar o ecossistema pela presença da luz artificial, a poluição luminosa provoca também sérias alterações nos ciclos vitais de plantas e animais, levando a migrações e alterações de seus hábitos noturnos. A cidade de Nova York já desliga as luzes de seus arranha-céus nas épocas de migrações para evitar a enorme mortandade de pássaros - cerca de 1 bilhão por ano nos EUA! - que se chocam com as vidraças dos edifícios, desorientados pela luz elétrica.
(...)"

sexta-feira, 26 de março de 2010

A chance do Rio

 *Editorial do jornal O GLOBO de sexta-feira, 26/03/2010.

Defensores da preservação integral da proposta avalizada pelo Comitê Olímpico Internacional para a realização das Olimpíadas no Rio batem na tecla de que o órgão não aprovaria alterações substanciais no projeto para os Jogos de 2016. O mantra é um código com objetivo certo: manter apenas na Barra da Tijuca os investimentos urbanos prioritários prometidos pela cidade para viabilizar a competição.
Não se discute que, no geral, a Barra oferece ótimas condições para abrigar o mobiliário a ser montado no Rio e, prioritariamente, sediar a maior parte das competições. Mas pelo menos uma experiência anterior, a de Barcelona, muito bem-sucedida por sinal, mostra não só que é possível, mas também recomendável estender os investimentos a outra área da cidade - no caso, a Zona Portuária.
Região com enorme potencial de desenvolvimento urbano, habitacional e de negócios, o Cais do Porto será palco nos próximos anos de profundas, modernizantes e necessárias intervenções. Trata-se de um movimento natural de recuperação de uma cidade que, ao mesmo tempo em que cresce para além dos limites das tradicionais zonas Sul e Norte, por décadas manteve ao abandono uma área estrategicamente importante e economicamente rentável, e com infraestrutura ociosa.
Por que não aproveitar, então, a oportunidade criada com o previsto mutirão de transformações da região e, sem prejuízo para o papel reservado à Barra nas Olimpíadas, redirecionar eventos - como competições indoor nos grandes armazéns do cais - que ajudem a consolidar o movimento de reentronização da Zona Portuária na geografia da cidade? Alterar o projeto original pode ser difícil, mas não impossível.
Em recente seminário promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (cujo presidente, Sérgio Magalhães, defende entusiasticamente a ideia de redirecionar a instalação de equipamentos, da Barra para a Zona Portuária), o arquiteto catalão Jordí Borges lembrou que o projeto original de Barcelona para os Jogos de 1982 sofreu 16 alterações.
É verdade que as mudanças devem ser embasadas em estudos aprofundados, mas vale o esforço. Como observou Borges, "os Jogos trazem uma oportunidade única para o Rio: a de trazer parte das instalações olímpicas para o Centro e melhorar áreas carentes da cidade". O debate não está fechado, e deve ser travado com a mentalidade de quem busca o melhor para o Rio, e não apenas para uma parte do município. Por que não aproveitar a chance?


Leia no Globo on-line

quinta-feira, 25 de março de 2010

En el caso de Rio

Lucas Franco
A Web-TV do CREA-RJ publicou uma matéria repercutindo o seminário "A Olimpíada e a Cidade – Conexão Rio-Barcelona", em particular, a mesa redonda realizada no IAB-RJ na última sexta-feira.
Entre algumas imagens do evento e uma breve descrição dos acontecimentos, vale a pena destacar o depoimento do catalão Jordi Borja, diretor da Universidade Aberta da Catalunha, deixando claro o seu ponto de vista sobre a mudança da localização dos futuros equipamentos e a política de investimentos para os JO-2016, visando é claro, o melhor aproveitamento para a cidade.
Assista aqui à matéria na Web-TV do CREA-RJ.

