segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pegam os bichos os Arquitetos?

Eduardo Cotrim
A motivação dos Arquitetos com os assuntos da Cidade, aparentemente tem se demonstrado bem maior que aquela provocada pelos velhos temas específicos da categoria. Retiro agora o aparentemente porque, de fato, essa motivação da classe pelos desafios do Rio tem reconhecimentos que extrapolam os do nosso círculo profissional.

Os Arquitetos estão na imprensa, planejadores do mundo têm vindo conversar conosco, instituições pedem concursos, o Governador do Estado surge no IAB para a comemoração dos seus 90 (e respectivamente 48) anos, o Prefeito veio à casa quase no dia seguinte para orientar e diplomar as equipes vencedoras do Morar Carioca - no meu ponto de vista, também um claro sinal de que há muito deixaram de ser partidos para serem Governador e Prefeito. Falta ainda nossa Presidenta ou uma(m) Ministra(o) sua(eu) no IAB, mas isso, quem sabe, pode ser só uma questão de tempo delas.
Enfim, os ventos são favoráveis. Há claramente uma sinergia e chegaremos lá, mas por outro lado, as responsabilidades crescem, e aí o bicho pega ou pode querer pegar. Sabe-se que há sempre um à espreita que se nutre das boas iniciativas e dos bons momentos. Para o bicho, não importa a que vieram as iniciativas e quais são os bons momentos. Ele quer pegar e pronto. A coisa está andando? O negócio está indo? O bicho está lá.
Mas onde o bicho pega? Em geral, nas coisas nada significativas e naquelas fundamentais, tanto faz para ele. No nosso caso, entre as coisas insignificantes, ele pode pegar nos desenhos, quando forem mais assim ou mais assado, o que se sabe bem rebater. Entre as fundamentais, provavelmente nos conceitos dos projetos. Mas pelo que demonstram os últimos concursos, foi principalmente esse item que amadureceu.
Admite-se que os primeiros projetos do Rio-Cidade, do Favela-Bairro, sobretudo nesses programas, vimos uma espécie de jato de vapor de uma panela de pressão sob intenso calor. Isso se explica, porque não havia até aí inclusão dos arquitetos e urbanistas da Praça do Rio, nos planos municipais. Talvez desde Pereira Passos. O momento parecia ser o de revelar, mesmo que involuntariamente, os Arquitetos das Arquiteturas, os Bairros dos Urbanistas, enfim, a panela estava quente há muito tempo...
Até então, por outro lado, os governantes não enxergavam que a cidade também era um aparato que entrelaçava espaços, identidades de espaços e carências de bons espaços. O desenho não existia para além das normas de zoneamento e tabelas de usos e atividades. As favelas tampouco.
O Rio de Janeiro, que de fato expõe como unitária as diferentes culturas do país, para nós e para o mundo, tem sido, apesar de tudo, uma espécie de referência de exemplos urbanísticos e onde surgem e ressurgem Arquitetos.
Concluindo. Se a compreensão do lugar estiver acima da sua invenção e se o desenho for além da obra pronta, o bicho pode querer... mas não pega.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Uma homenagem à militância da Rocinha

Marat Troina
O último dia de São Sebastião foi ainda mais especial para o Bairro da Rocinha.
Pela manhã, estiveram presentes o Prefeito da Cidade, Eduardo Paes, e Subsecretária de Saúde, Anamaria Schineider, entre outras autoridades públicas, para a reinauguração do Posto de Saúde Albert Sabin, ampliado e reformado.
Longe de ser “só obra”, o gesto corrobora os esforços da Prefeitura que, associada aos Governos Estadual e Federal, pulou de uma unidade no bairro em 2008 (somente o Albert Sabin) para três em 2011! Com o novo posto de saúde localizado no Edifício Rinaldo de Lamare e o amplo Centro de Saúde, que inclui uma UPA, construído pelo PAC na Estrada da Gávea.
O aumento de instalações de qualidade e de profissionais da saúde, constituindo 25 Equipes de Saúde da Família, tem tudo para alcançar a meta de atendimento 100% na Saúde Básica. Meta ousada, com pessoas aguerridas envolvidas. Vamos acompanhar.
----
Á tarde, o G.R.E.S. Acadêmicos da Rocinha desfilou na Rua Quatro, algo IMPOSSÍVEL até dezembro de 2010. A obra recuperou as dimensões da rua projetada em 1925 que, pelas sucessivas subdivisões dos lotes e pelo avanço das construções sobre o logradouro público, estava com 80 cm de largura e com trechos totalmente cobertos.

