quarta-feira, 20 de junho de 2012

China vai construir uma cidade do tamanho do RJ e SP por ano até 2033

No último século, a população da Terra teve um crescimento absurdo. Quintuplicou e chegamos aos 7 bilhões de habitantes. Mas será que tem espaço para todo esse mundaréu de gente morar com dignidade?

Link para a reportagem na página do Fantástico:

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Como é difícil - Crônicas Agudas


REVISTA  AU   Edição 219 | Dezembro/2011
Por Sergio Teperman
Quanto mais uma pessoa influencia você na vida, mais você a menciona em conversas, conferências, artigos e tantas outras coisas. Se esse é o caso, a maior influência que tive na vida, para o bem ou para o mal, foi o mestre Vilanova Artigas (90% para o bem e 10% nem para o mal e nem para o bem).
Esta é, portanto, uma das únicas vezes em que citarei Artigas em uma situação, digamos, dúbia. O mestre sempre dizia que os arquitetos não deveriam se meter nos feios aspectos comerciais da construção.
Poucas vezes em minha existência algo influenciou e me fez tão mal quanto essa frase.
O prejuízo que os arquitetos e, consequentemente, a arquitetura brasileira tiveram com essa atitude do tipo "não se envolver" é incomensurável. O que deixamos de conhecer sobre detalhes, formas de construir, preços, custos nas obras tanto nos prejudicou que levou os arquitetos àquela pecha de sonhadores sem pé no chão e o resto dessa conversa fiada.
O prejuízo que os arquitetos e, consequentemente, a arquitetura brasileira tiveram com essa atitude do tipo "não se envolver" é incomensurável
Quando eu estava no terceiro ano da FAUUSP, recordo-me perfeitamente que meu pai, com o brilho nos olhos que lhe era peculiar, disse na mesa do jantar: "filho, vou te dar um serviço". E continuou... "você sabe aquele imóvel onde está a nossa farmácia? Você vai transformar as fachadas."
Meu pai e um sócio eram proprietários de um dos pontos mais famosos da cidade. A Farmácia Municipal ficava na esquina das ruas Barão de Itapetininga e Dom José de Barros, equivalente hoje, digamos, à Gabriel Monteiro da Silva com a Faria Lima.
"Nós vamos transformar a farmácia em várias lojinhas e já temos a planta; eu gostaria que você desenhasse as fachadas do conjunto." O engenheiro foi quem desenhou as plantas. Para que? Caí matando em cima do meu super e bem intencionado pobre pai: "Pai, eu sempre jurei que não ia desenhar fachadas para projetos de terceiros", naturalmente influenciado pelo velho Artigas. Meu pai ficou chocado, tristíssimo, como se fosse um criminoso e eu, natural e orgulhosamente, recusei o serviço. Que burrice!
No ano seguinte, um pouco mais experiente, menos estudante, menos burro, recebi uma nova incumbência do meu pai: desenhar com um grupo de colegas as perspectivas de apresentação do hospital Albert Einstein, do qual meu pai era um dos médicos fundadores e que tinha até me levado para ver o terreno onde construiriam o hospital. Vi então que não era nenhuma vergonha desenhar perspectivas das fachadas projetadas por outros arquitetos, no caso, o extraordinário Rino Levi, e aprender um pouco com ele e ganhar algum dinheiro.
Vejo agora com enorme alegria a mudança de mentalidade dos arquitetos sobre os aspectos gerais da construção, naturalmente incluindo os comerciais. Com maior satisfação ainda vejo arquitetos construindo galpões para alugar, tocando obras, vendendo materiais de construção, enfim, participando de todas as áreas e de todos os aspectos dessa enorme atividade que é a construção em nosso País. Por outro lado, impressiona-me mais ainda a coragem dos arquitetos empreendedores que constroem edifícios de apartamentos ou escritórios para venda. Sei que o resultado dessas obras será sempre muito superior à média da construção imobiliária e que essas edificações só trarão mais beleza às nossas cidades.
Fico pensando no passado longínquo, quando não havia essa tosca divisão entre os arquitetos, projetistas e construtores. O mal de décadas de erros nesse conceito nos levaram à criação das faculdades de arquitetura totalmente dissociadas da realidade da construção civil. Sei que em muitos países também persiste essa besteira da separação de atividades, mas não é por isso que devemos copiá-los. A arquitetura não fica em nada diminuída com os próprios arquitetos empreendendo e construindo suas obras.
Fico pensando naquele grupinho de arquitetos que um dia sentou, começou a sonhar alto, e se pôs a desenhar, comandados pelo genial Rino Levi e projetaram um edifício-ícone da arquitetura brasileira: o prédio do Instituto dos Arquitetos do Brasil, à rua Bento Freitas, em São Paulo. Aí se instalaram, nos diversos andares, escritórios de arquitetura e em alguns deles o próprio Instituto dos Arquitetos; a loja térrea foi alugada para que meu primo Milly Teperman ali se instalasse, para exposição e venda da famosa linha Herman Miller. A loja tornou-se em pouco tempo o ponto de encontro dos arquitetos em São Paulo. Se aquele grupo de malucos nos anos 50 empreendeu essa obra, que mal havia com o aspecto comercial da construção?

