terça-feira, 30 de junho de 2009

“O Banco Mundial modifica sua estratégia urbana”

Sérgio Magalhães
Um grande encontro em Marselha reúne cerca de 600 participantes, de 80 países, para discutir o tema “Cidades frente à mudança climática: respondendo a uma agenda urgente”.
É importante essa tomada de posição, evidentemente. Todavia, fica um certo travo amargo ao se verificar que as cidades continuam sendo vistas/estudadas em função de temática que lhe é externa.
A cidade, por certo, aproveitará a oportunidade: quanto mais conhecimento, melhor. Mas tenhamos em conta que são vias indiretas as escolhidas.

La Banque Mondiale modifie as stratégie urbaine - Le Monde, 30/06/09

“O Banco Mundial, 2”

Sérgio Magalhães
A cidade tem sofrido há décadas, ou há séculos, por políticas que a influenciam diretamente sem que, contudo, suas razões sejam consideradas. Por exemplo: a expansão urbana em “mancha de óleo”, que beneficia diretamente a indústria automobilística e tem trazido problemas sociais, urbanos, políticos e econômicos gigantescos. Inclusive, como agora o Banco Mundial parece que irá estudar, com danos ambientais importantes.
Quem sabe a expansão infinita das cidades –dessas “cidades sem fim”- venha a sofrer algum abalo?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

E segue o contra-senso 1/3

Marat Troina
A vontade política de revitalização do centro histórico da cidade do Rio de Janeiro é noticiada. Entretanto, algumas ações controláveis pelo poder público, seja municipal, estadual ou federal, ocorrem em desacordo com a tão desejada revitalização.

Nos últimos dias foi anunciada a construção da sede da CBF no bairro da Barra da Tijuca sem qualquer debate quanto ao impacto desta ação na cidade. Um equipamento único como este tem grande influencia na dinâmica de seu entorno, seja do ponto de vista funcional ou simbólico. Por que não a CBF no centro do Rio?

Há terrenos vazios e prédios disponíveis.

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E segue o contra-senso 2/3

Marat Troina
Ao mesmo tempo, a Prefeitura do Rio, que anunciara a mudança do gabinete do Prefeito do bairro da Cidade Nova para a Praça XV, comunica a revisão desta medida e destina o prédio restaurado no centro do Rio ao uso cultural. Tudo bem que seja mais interessante para a gestão municipal ter o gabinete do prefeito e as diversas secretarias municipais coabitando um mesmo edifício, como no CASS (o Piranhão), porém, mais uma vez, a Cidade perde.

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E segue o contra-senso 3/3

Marat Troina
Não é desavença política. Parece haver um vácuo no entendimento do papel do centro na metrópole. A região central do Rio de Janeiro é dotada da infra-estrutura de transportes de massa mais qualificada da Cidade, ferroviária e hidroviária. Ela está articulada com os demais municípios da Região Metropolitana (RM) do Rio.

Com a dispersão dos investimentos públicos e privados a região central perde importância. Perde importância também a cidade, por não somar forças na estruturação do local mais democrático em uma RM, seu centro.

A criação de novos equipamentos de cultura, somente, não contribui com a revitalização da região central do Rio.

Transformar o local historicamente mais importante da cidade e com o maior acúmulo de investimentos públicos em um bairro de habitação de baixa renda é a dês-economia. Não à toa, Londres, Barcelona e Nova Iorque caminharam no sentido oposto.

* Bola dentro: O Governo do Estado do Rio de Janeiro vem transferindo Secretarias de Governo para o prédio da Central do Brasil;

** Bola fora: a UFRJ ainda mantém seu projeto de transferir as unidades instaladas no Centro e Praia Vermelha para a Ilha do Fundão. Os prédios existentes seriam transformados em equipamentos culturais.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Educação Urbana

Lucas Franco
O trabalho de Educação Arquitetônica e Urbanística, desenvolvido pelo arquiteto Pedro Lessa, faz parte do programa de Educação Urbana da prefeitura do Rio, voltado para as crianças da rede municipal de ensino.
Lessa dá uma aula de cidadania e de percepção do espaço público. Deste espaço que é de todos nós. Não é um lugar sem dono, tampouco é de dono algum.

Em um trecho do vídeo, durante um passeio pela Rua Orestes, o professor chama a atenção para um carro estacionado em cima da calçada, obstruindo o passeio. Os alunos acompanham atentamente fazendo as suas anotações.
Uma vez, ouvi meu pai dizer que ficara mais educado depois que eu e meu irmão nascemos, principalmente depois que começamos a freqüentar a escola.

Imaginemos agora, aquelas crianças daqui a alguns anos, dirigindo seus carros, vivendo na cidade com essa nova compreensão. Será que nunca estacionariam seus carros sobre as calçadas? Então nós, os arquitetos, não precisaríamos mais projetar barreiras físicas? Nada de frades, correntes, balizadores....
Imaginem, com o esclarecimento dos direitos e deveres do cidadão para estas questões, qual seria o impacto nas transgreções e conseqüentemente na fiscalização do cumprimento das regras básicas estabelecidas.
Seria este, o chamado “pacto social”?