Luz, ar e acesso foram comemorados ao som da bateria!
E a Rocinha, longe dos holofotes da UPP, mas contemplada com outros projetos importantes, como o PAC e a Rede Rocinha Digital (internet wireless gratuita), segue sonhando com “Um Mundo sem Fronteiras” na menção ao belo samba de 2005:
“Viajar
Por esse mundo sem fronteiras
Acabar com a exclusão
Respeitar mais o irmão
Derrubar todas barreiras
Quero ter um caminho a seguir
Eu quero o meu direito de ir e vir
Sem discriminação, ganância e ambição
Rocinha diz a violência não
Xanadu ou Shangrilá
Eu quero mais (bis)
Deixa a flor desabrochar
Amor e paz

Superar limites a vida permite
Fazer do homem vencedor
No esporte ou na arte
Talento faz parte do verdadeiro valor
A tecnologia aproximou os corações
Vencida a distância chegam as informações
O céu é o limite
Hoje eu quero navegar
E ter uma estrela como par
Da Rocinha posso ver o mundo inteiro
Sou do samba, sou do Rio de Janeiro (bis)
Ouça a mensagem que a borboleta traz
Um mundo sem fronteiras é capaz"


Créditos das fotos: Marat Troina e Leandro Lima

Links relacionados:
SRZD: "Abertura de rua na Rocinha significa mudança de rumo, diz urbanista"


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A melhor resposta à dor

*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo de 16/01/2011
Sérgio Magalhães
Tsunami na Indonésia, furacão Katrina nos Estados Unidos, terremoto no Haiti, são desastres ambientais que nos anos recentes surpreenderam o mundo por conta dos danos humanos e materiais causados. Não foi e não seria possível evitá-los.
Embora todos monumentais, tiveram desdobramentos muito diferentes, em função das possibilidades dos países em que ocorreram.
Infelizmente, pelas dificuldades econômicas e políticas do Haiti, ainda não se conseguiu minorar os danos do terremoto. Não será uma solução fácil; talvez sequer seja possível, visto que no Haiti falta o essencial, a começar pela água. Sem a recriação de um sistema hídrico minimamente sustentável, o próprio país fica sem um horizonte de desenvolvimento.
Outras importantes cidades também sofreram danos ambientais em nível de tragédia ao longo da história, como é emblemático no caso de Pompeia, destruída pelo vulcão Vesúvio. A grande enchente de Paris, de 1910, atingiu todo o sistema de metrô subterrâneo. A enchente do rio Arno, em Florença, nos anos 1960, causou danos sérios à histórica cidade toscana. O Rio, nessa mesma década, em dois anos seguidos foi palco de chuvas exageradas que causaram desabamentos e mortes. Enfim, a natureza não é plenamente previsível, nem domesticável.
Esse é o dado incontestável.
É daí que precisamos partir ao nos defrontarmos com a tragédia que se abateu sobre as cidades serranas do Rio de Janeiro.
As cidades constituem-se como o maior artefato da cultura. E, justamente, se opõem à natureza. Qualquer condição urbana é um intervento sobre as condições naturais, o que desequilibra o status quo.
O convívio é algo necessariamente conflituoso, tenso, perigoso. E, como não temos o controle sobre a natureza, precisamos trabalhar com o imponderável ele revesti-lo de cuidados compatíveis com as possibilidades do universo em convivência.