Cidade, boa memória e Olimpíadas

Eduardo Cotrim
Não haveria exemplo melhor que Barcelona para o Seminário recentemente  promovido e brilhantemente conduzido pelo IAB RJ  e Prefeitura do Rio. Os nomes dos condutores estão implícitos. Sem desprezar outras boas experiências dos Jogos Olímpicos, passados quase 20 anos, o patrimônio edificado e o conjunto de infra-estruturas implantado para as Olimpíadas de 1992  se amalgamou mesmo à cidade catalã de modo irrepreensível.  
É verdade que cada cidade é uma, cada cultura a sua, mas se experiências não ensinassem, estaríamos agora economizando uma série de reais em escolas. Muitos já disseram que certos princípios, como os da álgebra, da geometria, da química, das físicas, da biologia, da astronomia e mesmo do atletismo, têm sido demonstrados independente da multiplicidade das culturas humanas. O mesmo parece acontecer com os fenômenos urbanos e os desenhos das cidades . Sabe-se que também há uma ciência por trás desses fenômenos que regem territórios, construções, pessoas, locomoções e finanças. No caso do Rio, o paradoxo das Olimpíadas na Barra, há muito apontado pelo arquiteto Sérgio Magalhães, pode ser demonstrado por várias maneiras. Vale questionar porque os impostos pagos pela metade exata da cidade, para citar só a Zona Norte, que tem 80 dos 160 bairros da cidade, custeariam tantos investimentos num só bairro, a Barra da Tijuca.  A Zona Norte, somada ao Centro e à Zona Sul abriga 3.670.000 pessoas. As distâncias físicas dessas três regiões, da Barra, são também imensas. Uma cidade não é só formada por legados olímpicos, é verdade, mas tampouco a cidade sede dos Jogos não pode ignorar pessoas, espaços, edificações e transportes. Todos são fundamentais.
Certo que a solução espacial para os Jogos Olímpicos deva ser a melhor, o que não significa que deva ser a mais fácil. Certo também que para aproximar pessoas de espaços, a melhor solução seja o metrô, o que não significa que deva ser o mais caro. O metrô Gávea (17.500 habitantes) – Barra da Tijuca (200.000 habitantes) é importante por causa do engarrafamento de veículos, sobretudo no Leblon e São Conrado, mas como e em quanto tempo têm sido transportados os moradores que diariamente se deslocam da Zona Norte ao Centro? Certo também que no mundo das cidades, os melhores territórios têm sido aqueles que contam suas histórias, os melhores sistemas de transporte têm sido aqueles que atendem ao maior número de cidadãos e as melhores Olimpíadas têm sido aquelas que todos se lembram, de boa memória.

domingo, 14 de março de 2010

A Olimpíada e a Cidade – Conexão Rio-Barcelona


O IAB-RJ, em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro e com o PROURB/FAU-UFRJ, está promovendo o Seminário A Olimpíada e a Cidade –Conexão Rio-Barcelona, que se realizará nos próximos dias 18 e 19 de março.
Ele é o primeiro de uma série de Seminários que promoveremos e que objetivam conhecer e divulgar experiências relacionadas aos Jogos Olímpicos como instrumento de desenvolvimento das cidades-sedes.
Como sabemos, Barcelona aproveitou a realização dos Jogos de 1992 e os transformou, para além de evento esportivo, em poderoso aliado na sua grande transformação urbana, que ainda hoje é uma referência mundial.
No nosso caso, a questão-chave que orienta a organização do seminário é: como o Rio pode melhorar o legado olímpico a partir da experiência de outras cidades que sediaram os Jogos?
A Olimpíada e a Cidade – Conexão Rio-Barcelona  terá duração de dois dias, envolvendo palestras e debates com personalidades que tiveram papel de destaque na construção do projeto olímpico da cidade de Barcelona e estudiosos do tema olímpico e urbanístico.
Dia 18: Palácio da Cidade (painéis)                                                                                                             
Dia 19: sede do IAB-RJ (mesas redondas)                                                                                                             
Dia 19: sede do IAB-RJ – inauguração da Exposição Exemplos Urbanísticos e Olimpíadas.
Em vista da restrição de lugares, pedimos que as inscrições se façam antecipadamente: secretaria@iabrj.org.br ou conexaoriobarcelona@gmail.com