Cuidados e possibilidades.



por Mauro Osório
O jornal Estado de São Paulo publicou interessante Editorial sobre consequências sociais de investimentos em infraestrutura, em favelas.
O Editorial aponta que, “nos últimos sete anos, União, Estado e Prefeitura investiram R$4,5 bilhões na urbanização de favelas em São Paulo”, com óbvias consequências positivas.
No entanto, alerta que pode ocorrer o que alguns pesquisadores denominam “remoção branca”. Isto porque as melhorias geraram uma valorização dos imóveis nas favelas urbanizadas em torno de 900%, contra uma valorização na cidade como um todo, de imóveis com em torno de 50 e 100 metros quadrados, que não ultrapassa 75%.
Além disso, o Editorial aponta que: “As melhorias acarretam custos que antes não faziam parte do orçamento doméstico. Os moradores de favela urbanizada passam a arcar com gastos de água, luz e esgoto, que antes os gatos e as gambiarras evitavam. Em Paraisópolis, no Morumbi, mais de duas mil famílias receberam os títulos de propriedade de seus imóveis e com ele veio o carnê do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), uma despesa não prevista, que fez boa parte dos novos proprietários optar pela inadimplência ou pela migração para a periferia”.
O Editorial alerta ainda que: “Às pessoas retiradas dos imóveis irregulares, a Prefeitura paga de R$5 mil a R$8 mil, para que encontrem outro local para morar. Isto não é suficiente para adquirir imóveis em favelas urbanizadas, o que estimula a formação de novos núcleos irregulares, cada vez mais distantes do centro da cidade”.
O Editorial conclui afirmando que: “É preciso, portanto, repensar a maneira de tratar esse problema”. Afirma que um exemplo de conter a migração para a periferia foi “a parceria público/privada lançada pelo Governo do Estado – a primeira na área habitacional no país – para construção de 10 mil moradias populares no centro de São Paulo. De acordo com o projeto, 90% dessas unidades serão destinadas a famílias com renda de até cinco salários mínimos e o restante para aquelas que recebem até dez salários mínimos”.
Sobre o assunto, me lembro de texto que li recentemente, em que se afirmava que uma cidade integrada é mais inovadora e que uma cidade segregada territorialmente gera mais conflito.
Me lembro também de frase do Carlinhos Brown que afirma que nunca tinha sido pobre só não tinha dinheiro. Ou seja, morava em local culturalmente diversificado e rico.
Voltando ao Rio de Janeiro, por que não darmos prioridade à instalação de habitações populares na zona central e portuária, onde a maior parte dos terrenos são públicos?
Deve-se lembrar ainda que, pela mudança do padrão demográfico nas principais metrópoles mundiais, hoje, as políticas urbanas procuram adensar as metrópoles e não expandi-las. Isso reforça mais ainda a necessidade de buscar priorizar habitações populares na AP-1 (central e portuária) e AP-3 (zona suburbana).

segunda-feira, 11 de junho de 2012

David Harvey interview - the Guardian


André Luiz Pinto
David Harvey, geógrafo britânico (Cambridge) professor da City University of New York, trabalha questões ligadas a geografia urbana e foi entrevistado pelo The Guardian onde afirma que o capitalismo do pós-guerra pode ser compreendido tendo como referência à história da urbanização e da suburbanização. Argumenta que o investimento urbano permite um impulso para sair da crise, mas ao mesmo tempo define como será a próxima crise, dando como exemplo as potências emergentes do leste que estão agora no meio de um projeto de urbanização maciça que as transformarão em vítimas do mesmo processo.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

a cidade e a imperfeição


Sérgio Magalhães
*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo de 02/06/2012

“a obra-prima no futebol e na arte tem de ser imperfeita."