A ocupação das margens de rios é um modelo convencional na produção urbana. Todas as culturas o fizeram.Muitas cidades já sofreram com enchentes— e mesmo assim se mantiveram no mesmo lugar. É que razões mais determinantes foram escolhidas.
Também a ocupação de encostas e de morros é outro modelo universal. Mas há encostas firmes, há encostas frágeis. Há encostas que rompem sem ação antrópica e outras onde é a ação do homem que causa a derrubada.
No entanto, as cidades vitoriosas foram aquelas que souberam ajustar suas razões às da natureza. Mas, para o fazerem, planejaram, escolheram, construíram sistemas próprios, capazes de alcançar um patamar deconfiança e conforto em que pudessem superaras incertezas do meio.
O Rio de Janeiro é uma cidade que tem aprendido. Das tragédias da década de 60, emergiu o serviço de geotecnia extremamente bem-sucedido da GeoRio. Nesses 40 anos, a cidade tem investido poderosamente na contenção de encostas e na eliminação de risco.
O Rio também tem investido na proteção a famílias em risco. É claro que não é simples, considerando-seque a falta de política habitacional é uma realidade no nosso país. Mas é considerável o esforço do municípiono reassentamento de famílias, pelo menos desde a década de 90, através do programa Morar Sem Risco.
O monitoramento das condições meteorológicas é outro trabalho importante que obviamente não previne as chuvas, mas pode ser útil na prevenção do dano. Monitorar e informar,alertar as famílias em risco, é tarefa complexa, de grande exigência tecnológica, que hoje já pode ser feita com bom resultado.
Agora, ante a dor, a melhor resposta será a busca da cooperação.
Nós podemos juntar esforços governamentais,da sociedade, da academia, dos empresários e dos trabalhadores, da mídia e da população, para construirmos um novo modelo de enfrentamento do problema das enchentes,das enxurradas e dos desmoronamentos, que parta da realidade vívida e busque soluções viáveis — sem preconceitos, sem fórmulas prontas.
A Região Serrana pode ser estudada em um modelo reduzido no qual as diversas disciplinas capazes de contribuir para o enfrentamento do problema sejam chamadas a dialogar. Os instrumentos técnicos disponíveis são poderosos. A condição política me parece favorável. Os governos federal, estadual e municipais são parceiros. A academia dispõe de instrumentos teóricos importantes.Instituições da sociedade, empresariais e profissionais poderão ser chamadas a colaborar. Desde logo, digo que o Instituto de Arquitetos doBrasil, que represento no Rio de Janeiro, está solidário e disponível para a colaboração. Por certo, outras instituições coirmãs, de representação profissional, também o estarão.
A hora é da cooperação, do trabalho por uma resposta ampla e profunda. Pela recuperação plena das cidades serranas, para que voltem a nos orgulhar a todos por sua beleza, pujança e possibilidades infinitas de uma vida saudável e segura.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Avaliação de Políticas Públicas em SP

