sexta-feira, 22 de julho de 2011

Complexo do Alemão HD

Lucas Franco
Recebi a foto acima descrita como "a primeira, única e maior GIGAFOTO feita em uma FAVELA no Brasil."


Tecnicamente, segundo as descrições dos autores, "a imagem tem 138.286 x 36.532 PIXELSS ou seja = + de 5 Gigapixels REAIS. Esta gigafoto foi composta com 685 clicks e cobre 190 graus de visão."

Fotografamos no dia 10 de janeiro de 2011, e me ajudando estavam os 2 fotógrafos e companheiros: Stefano Aguiar e a Andréa Simões.
Fotografamos SEM parar de 13:36 até as 15:22, gerando 84 gb de arquivos, debaixo de um sol estúpido, isso depois de nos perdermos dentro das vielas do Morro do Alemão (já pacificado)."


Na verdade, no blog próprio fotógrafo, Ayrton 360º, encontramos além de inúmeras fotografias panorâmicas com 360º, uma seção exclusiva de fotos em favelas.

Visitas altamente recomendadas:

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Compacta por fora, gigante por dentro

*Do web-site do Instituto Ciência Hoje
O território da cidade francesa de Paris (vermelho) sobreposto ao do município do Rio de Janeiro. Paris é exemplo de cidade centralizada e compacta , modelo que Magalhães defende com o essencial para um a metrópole sustentável. (montagem: Sérgio Magalhães)

Com críticas a 'campi' universitários isolados e transporte público sobre rodas, o arquiteto Sérgio Magalhães – mais novo colunista da revista CH – defende, em conferência na 63ª Reunião Anual da SBPC, que uma cidade democrática deve prezar pela compactação.

Por: Isabela Fraga
Publicado em 11/07/2011 | Atualizado em 12/07/2 011

O arquiteto Sérgio Magalhães, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, iniciou o mês de julho em grande estilo: estreou sua coluna na revista CH e ministrou uma conferência organizada pelo Instituto Ciência Hoje na 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, que acontece até o dia 15 de julho em Goiânia (GO).
Para ser democrática, uma cidade deve conter a expansão urbana e prezar pela compactação.
Conferência e coluna – batizadas de ‘Os desafios das cidades’ e ‘Cidade inteira’, respectivamente –, compartilham não só o autor, mas também uma ideia fundamental: para ser democrática, uma cidade deve conter a expansão urbana e prezar pela compactação.
“A expansão desenfreada e predatória se choca frontalmente com o desejo de democratização das cidades”, sintetiza Magalhães. “Ela dificulta a universalização dos serviços públicos e a garantia de mobilidade, fazendo com que a constituição brasileira não alcance todos os territórios
urbanos.”
O mote já havia sido levantado pelo próprio arquiteto em entrevista para a reportagem de capa da CH 274, publicada em setembro de 2010, sobre metrópoles sustentáveis.

Cidade sobre pneus.
O modelo de cidade expansionista estaria calcado em diversos apoios, como o transporte público sobre pneus – ônibus e vans – em detrimento dos trilhos – trens e bondes. “Também há doutrinas urbanísticas que estimulam a expansão. Os campi universitários federais são um exemplo: muito grandes e distantes dos centros das cidades”, pondera Magalhães.
Aqueduto da Carioca, no Rio de Janeiro, transformado em viaduto para bondes, em 1896. O transporte coletivo sobre rodas tomou o lugar dos bondes e trens, estimulando a expansão das cidades brasileiras. (foto: Marc Ferrez/ Domínio Público).
Para o arquiteto, pensar a cidade como um todo se torna inviável se os polos de pesquisa e de ensino – as universidades – estiverem isolados e distantes do centro urbano. A grande distância entre os campi e os centros e até entre os prédios universitários entre si seria fruto tanto de um
pretenso impedimento da mobilização estudantil pelo governo militar durante as décadas de 1960 e 1970, quanto de uma arquitetura modernista iniciada na década de 1920.

Paris cabe no Rio!
Magalhães cita o Rio de Janeiro como exemplo de cidade expandida: enquanto de 1940 a 2000 o número de habitantes aumentou 13 vezes – de 12 milhões para 160 milhões –, o número de domicílios saltou de 2 milhões para 40 milhões – um crescimento de 20 vezes. Ao mesmo tempo, a densidade populacional diminuiu drasticamente: de 15,8 mil habitantes por km2 em 1960, foi para 9,8 mil em 1996.
Ao longo do século 20, viver na cidade ficou mais caro à medida que mais serviços tornaram-se necessários para a vida urbana. Nesse período, também houve as grandes remoções de favelas para territórios vazios mais distantes, como Cidade de Deus, Vila Kennedy e Antares. “O resultado foi um crescimento da área da cidade em três vezes”, explica o arquiteto.
Para quem acha que baixa densidade populacional é sinônimo de qualidade de vida, Magalhães argumenta: Paris, considerada um modelo de metrópole, tem altíssima densidade populacional e uma igualmente alta qualidade de vida, com Índice de Desenvolvimento Humano de 0,917 (em uma escala de zero a um).
O território de Paris, praticamente o mesmo há mais de 200 anos, corresponde a uma pequena parte do município do Rio de Janeiro
A comparação com a capital francesa, aliás, é curiosa: o território de Paris, praticamente o mesmo há mais de 200 anos, corresponde a uma pequena parte do município do Rio de Janeiro. “Em um território muito menor, Paris ainda tem cerca de 350 pontos de metrô”, destaca
Magalhães. “É uma metrópole que fortalece a centralidade, enquanto as cidades brasileiras fazem o contrário”, reflete.
Uma cidade compacta estimularia não só a universalização dos serviços públicos, mas também aquela que é a característica principal da vida urbana, para o arquiteto: a interação social e o encontro de diferenças. “Eu diria que é impossível que a próxima geração avance consistentemente na construção da igualdade se persistir no modelo da expansão desmedida”, sentencia o arquiteto.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um novo caminho