Fantástica reflexão

Lucas Franco
No último domingo, o Fantástico apresentou a continuação de uma interessante reportagem, que mostrava um falso e polêmico lançamento imobiliário, aonde se pretendia construir um edifício residencial em cima de cinco cartões postais brasileiros.
Melhor ainda, foi a matéria apresentada em seguida: uma especulação de como seria a paisagem brasileira se algumas cidades fossem reconstruídas segundo a legislação vigente. A reportagem contou com a opinião de diversos presidentes do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), inclusive o da cidade do Rio de Janeiro, Sérgio Magalhães, que concluiu:
“A cidade é o conjunto de todos nós. Do nosso uso, da nossa vida e da nossa memória. Cada vez que se destrói um pedaço dela, cada um de nós é atingido”.
No dia do programa, a bela apresentadora Patrícia Poeta ainda aproveitou para emendar:
"Taí uma boa frase para a reflexão."

Veja aqui: Construções que desafiam a Natureza se espalham pelo Brasil

quarta-feira, 10 de março de 2010

Olha o Centro aí, gente!

Sérgio Magalhães

Na estimativa do Comitê Olímpico Internacional –COI-, a zona Centro-Maracanã receberá 53% do público que assistirá aos Jogos de 2016. Apesar dessa zona sediar apenas 13% das modalidades, ela será a mais visitada de todas. Em contraste, a Barra, que no projeto apresentado ao COI sediará 47% das modalidades, receberá apenas 24% do público.

Estes números foram apresentados oficialmente pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro –COB-, Carlos Arthur Nuzman, e divulgados hoje pela Folha de São Paulo. Na ocasião, Nuzman afirma que transferir a Vila da Mídia, em parte, para a Zona Portuária do Rio é positivo, pois melhor atenderá ao interesse dos jornalistas.

Estas informações são preciosas para o esforço no sentido de garantir que a Olimpíada seja benéfica ao conjunto da cidade, que os investimentos públicos sejam feitos equilibradamente na proporção das necessidades da população.

Antes, já sabíamos que a minoria dos atletas é que competirá na Barra: 54% dos atletas utilizarão equipamentos localizados em outras regiões da cidade (Sul, Centro e Deodoro) onde se realizarão suas modalidades esportivas respectivas. O argumento concentrador dos investimentos na Barra se enfraquece.

Agora, sabemos também que o público majoritariamente estará no Centro-Maracanã-Engenhão, isto é, na Zona Norte suburbana, área tão degradada da cidade, que precisa ser revitalizada, e no próprio Centro, que tem enfrentado uma desleal competição de enfraquecimento de sua centralidade metropolitana.

A Zona Portuária como foco olímpico começa a adquirir consistência. Os investimentos em transporte público de qualidade nos corredores suburbanos, sobretudo pela transformação dos trens em metrô, passam a ser, também, uma exigência para o sucesso de 2016.

Veja a matéria da FSP: Maracanã polariza público da Rio-2016

segunda-feira, 8 de março de 2010

Projeto Design entrevista

Lucas Franco
O portal ARCOWEB acaba de publicar a entrevista que o arquiteto Sérgio Magalhães concedeu a revista de arquitetura Projeto Design. Em pauta, o debate público sobre os equipamentos olímpicos a serem construídos no Rio de Janeiro:


"Se os investimentos forem canalizados para a Barra, a região central será enfraquecida de vez. É um conflito estratégico no desenvolvimento do Rio de Janeiro nesse momento, algo que nenhuma cidade contemporânea se deu o luxo de enfrentar."