Angélica Benatti Alvim*
Vista do Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, em direção à zona Norte.
Foto Angélica. B. Alvim, julho de 2007.

Dia primeiro, o jornal O Estado de São Paulo publicou a reportagem “Kassab: 48 meses para cumprir 21 metas difíceis”, selecionando os 50 compromissos de maior vulto prometidos pelo prefeito de São Paulo, que constam do seu Plano de Metas do início do mandato.
Um quadro indica os concluídos, os possíveis, os difíceis e aqueles que estão totalmente parados −na áreas da Saúde, Educação, Transportes, Esporte e Lazer, Habitação, Meio Ambiente, Segurança, Urbanismo, Acessibilidade, Antienchentes e Patrimônio. Segundo o Estadão, dos 50 (o Plano define um total de 223) cinco foram cumpridos -e já se passaram dois anos.
Destes cinco, dois deles privilegiam os Transportes, com a construção de trecho de importante avenida situada na Zona Leste da capital e investimento de R$ 1 bilhão no Metrô; os outros três se concentram no setor de Segurança, ambos setores estratégicos para a cidade (embora possamos considerar que a colocação de 40 mil lâmpadas na cidade, uma das metas atingidas, deveria ser parte da rotina da prefeitura).
Do conjunto, 24 foram classificados como possíveis até o final da gestão e podem ser considerados fundamentais à melhoria da qualidade de vida dos paulistanos. Podemos destacar, na Habitação, o atendimento a 120 mil famílias com o Programa de Urbanização de Favelas, 12 mil famílias no Programa de Cortiços; no Meio Ambiente, a implementação do Programa Córrego Limpo em 58 córregos do município; e no Urbanismo, a preparação de São Paulo como sede do Mundial em 2014.
Esses relacionados à Habitação vêm sendo alvo de grandes investimentos e ações significativas. Já quanto à preparação de São Paulo para a Copa, pouca coisa avançou.
A reportagem classificou 19 compromissos como de difícil alcance e dois que estão parados, totalizando os 21 que se constituem no principal desafio para os dois próximos anos da gestão. Alguns, entre os que provavelmente não serão realizados, poderiam trazer mudanças estruturais à cidade. Merecem destaque: no Transporte - 66 km de corredores de ônibus, 13 novos terminais urbanos e 2 novos terminais rodoviários; 100 km de ciclovias; na Habitação –o atendimento de 234 mil famílias no Programa de Regularização Fundiária; Antienchentes –a conclusão de obras de drenagem no Vale do Anhangabaú e na Avenida Pompéia; e no Urbanismo – a implementação do projeto Nova Luz.
O jornal alerta também para a dificuldade de implementação de alguns compromissos que envolvem a recuperação de áreas degradadas. Logicamente, algumas dessas metas, embora assumidas para um mandato, são de médio e longo prazo, dependendo de um conjunto complexo de ações, parte de um processo continuo. Não obstante, a cidade carece de projetos estruturais de desenvolvimento urbano, tanto para a recuperação de suas áreas centrais quanto para qualificação de suas áreas periféricas.
Para além dos compromissos elencados pela reportagem, nos setores de Habitação e Urbanismo outras metas que estão na Agenda 2012 também deveriam ser alvos de atenção da imprensa, uma vez que são igualmente importantes. Entre elas: a implantação de 50 novos parques urbanos, a urbanização de favelas e loteamentos em áreas de mananciais (75.000 famílias); as intervenções de recuperação ambiental e urbanística nas sub-bacias Guarapiranga e Billings; o desenvolvimento de estudos urbanísticos no entorno da rede de trilhos, por exemplo.
Ainda que a reportagem não tenha aprofundando o tema, devemos valorizar a iniciativa que poderia ser realizada periodicamente por diversos meios de comunicação para todos os níveis de governo. No caso do município, isso pode ser facilitado graças ao site (http://www.agenda2012.com.br/todas-metas) que a prefeitura disponibiliza para acompanhamento das metas propostas na Agenda 2012.
Iniciativas como essa devem ser replicadas permitindo que o cidadão acompanhe as políticas públicas. Enfim, o processo deveria ser um procedimento contínuo de todas as esferas de governo, permitindo o pleno acompanhamento e monitoramento das metas e compromissos assumidos pelas diversas gestões públicas por toda a sociedade, ampliando assim, de modo mais efetivo e duradouro, as bases democráticas em que se constroem os processos decisórios, de participação e de gestão de nossas cidades.
*A arquiteta Angélica Alvim é coordenadora de pós-graduação em arquitetura do Mackenzie/SP

Por uma arquitetura sustentável

Márcio Tomassini

A humanidade se dá conta que caminha para um desastre irreversível, caso não haja controle da emissão de poluentes causada pelo aumento da atividade industrial e agrícola e conseqüentes demandas de energia, alimentos e conforto. A consciência de que é necessária a contribuição de todos na procura de soluções que levem a mitigar tais efeitos, coloca os arquitetos como atores importantes neste cenário.

As cidades abrigam hoje grande parte da população mundial, sendo responsáveis por boa parte das emissões e demandas. As necessidades com habitação, comércio, serviços, lazer etc. fazem das edificações foco importante para pesquisas de novos conceitos de projeto e construção. Tal tarefa, com dimensões e responsabilidades ainda pouco mensuradas, terá de envolver obrigatoriamente a sociedade, as universidades, os arquitetos e engenheiros para o desenvolvimento e produção de objetos arquitetônicos que busquem a sustentabilidade. Nesse sentido, incluindo o projeto e todo o ciclo construtivo, das fundações até à finalização da obra, em sua influência direta ou indireta sobre o meio ambiente.

A obra de arquitetura é a obra construída, o desenho representa a forma segundo a qual ela é imaginada. A relação entre o imaginário e o real é estabelecida (ou deve ser) pelo arquiteto, pois é dele a concepção -e essa paternidade tem de manifestar-se no todo construído. A crítica de projeto associada ao conhecimento do canteiro, levará o arquiteto inexoravelmente a comprometer-se com a sustentabilidade. Não há novidade na afirmação, porém, o preconceito e a separação entre o projeto e a arte de construir ainda estão muito presentes, tanto no campo do exercício profissional como do ensino acadêmico.

