*Do web-site do Instituto Ciência Hoje
O território da cidade francesa de Paris (vermelho) sobreposto ao do município do Rio de Janeiro. Paris é exemplo de cidade centralizada e compacta , modelo que Magalhães defende com o essencial para um a metrópole sustentável. (montagem: Sérgio Magalhães) |
Com críticas a 'campi' universitários isolados e transporte público sobre rodas, o arquiteto Sérgio Magalhães – mais novo colunista da revista CH – defende, em conferência na 63ª Reunião Anual da SBPC, que uma cidade democrática deve prezar pela compactação.
Por: Isabela Fraga
Publicado em 11/07/2011 | Atualizado em 12/07/2 011
O arquiteto Sérgio Magalhães, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, iniciou o mês de julho em grande estilo: estreou sua coluna na revista CH e ministrou uma conferência organizada pelo Instituto Ciência Hoje na 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, que acontece até o dia 15 de julho em Goiânia (GO).
Para ser democrática, uma cidade deve conter a expansão urbana e prezar pela compactação.
Conferência e coluna – batizadas de ‘Os desafios das cidades’ e ‘Cidade inteira’, respectivamente –, compartilham não só o autor, mas também uma ideia fundamental: para ser democrática, uma cidade deve conter a expansão urbana e prezar pela compactação.
“A expansão desenfreada e predatória se choca frontalmente com o desejo de democratização das cidades”, sintetiza Magalhães. “Ela dificulta a universalização dos serviços públicos e a garantia de mobilidade, fazendo com que a constituição brasileira não alcance todos os territórios
urbanos.”
O mote já havia sido levantado pelo próprio arquiteto em entrevista para a reportagem de capa da CH 274, publicada em setembro de 2010, sobre metrópoles sustentáveis.
Cidade sobre pneus.
O modelo de cidade expansionista estaria calcado em diversos apoios, como o transporte público sobre pneus – ônibus e vans – em detrimento dos trilhos – trens e bondes. “Também há doutrinas urbanísticas que estimulam a expansão. Os campi universitários federais são um exemplo: muito grandes e distantes dos centros das cidades”, pondera Magalhães.
Aqueduto da Carioca, no Rio de Janeiro, transformado em viaduto para bondes, em 1896. O transporte coletivo sobre rodas tomou o lugar dos bondes e trens, estimulando a expansão das cidades brasileiras. (foto: Marc Ferrez/ Domínio Público). |
Para o arquiteto, pensar a cidade como um todo se torna inviável se os polos de pesquisa e de ensino – as universidades – estiverem isolados e distantes do centro urbano. A grande distância entre os campi e os centros e até entre os prédios universitários entre si seria fruto tanto de um
pretenso impedimento da mobilização estudantil pelo governo militar durante as décadas de 1960 e 1970, quanto de uma arquitetura modernista iniciada na década de 1920.
Paris cabe no Rio!
Magalhães cita o Rio de Janeiro como exemplo de cidade expandida: enquanto de 1940 a 2000 o número de habitantes aumentou 13 vezes – de 12 milhões para 160 milhões –, o número de domicílios saltou de 2 milhões para 40 milhões – um crescimento de 20 vezes. Ao mesmo tempo, a densidade populacional diminuiu drasticamente: de 15,8 mil habitantes por km2 em 1960, foi para 9,8 mil em 1996.
Ao longo do século 20, viver na cidade ficou mais caro à medida que mais serviços tornaram-se necessários para a vida urbana. Nesse período, também houve as grandes remoções de favelas para territórios vazios mais distantes, como Cidade de Deus, Vila Kennedy e Antares. “O resultado foi um crescimento da área da cidade em três vezes”, explica o arquiteto.
Para quem acha que baixa densidade populacional é sinônimo de qualidade de vida, Magalhães argumenta: Paris, considerada um modelo de metrópole, tem altíssima densidade populacional e uma igualmente alta qualidade de vida, com Índice de Desenvolvimento Humano de 0,917 (em uma escala de zero a um).
O território de Paris, praticamente o mesmo há mais de 200 anos, corresponde a uma pequena parte do município do Rio de Janeiro
A comparação com a capital francesa, aliás, é curiosa: o território de Paris, praticamente o mesmo há mais de 200 anos, corresponde a uma pequena parte do município do Rio de Janeiro. “Em um território muito menor, Paris ainda tem cerca de 350 pontos de metrô”, destaca
Magalhães. “É uma metrópole que fortalece a centralidade, enquanto as cidades brasileiras fazem o contrário”, reflete.
Uma cidade compacta estimularia não só a universalização dos serviços públicos, mas também aquela que é a característica principal da vida urbana, para o arquiteto: a interação social e o encontro de diferenças. “Eu diria que é impossível que a próxima geração avance consistentemente na construção da igualdade se persistir no modelo da expansão desmedida”, sentencia o arquiteto.
Estava passeando pelo centro de porto alegre e deparou-se-me um livro do Sérgio Magalhães. Dei uma rápida espiada e notei que muito do que ele fala hoje já falava nos idos de 80 ou 90 ? ou até mesmo antes, não me lembro direito da data de publicacao do livro. Só não o comprei, porque o livro estava caro e espero que com o tempo o livreiro entenda que sebo é sebo.
ResponderExcluirEstou lendo um livro que acho que é de interesse de todos que por aqui circulam: Os centros urbanos - Edward L. Glaeser. A conversa desse livro é parecida com a que noto neste blog. Lembra Glaeser que toda a humanidade poderia viver no Estado do Texas, nos EUA. O intrigante neste livro, é que ele tem uma simpatia enorme com os espigões. Isso, verdadeiramente, me intriga. Acho que teremos que conviver com alguns paradigmas: um modelo europeu e outro americano (simplificando, porque certamente outros países poderiam exigir um outro paradigma). De qualquer sorte, fica aqui um desafio para o Sérgio: qual o tamanho ideal de um edificio? Eu gosto do paradigma europeu.
Prezado Sérgio
ResponderExcluirO artigo de Isabela Fraga do CH sintetizou a essência de sua palestra no evento. Uma excelente contribuição para as nossas reflexões sobre a expansão das cidades brasileiras.
O caso de Goiania, cidade onde ocorreu o evento, ilustra o problema: crescimento espraiado com baixa densidade urbana, desvinculado das possibilidades de mobilidade por transporte público, com má distribuição dos serviços e equipamenteo públicos, entre outros aspectos...
A construção dos campi universitários localizados em áreas periféricas, embora tenha sido fortemente disseminada nos anos 60 /70, ainda hoje persiste. Basta lembrarmos do novo campus da USP em São Paulo (USP Leste), projetado e construído há menos de uma década, isolado da cidade, junto à rodovia A. Sena, na ligação ao aeroporto de Guarulhos - com quase nenhuma acessibilidade por trasnporte público. Um pena, perdeu-se a oportunidade de "rever" o primeiro campus da USP na zona oeste que possui inúmeros vazios que poderiam ser aproveitados para os novos cursos e para outras "atividades urbanas", minimizando o isolamento e a monofuncionalidade de uma área que hoje é estratégica para a cidade.
Enfim, são aspectos que merecem ser debatidos para serem "combatidos".
Sucesso para a sua nova coluna na revista CH. Espero que ela contribua para refletirmos sobre o destino de nossas cidades.
Recomendo a inclusão do primeiro artigo no blog (assim como os demais) para que os seguidores do Cidade Inteira possam acompanhar e debater sobre temas tão pertinentes.
Parabéns mais uma vez!
abraços
Angélica Alvim