“Dói o coração ver uma cidade como o Rio enfrentar um desafio como a Olimpíada com tamanho grau de mediocridade em suas expressões arquitetônicas. Não é possível desenvolver o esforço coletivo e aplicar recursos vultosos para isso.

Confira aqui a entrevista completa.

domingo, 7 de março de 2010

E as cidades, presidente?

Sérgio Magalhães
No ano 2000, a mais de dois anos do término de seu mandato, o presidente FHC recebeu uma pequena comissão liderada pelo então prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, para conversar sobre a questão urbana brasileira.
Fernando Henrique disse considerar uma falha de seu governo não ter tratado convenientemente o tema das cidades, que lhe parecia assunto que seria cobrado na próxima campanha eleitoral. E que o Brasil teria que se dedicar, nos próximos anos, a enfrentar as desigualdades intraurbanas, o saneamento, a habitação, o transporte. Enfim, o presidente conhecia as imensas carências do sistema urbano brasileiro. Não tratara no curso de seu mandato por que? Por certo, outras prioridades prementes tomaram a sua atenção.
Hoje FHC, em artigo publicado hoje, traça uma espécie de ideário para os próximos anos: depois de 25 anos de democracia, é hora de ‘buscar um futuro melhor para todos’. Discorre sobre mercado internacional, controle da inflação, economia em geral; tamanho do Estado; saúde, educação, reforma agrária, salário mínimo, poupança, sistema eleitoral, segurança pública, energia, biodisel, etc, etc.
No entanto, nem uma palavra, nem uminha só, sobre as cidades e os problemas urbanos!
Nas cidades moram mais de 150 milhões de brasileiros. Nas grandes cidades estão as maiores desigualdes sociais do país. Os brasileiros gastam tempo e vida em transporte inadequado, insuficiente, bandido. As condições sanitárias são um descalabro ambiental e social. Falta política habitacional que universalize o crédito. Enfim, tudo isso que FHC já sabia há dez anos. Nada disso foi resolvido de lá para cá.
Essas coisas não se resolvem por mágica. Precisam entrar na pauta política. Se não foi possível no mandato de FHC, tampouco no de seu sucessor, por que, hoje, no ideário que faz para os próximos anos, o tema continua ausente?

ver artigo FHC: "A hora é agora"

sexta-feira, 5 de março de 2010

Lançamentos imobiliários Fantásticos

André Luiz Pinto
São situações hilárias as relatadas em reportagem do Fantástico, no último domingo. Verdadeiras ´pegadinhas imobiliárias´.
Deixo a quem tem conhecimento as interpretações psico-sociológicas que possam ser feitas, a propósito de pessoas interessadas na compra de apartamento mesmo reconhecendo o absurdo da proposta, desde que possam desfruta-la.
Destaco outro aspecto: a baixa qualidade do projeto do edifício ¨à venda¨. Um repositório de lugar comum, com direito inclusive a frontões –não um, mas quatro!
Como os lugares escolhidos são espetaculares, o que se vende é o desfrute da paisagem e do bem comum. O imóvel, em si, pode ser qualquer. O mais medíocre possível.
Isto evidencia quão difícil pode ser a vida dos arquitetos cariocas –ou dos que trabalham em lugares onde as condições naturais-ambientais sejam tão determinantes. Não lhes sobram espaços para o convencimento pela qualidade do projeto. O lugar leva tudo de roldão.