A história da arquitetura demonstra, no entanto, que as grandes conquistas da tecnologia da construção ocorreram pela invenção e presença do arquiteto no domínio de sua obra. O arquiteto é antes de tudo O CONSTRUTOR, no sentido mais nobre e amplo do termo, pois é sua a gênese da criação do espaço.

O entendimento de que a formação profissional deve buscar um equilíbrio entre arte e técnica é fundamental, pois as soluções das questões levantadas pela sustentabilidade serão fruto, tenho certeza, não só do atendimento das necessidades de ordem funcional ou estética de um projeto, mas, e principalmente, na proposta do conjunto a ser construído, onde cada item deverá ser projetado com o conhecimento de como vai ser executado.

Neste sentido torna-se muito importante o papel da universidade. A renovação dos currículos seja na área de graduação, seja na de pós graduação, a pesquisa aplicada, o incentivo às teses de mestrado e doutorado relacionadas ao tema, e principalmente a abertura da Academia à contribuição da experiência profissional externa, são exemplos de providências determinantes para aquele atendimento.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Nova Cultura

Washington Fajardo

Destaco do discurso de posse da nova ministra de cultura Ana de Hollanda:

"A mesma e forte chama da cultura e da criatividade do nosso povo deve cintilar, ainda, no solo da reforma urbana e no horizonte da afirmação soberana do Brasil no mundo. Arquitetura é cultura. Urbanismo é cultura. Na visão tradicional, arquitetura e urbanismo só são “cultura” quando a gente olha para trás, na hora de tombamentos e restaurações. Isso é importante, mas não é tudo. Arquitetura e urbanismo são cultura, também, no momento presente de cada cidade e na criação de seus desenhos e possibilidades futuras. Hoje, diante da crise geral das cidades brasileiras, isso vale mais do que nunca."
(...)

" A criatividade brasileira chega a ser espantosa, desconcertante, e se expressa em todos os cantos e campos do fazer artístico e cultural: no artesanato, na dança, no cinema, na música, na produção digital, na arquitetura, no design, na televisão, na literatura, na moda, no teatro, na festa."

Pretensiosamente sugiro (como subsecretário municipal de patrimônio cultural, intervenção urbana, arquitetura e design do Rio de Janeiro) este destaque do discurso da nova ministra, identificando, de maneira contundente, arquitetura e urbanismo como bens culturais, que se amplificados e de qualidade, serão decisivos na construção das qualidades das cidades brasileiras protagonistas do novo Brasil.

Ainda, associado à Lei que cria o CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo, sancionada pelo Presidente Lula, corrigindo injustiça histórica e luta de 50 anos dos profissionais arquitetos e urbanistas por autonomia, desvinculados da Engenharia; somado ao Concurso Público em curso para o Porto Olímpico e o anúncio de Concurso Internacional para o Parque Olímpico na Barra; criam um cenário alvissareiro para uma nova qualidade da arquitetura brasileira e para destaque da situação carioca!
Há mais a fazer e conquistar mas é bom caminho a trilhar! Oxalá!

Para o discurso da ministra Ana de Holanda: http://www.cultura.gov.br/site/2011/01/03/posse-da-nova-ministra-2/

Perspectivas

*Mensagem eletrônica de 30/11/2010 transcrita especialmente para o CI

Mauro Osório*

Hoje saiu um caderno especial no jornal O Globo com o seguinte título: “Rio virtuoso. Um cenário de encher os olhos. Após anos de estagnação, Rio recupera o alto astral com avanços na infraestrutura, na economia e na segurança.

De fato, o Rio vive uma perspectiva de reversão da trajetória de perda de participação relativa e desestruturação do setor público vivida nas últimas décadas. Entre 2000 e 2009 a indústria de transformação no Brasil, São Paulo e Minas Gerais cresceram, respectivamente, 17,7%; 23,6%; e 13,8%, no ERJ ocorreu uma queda de 1,9% de acordo com dados do IBGE. Já nos últimos 12 meses, vê-se o ERJ encostar na trajetória nacional. Entre novembro de 2009 e outubro de 2010, a produção física da indústria de transformação cresceu no Brasil, São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, 11,7%; 11,3%; e 14,5%, enquanto no Rio o crescimento foi de 11,4%.