Neste século 21, felizmente!, não temos as varinhas mágicas que pensávamos possuir, e que transformariam a realidade segundo nosso ponto de vista. Típicas do modernismo, elas diziam que tudo seria perfeito. No urbanismo, buscávamos desenhar a cidade que fosse o berço da nova sociedade igualitária. Nós nos iludimos que alcançaríamos o modelo de cidade perfeita.

É próprio da perfeição reconhecer-se como única: tudo que dela seja diferente será imperfeito. Assim, sob um manto idealizado, constrói-se a intolerância e justifica-se o preconceito. Logo, o que desafiasse o modelo ideal de cidade precisaria ser rejeitado.

Escreveu Nelson Rodrigues em uma de suas crônicas: "Enquanto o Fluminense foi perfeito, não fez gol nenhum. A partir do momento em que deixou de ser tão Flaubert, os gols começaram a jorrar aos borbotões, pois a obra-prima no futebol e na arte tem de ser imperfeita." Essa frase foi lembrada por Arnaldo Jabor, recentemente, no Globo, com o seguinte comentário: “Existe coisa mais ‘contemporânea’?”

Com a mudança de paradigma, nossa contemporaneidade passa a admitir a “imperfeição”, isto é, aquilo que é diferente do modelo idealizado. O urbanismo incorpora a diversidade espacial como valor. Não mais uma só forma urbana –a da perfeição, mas tantas quantas as condições específicas, históricas, geográficas e culturais promoverem. A multiplicidade morfológica certamente será uma riqueza das cidades.

Contudo, se a perfeição não é mais um objetivo, as enormes desigualdades intra-urbanas precisam ser superadas com a conquista da equidade. Em que cidade? Aquela que se preserve como lugar do encontro e das trocas sociais, que reconheça as preexistências ambientais e culturais e com elas construa o seu futuro.

Neste nosso tempo, precisamos partir do esforço coletivo que desassombrosamente construiu nossas grandes cidades, seus núcleos e suas periferias, seus bairros, seus loteamentos, suas favelas. E, a todos, conferir-lhes as condições de plena cidadania.

Os valores cívicos da consolidação da democracia não são algo autônomo, à parte da vida prática. Tampouco o reconhecimento dos direitos cidadãos se esgota na garantia da diversidade religiosa, étnica e sexual. Para além dessas conquistas se inserirem no âmbito da Constituição, elas se desdobram na construção do espaço onde vivemos. O direito à cidade é consubstanciado na possibilidade de convívio pleno do espaço público, da interação, e, igualmente, em adequadas condições de mobilidade, de habitação e de prestação dos serviços públicos, inclusive o de segurança, indistintamente, a toda a população.

A urbanização das favelas consolidadas, que se mostram como história e cultura há gerações, é outra das faces positivas deste novo tempo de fortalecimento da cidadania na diversidade. Assim, passou a ser possível identificar nas favelas qualidades até então obscurecidas e enfrentar seus efetivos e enormes problemas de outro modo, que não a remoção. Não mais uma só perfeita obra-prima, inalcançável por definição; mas uma obra coletiva de plena vida.

Urbanizar tais assentamentos envolve uma metodologia sofisticada, criada e desenvolvida em trabalho compartilhado entre arquitetos, governo, moradores, profissionais de outras especificidades e construtores. Esse compartilhamento, em si, já se expressa como uma obra dos tempos atuais. Tem dupla fundamentação urbanística, aparentemente paradoxal: promover as condições urbanas exigidas pela contemporaneidade e o reconhecimento das preexistências ambientais e culturais.

Sendo a questão comum às grandes cidades brasileiras, esse processo de urbanização tem tido desenvolvimento em muitas delas. No caso do Rio, tal trabalho acaba de receber mais um reconhecimento internacional: o prestigiado prêmio City to City Barcelona FAD Award 2012. Ele foi conferido à cidade do Rio de Janeiro pelo governo da Catalunha e pela cidade de Barcelona conjuntamente com a organização espanhola “Fomento das Artes e do Projeto”. A justificativa do prêmio FAD 2012 é pelo programa de urbanização de favelas que a cidade vem desenvolvendo desde os anos 1990. O júri o considerou “referência mundial de política urbana, processo que tem convertido o Rio em uma cidade mais justa e equitativa”. E especificando: “a melhor iniciativa de melhora urbana internacional”.

Neste século 21, os objetivos são maiores do que aparentam. Já não satisfaz a busca da cidade da perfeição, que leva à paralisia e à intolerância. Agora, desejamos a obra-prima (imperfeita) que faz jorrar aos borbotões os gols de uma vida urbana democraticamente qualificada.