Artigo publicado originalmente no jornal O Globo de 02/07/2011
Sérgio Magalhães
Debater, discutir e criticar são ações indispensáveis para se alcançar uma cidade mais democrática, com bons serviços, uma cidade melhor. Nesta semana, o Rio de Janeiro deu mais um passo nesta direção, com a divulgação do concurso de projetos para o Porto Olímpico.

Por que tal concurso de arquitetura e urbanismo é importante para o Rio e para cidades brasileiras?

Assim que o Rio foi escolhido como sede olímpica, em meio à euforia, emergiu a defesa do melhor aproveitamento possível dos investimentos necessários aos Jogos de 2016. O prefeito da cidade explicitou o entendimento de que eles deveriam servir ao conjunto da cidade, sem privilégios por regiões. Não se tratava de desconsiderar os compromissos assumidos. Mas entre a apresentação da candidatura e a escolha da cidade, nova realidade surgiu. O projeto Porto Maravilha, iniciativa da Prefeitura, com o apoio do governo do Estado e do governo federal, tornou disponível extensa área no núcleo da metrópole –que poderia ser aproveitada para os Jogos.

A união dos três agentes governamentais e do presidente do COB, com o firme apoio dos meios de comunicação, permitiu ao prefeito Eduardo Paes propor ao COI a transferência de alguns equipamentos esportivos da Barra da Tijuca para o Porto. A proposta recebeu concordância parcial: admitiu-se aí implantar a Vila da Mídia e a dos Árbitros, que envolvem cerca de 5.000 unidades habitacionais, e alguns serviços, como o Centro de Mídia não credenciada. Agregou-se um Centro de Convenções, Feiras e um Hotel. A esse conjunto, denominou-se Porto Olímpico. A seguir, a Prefeitura promoveu, e, a seu pedido, o Instituto de Arquitetos do Brasil-RJ organizou, o concurso nacional de arquitetura e urbanismo para selecionar a melhor proposta, a ser construída em terrenos situados no entorno da avenida Francisco Bicalho. Participaram cerca de 1.000 arquitetos, em 83 equipes de todo o Brasil –em um debate invulgar, pelo volume e pela expressão, sobre conceitos do viver urbano contemporâneo.

Esse concurso acaba de indicar os vitoriosos, aptos a desenvolverem os projetos.

O Porto Olímpico cumpre vários papéis estratégicos para a cidade.

Primeiro, reforçando o Centro como lugar de negócios e de moradia, de comércio e de serviços. Ele estabelecerá um vínculo, de grande simbolismo para o futuro da cidade, entre os Jogos de 2016 e a recuperação do Centro do Rio.

Próximo das cinco linhas de transporte público sobre trilhos (as linhas 1 e 2 do metrô e as linhas de trens da Central, da Auxiliar e da Leopoldina), terá influência na modernização do eixo olímpico Deodoro-Engenhão-Maracanã-Sambódromo. Parece inevitável que esse eixo seja transformado em metrô, com trens circulando em intervalos curtos, composições seguras e confortáveis, em estações respeitosas para com o usuário: protegido da chuva e do sol e com acessibilidade plena a todo cidadão. Será um belíssimo legado se efetivado até 2016.

Outro papel estratégico está no desenho arquitetônico-urbanístico. Exemplifica um modelo que recupera o prazer do viver urbano compartilhando um espaço público de alta qualidade, desfrutando dos benefícios de morar e trabalhar em um lugar com diversidade de usos, de serviços e de renda. Justamente o que faz o encanto de Paris, de Nova York, de Londres, de Buenos Aires –e do Rio de Janeiro da Cidade Maravilhosa, esta da qual o Centro é a expressão inicial. O desenho do Porto Olímpico ressaltará as qualidades da cidade renovada, em ambiente contemporâneo. (O destino das cidades não precisa estar na vida em shoppings e em condomínios fechados.)

Finalmente, um terceiro papel estratégico: na escala em que se impõe, com 800.000m2 de construção, em terrenos equivalentes a 17 quarteirões, impactará positivamente os bairros vizinhos, incluindo a zona Norte, como atrativos para habitar e para trabalhar. Será assim um vetor de reaglutinação urbana, opondo-se à expansão difusa da cidade, com baixa densidade populacional –a qual, infelizmente, tem sido a tônica da ocupação urbana, não apenas do Rio, mas das cidades brasileiras em geral. Demonstrar um outro modelo, não predador, democrático, sustentável, é uma contribuição maiúscula que essa experiência carioca deverá representar. Quando se avizinha a Rio+20, comemorativa da Cúpula da Terra de 1992, é saudável debater concretamente um novo caminho.

O Centro do Rio confunde-se com a própria história do Brasil, afirmação da memória coletiva e de nossa identidade. Reforçá-lo como centro metropolitano, dar-lhe nova vitalidade, é, seguramente, uma boa causa. Vale a pena conhecer o que os arquitetos brasileiros concebem como a boa cidade, de hoje e do futuro.

Veja aqui um pouco dos trabalhos premiados no site do IAB-RJ