Na mesma direção, os dados de segurança pública, em período recente, são ótimos. Hoje o jornal O Globo divulgou estatísticas que mostram uma queda entre os dias 1° e 21 de dezembro de 30,8% nos roubos de veículos e de 14,1% nos homicídios.

Um outro aspecto positivo é a melhoria do ponto de vista das perspectivas e da auto estima do morador em nossa região. No entanto, ainda temos diversos desafios colocados. Também no jornal O Globo de hoje, uma matéria com dados do Rio Como Vamos tem o seguinte título: “Estudo mostra um Rio de águas poluídas. Levantamento revela que quase metade do esgoto produzido na Cidade não é coletado e vai parar no meio ambiente”. Caso sejam agregados a esses dados informações sobre a periferia da RMRJ, que é mais precária do que as periferias das RMSP e RMBH, esses números com certeza piorarão. Por esse motivo, acredito ser fundamental buscarmos construir uma governança para a Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.

A matéria do caderno especial traz, ainda, o seguinte trecho: “em 2009, o PIB do Estado chegou a R$ 343,2 Bilhões, equivalente a 11,3% do PIB nacional, ficando atrás, apenas, de São Paulo”. Gostaria de lembrar que, em 1995, a participação do ERJ no PIB nacional já era de 11,2%. Como no correr desse período a extração de petróleo, concentrada fortemente no ERJ, cresceu de forma acelerada, o Rio perdeu participação no país nas demais atividades econômicas.

Ainda no caderno especial existe a seguinte matéria: “um destino cada vez mais procurado. Com exposição da Cidade na mídia, mais turistas viajam para o Rio e rede hoteleira tem registrado recordes”. De fato, a marca Rio é fortíssima e as perspectivas são positivas. No entanto, os desafios para uma reversão definitiva, certamente ainda exigirão esforços, como investimentos em infraestrutura, o aprimoramento de estratégias e geração de produtos, no que diz respeito especificamente à área turística. Entre 2006 e 2009, a cidade do Rio de Janeiro apresentou queda do número de empregos em hotéis de 1,72%, contra um crescimento do emprego nas demais capitais do Sudeste, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória de, respectivamente, 2,87%; 10,19%; e 7,15%.

A matéria do caderno especial aponta, ainda, os investimentos na Zona Portuária da Prefeitura, que entendemos como de fundamental importância. É uma pena que a vila olímpica tenha ficado no Recreio e não nessa região. É importante buscar ampliar no limite o peso da Zona Portuária e Central na realização das olimpíadas de 2016.

Em outra parte do caderno, aponta-se as obras e políticas na área de transporte. Nesse aspecto, acredito que deveríamos procurar seguir o exemplo de Londres, que prioriza transportes sobre trilhos. Entendemos que a prioridade deveria ser a transformação do trem suburbano em metrô de superfície, onde moram e/ou trabalham 70% dos cariocas. Seria importante, também, buscar articular a existência de metrô chegando ao aeroporto internacional do Rio de Janeiro.

Na perspectiva de que haja continuidade da reestruturação do setor público, do aprimoramento das estratégias no âmbito do Estado do Rio de Janeiro e da consolidação da reversão da trajetória do ERJ e da metrópole do Rio, desejo um ótimo ano novo a todos.

*Economista, professor da UFRJ e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR/UFRJ.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Números (II)