Veja a reportagem do Fantástico

segunda-feira, 1 de março de 2010

Porque a favela não é a cores - uma hipótese de origem

Eduardo Cotrim
Ainda que se entenda o discurso de muitos teóricos e lideranças de movimentos sociais, de que a favela tenha se tornado um lugar de resistência cultural, termo bastante expressivo, mas que infelizmente, nem sempre é bem explicado, por outro lado, não é possível sustentar que durante os últimos cem anos do Rio, a procura pela favela tenha sido uma espécie de opção, entre algumas que se apresentavam, por parte dos cariocas vindos ou natos.
Fato é que as favelas, no Rio, como nas demais cidades brasileiras, cresceram à revelia das iniciativas ou políticas nacionais de habitação, que, salvo alguns hiatos na linha do tempo, foram várias, importantes, volumosas e financeiramente significativas para o país. Mas por que as favelas se expandiram, se os agentes financeiros foram tantos e sucessivos, como a CAP, Caixa de Aposentadoria e Pensões, que deu lugar às CAPs, estas aos IAPs,  Institutos de Aposentadorias e Pensões, seguidos pelo BNH, pelas Companhias Estaduais de Habitação, pela Caixa Econômica Federal e pelas redes de bancos privados associadas ao sistema financeiro público?
Entende-se ao menos parte do motivo. Do público alvo destes antigos programas, não constavam os não-assalariados, os não-portadores-de-contra-cheque, nem os pobres chegados das fazendas de café e açúcar, que sequer tinham o sonho da casa própria, porque precisavam apenas de um telhado. Além de tudo, a moradia a cores, tem sido, histórica e exclusivamente, objeto de compra e venda, através de repasses de financiamentos do agente construtor para o morador. Não havia até então outra fórmula.
O Rio esperou finalizar o século XX  para criar um programa com casas subsidiadas, o Morar Carioca e o próprio Favela-Bairro, que interveio em mais de uma centena e meia de comunidades pobres, das quais o arquiteto Sérgio Magalhães tem mais autoridade para falar. As intervenções foram estruturais. Do Brasil, logo veio o programa de aluguel social e inicia o século 21 com o programa Minha Casa Minha Vida, que merece amadurecimento no plano de algumas condições urbanísticas, mas inclui famílias com renda de até 3 salários mínimos, algumas delas sem orçamento para alugar, hoje, uma casa no Vidigal, no Santa Marta ou na Tavares Bastos.
Em 1947, nos idos da construção do Pedregulho de Reidy, tido na época como habitação proletária, e era de fato, o Rio possuía 105 favelas, com 140.000 moradores. A população residente em favelas nessa época correspondia a 7% da população da cidade, que tinha os seus 2.000.000 de habitantes. Eram números desconcertantes para explicar. Em 2001, essa população passou a representar 19 % da cidade, ou seja, dos quase 6.000.000 moradores da cidade, 1.100.000 já residiam em favelas.
A primeira iniciativa de habitação subsidiada no Rio, provavelmente, tenha sido a Vila Operária da Avenida Salvador de Sá, construída em 1906, para a moradia dos operários que abriram a própria avenida, merecidamente. De lá para cá, sendo cá um tempo muito recente, não houve, no Rio, nem no Brasil, um só aceno dos poderes públicos às famílias constituídas com renda informal. O aluguel subsidiado não existia também, como forma de oferta de moradia e as iniciativas que, eventualmente, haviam eram pontuais, operadas por pessoas ou instituições, embora em países do velho mundo, como a França, o aluguel subsidiado pelo Estado, já existisse desde 1894.
Não faz sentido exigir no Brasil de hoje, que os tempos de ontem dêem uma solução, mas se as favelas se formaram como a única alternativa das famílias sem oportunidades de moradia regular, faltaram alguns exemplos de iniciativas dirigidas, que fossem apenas para algumas poucas famílias recém egressas das relações de trabalho escravo, lá na Princesa Isabel do final do século XIX. Faltaram, igualmente, iniciativas dos primeiros republicanos inspirados nos ideários positivistas, como dos segundos, dos terceiros e até aqui, boa parte dos novos republicanos.
Por fim, ainda é plenamente possível defender a hipótese da estética-ética do inacabado, mencionada no interessante artigo Banho de tinta, banho de “civilização” ?, mas a confirmação dessa hipótese não destruiria a outra, de origem – a de que a sociedade que se auto-proveu de moradia, não pensava a cores.