Eduardo Cotrim
Ouvi recentemente de um conhecido, provavelmente leitor deste blog, que Copacabana “só é superada em população e densidade pelas favelas, tipo Alemão e Rocinha...”. E complementou: “...a Rocinha, então, com aquele mundão todo...”
Desculpe, C, mas não resisti em mandar isso para o blog e você vai perder a aposta...
Apostei com C que ele estava redondamente enganado quanto às duas comunidades, mas é verdade que na hora não havia números ao alcance. Depois de verificados, concluí que Copacabana tem um pouco mais do dobro de população que o Alemão, supondo-se que a população de Copa tenha se mantido estável nos últimos dez anos. Para serem iguais, seria necessário que 78.000 pessoas abandonassem o bairro.
Para ilustrar melhor tal evasão de residentes, Copacabana teria mais de 600 edifícios completamente desocupados, o que representaria a totalidade das 2 fileiras das quadras da orla.
Quanto ao Complexo, se recebesse os 78.000 novos moradores, seria preciso acrescentar 1 pavimento em cada casa, e ainda assim permaneceriam 11.000 pessoas do lado de fora[1].
No que diz respeito às densidades, se fossem invertidas, pois a aposta se referiu também a esse aspecto, Copacabana deveria perder 125 habs/ha. Para permanecer com a mesma densidade do Alemão, mantidos os residentes originais de Copa, a área de Copacabana deveria ser acrescida de 220 ha. Essa superfície equivale a todo Andaraí ou a um estacionamento para abrigar 66.500 veículos.
O Alemão, por seu turno, para se igualar à Copacabana em densidade, precisaria reduzir seu território em 100,5 ha. Em outras palavras, o bairro perderia aproximadamente 1/3 de sua superfície, remanescendo parcos 192,5 ha, realojando nessa mesma área 24.127 moradores, com acréscimo de 6.520 casas.
Complexo do Alemão
Copacabana
No entanto, para que a aposta obtenha êxito pleno, e nessa vou me dar bem, cabe ainda a comparação entre os dois bairros, permutando-se, simultaneamente, populações e densidades.
Para que Copacabana tenha 69.000 moradores e sua densidade seja de 233 hab/ha (os mesmos dados do Alemão), Copa deverá remover os 78.000 residentes e transferir para um outro bairro qualquer, o domínio administrativo de 114 ha de seu território. Essa área é equivalente a toda a faixa das mencionadas quadras do Posto 6 ao Leme, com 80 ha, acrescida do forte de Copacabana e parte do penhasco do Morro dos Cabritos, que somados perfazem os restantes 34 ha.
Quanto ao Alemão, para se tornar denso e populoso como Copacabana, precisaria agregar ao seu território, já todo acrescido de 1 pavimento, aquelas 11.000 pessoas que ficaram do lado de fora, em novos 2.973 pisos ou lajes. Deveria ainda aceitar a doação de 114 ha de uma grande área vazia, disponíveis até hoje, no vizinho Engenho da Rainha, desde que passasse a ser ocupada com 600 edifícios de 8 pavimentos colados nas divisas.
Para que fosse mantida a tipologia volumétrica do Complexo, a título de curiosidade (pois isso alteraria a relação densidade-população da aposta), seriam necessários não os 114 ha, mas 354 ha ou o bairro inteiro da vizinha Inhaúma.
Mas na Rocinha, C ganha o ponto - acertou no quesito densidade. O bairro é quase 3 vezes menor em área e concentra uma população 2 vezes menor que Copacabana.
Ainda que seja menor, menos populosa que Copacabana e com todo o verde que integra o bairro a Noroeste e a Sudeste, que a Rocinha é 1/3 mais densa é...mas também não apostei lá grandes coisas....


Lembrete: 1 ha = 10.000m2 ou a um quadrado de 100m x 100m.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros.

Sérgio Magalhães

Em seu discurso de posse, a presidente Dilma Roussef dirigiu-se à Nação e indicou seus compromissos de governo.


A cada vez que mudava de tema, chamava a atenção com a expressão acima, algumas vezes precedidas com os possessivos: ‘minhas queridas’ e ‘meus queridos’, também chamando primeiro ora os ‘brasileiros’, ora as ‘brasileiras’.


Qb e qb. Começou dizendo a que veio, enaltecendo o trabalho de seu antecessor e afirmando a democracia.


Qb e qb. Depois, tratou da economia. Estabilidade financeira, modernização tributária, exportação, agricultura, indústria, serviços.


Qb e qb. Comprometeu-se com a erradicação da pobreza extrema. Associará crescimento econômico a programas sociais e estabilidade econômica. Melhorará o gasto público. Manterá o PAC e o MC,MV. Melhorará os serviços aéreos.


Qb e qb. Garantiu elevar a qualidade da educação, no ensino fundamental, médio e pré-escolar.


Qb e qb. Consolidará o SUS.


Qb e qb. Tratará da segurança, garantindo a presença do Estado em todas as regiões. Combaterá as drogas.


Qb e qb. Garantirá o pré-sal como investimento de longo prazo do povo.


Mqb e mqb . Apoiará o desenvolvimento de ciência e tecnologia, a preservação das reservas naturais, a biodiversidade. Investirá em cultura.


Qb e qb. Preservaremos o meio-ambiente, produziremos energia limpa.


Mqb e mqb. Valorizará a tradição diplomática brasileira, a paz, os Direitos Humanos, o relacionamento sul-americano e das demais regiões, a reforma da ONU.


Qb e qb. Exortou a que todos, governos e sociedade, trabalhemos juntos pelo país. Compromete-se a estar ao lado de todos os brasileiros, onde estiverem. E reafirma o compromisso com as liberdades essenciais, de culto, de imprensa e de opinião.


Qb e qb. Governará com coragem e com carinho.


O discurso da presidente Dilma Roussef é abrangente e positivo.

Infelizmente, mesmo assim, não trata especificamente do lugar onde vivem 85% dos brasileiros: não se refere uma vez sequer às cidades, à política urbana, aos transportes públicos, ao saneamento, à habitação.

Oxalá a prática de seu governo seja para além do discurso. Sem cidades tratadas, saneadas, habitáveis, seguras, amigáveis, não teremos desenvolvimento nem os demais compromissos assumidos poderão ser alcançados plenamente.



JO 2016 de cara nova.

Sérgio Magalhães
Gosto muito da marca que a designer carioca Ana Sotter fez para a candidatura do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada. Infelizmente, por razões que desconheço, a marca que venceu com a candidatura não pode ser a mesma dos próximos anos. Foi necessário conceber uma nova marca, que acaba de ser anunciada, junto com a festa de réveillon em Copacabana.
O vídeo abaixo informa sobre ela e sobre o processo criativo adotado pela Tátil Design, equipe vencedora de concorrência organizada pelo COB.
Quem tem opinião?

http://vimeo.com/18331485

Festas maravilhosas, multidões fantásticas


Sérgio Magalhães
Impressiona a todos que as festas de fim-de-ano transcorram com tanta tranquilidade, mesmo naquelas em que a multidão é um dos ingredientes mais fortes para o sucesso.
As festas de réveillon em Copacabana começaram timidamente, vinculadas a Iemanjá, e passaram a cair no gosto de todos lá pelos anos 1970, com os primeiros fogos de artifício a pontuarem a passagem de ano. Então, eram muitos milhares de participantes. Cada vez mais sofisticadas, com mais atrações, o número de pessoas aumentou vertiginosamente: 500.000, 800.000, 1 milhão, 2 milhões.
Há alguns anos, impressionado com tais números, fiz uma continha: -Avenida Atlântica= 4km de extensão; -calçadão+pista+canteiro+pista+calçadão= largura de 65m; -areia da praia (com maré +ou-)= uns 75m em média. Isto nos dá uma área máxima de uns 560.000m2. Para ter 2 milhões de pessoas, precisamos contar quase 4 pessoas em cada metro quadrado. É média de comício, dos mais concorridos!
Mas mais impressionante é o caso da Av.Paulista, em SP. Lá o número de assistentes aumentou acompanhando Copacabana. Mas é mais vertiginoso: a Paulista tem 2,8km e largura de 45m. Logo, área de 126.000m2. Em São Paulo, os 2 milhões de assistentes se ajustam à média de quase 16 pessoas por metro quadrado. (Cada vez que ouço o noticiário com números ainda maiores, fico ainda mais impressionado. Já ouvi dizerem que neste ano teve 2,5milhões!) Isto é que é multidão pacífica!


PS
Depois de feitos os cálculos acima, li na FSP (domingo, pg, A8): "Virada leva 2,5 milhões à Paulista em noite tranquila". E mais: "A multidão lotou a via desde o palco, próximo à Frei Caneca, até à Brigadeiro Luís Antônio, a cerca de um quilômetro dali."
Isto é, minha conta estava errada: pela Folha, são 55 pessoas por m2. ! 
Já não pode ser apenas tranquila, mas noite milagrosa, esta da "virada à Paulista" ...