Neste caso, me parece que o projeto do Pedro Lessa também serviria para a questão dos ecolimites. Ensinando e explicando, derrubando os muros da ignorância, ele estaria desenhando uma bela e nova proposta para os muros da Cidade: os transparentes e esclarecedores.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Navegar é preciso

Ceça Guimaraens
Já constatei em outro comentário, que vejo a crise econômica na condição de uma retomada, pelos donos do capital, dos capitais acumulados pelos Estados e indivíduos. Também observei antes que o mundo está pronto. O que é preciso é reciclá-lo e conservá-lo. Desta perspectiva, me aproximo das recentes afirmações de Peter Burke para associar as ações de conservação da cidade ao movimento que proclama a necessária reciclagem de idéias. Ao discorrer sobre inovações, esse autor diz que a reciclagem de objetos materiais é tão importante quanto a reciclagem intelectual para a sobrevivência do planeta. Nesta linha de argumentação, prossigo, a reciclagem da cidade e das formações mentais e territoriais decorrentes constitui, sim, uma inovação histórica. Lembro que analogias com o corpo humano costumavam configurar metáforas em campos científicos no início do século passado. Porém, ainda associando essas proposições às de Burke, é possível verificar que, hoje, a administração democrática da cidade exige que esta e seus “usuários” sejam abordados com diferentes métodos e pontos de vista. Por outro lado, o crescimento indefinido e infinito do ente cidade, articulado à crise atual, recupera os problemas e a legitimidade das regulações. Embora as formas de controle restrito estejam, há algum tempo, fora do horizonte das políticas sociais, as populações urbanas reconhecem a importância da crise reprimindo desejos e insatisfações. Portanto, as propostas de mudança de rumos, antes de atender à natureza e à história natural deveriam, sim, tomar de empréstimo as idéias de reinvenção. Não é à toa que as populações interessadas em viver a cidade para a cidadania — onde as responsabilidades de todos são incluídas — estão a reclamar processos inovadores gerados nas reciclagens materiais e intelectuais. Em nosso caso, é urgente que a criatividade urbanística e a tradução das propostas que sublinhavam a luta insana pela vida urbana estabeleçam parâmetros imparciais e novos. Pois, no mundo das idéias, navegar é preciso. Mas, hoje, crescer, não é preciso!

Diálogos Cariocas


O Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ está promovendo o evento Diálogos Cariocas, um ciclo de debates sobre a Cidade do Rio de Janeiro em suas diferentes faces.

A discussão de políticas públicas no ambiente da Universidade traz a perspectiva de liberdade no tratamento dos temas debatidos.

Diálogos Cariocas é o encontro entre a reflexão acadêmica e a expressão do dia a dia do Rio de Janeiro, com seus variados aspectos urbanos. A contextualização dos temas, através de abordagens cinematográficas, e as diferentes visões de especialistas e gestores públicos, pretende contribuir para a humanização dos assuntos tratados.

acesse o site e informe-se: www.dialogoscariocas.com.br

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cidade Modernista?

André Pinto
No último dia 21, na Casa de Rui Barbosa, no âmbito de debates sobre o Rio de Janeiro, o arquiteto Sérgio Magalhães fez palestra intitulada A cidade, sua idéia e o planejamento.

O tema envolveu uma avaliação sobre os principais planos urbanísticos de repercussão para a cidade, desenvolvidos nos últimos 50 anos.
O arquiteto considera que a matriz desses estudos é nitidamente modernista, predominando uma idéia de ruptura em relação à cidade existente. E que tanto o Plano Doxiadis (1963) como o Plano Lucio Costa para a Barra (1968) têm forte responsabilidade sobre a exagerada expansão experimentada pelo tecido urbano desde então.
Para Sérgio Magalhães, a doutrina modernista, hegemônica durante quase todo século XX, ainda tem forte influência entre nós. O projeto de Plano Diretor da cidade, que está em discussão na Câmara de Vereadores, seria um indicador dessa influência, na medida em que o corpo do projeto-de-lei trata a cidade de modo inespacial, sem observância de suas especificidades ambientais e culturais.
SM defende que, hoje, pelo menos três temas precisam ser considerados na formulação de uma estratégia de planejamento para o Rio de Janeiro:

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Cinema e cidade

Em clima de Viradão cultural carioca e dando continuidade a exposição "A Rua é nossa...é de todos nós!", em cartaz no CCJF, a equipe Cidade Inteira recomenda:

Mostra de filmes A Rua é Nossa - cinema e cidade
(Dias 06,07 e 08. De sexta a domingo. R$1,00)

A mostra de filmes é só neste fim de semana mas a exposição permanece até o dia 14/06.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ao mestre, com carinho.

Sérgio Magalhães
Quando Jorge Roberto Silveira assumiu a Prefeitura de Niterói pela primeira vez, em 1989, e João Sampaio foi ser seu secretário de Urbanismo, eles me convidaram para exercer a função de Diretor de Urbanismo. Elaboramos, em equipe, um vasto plano de “revitalização”do Centro, que foi implantado nos anos seguintes, modificando completamente Niterói e aumentando a auto estima de seus moradores.

A duplicação da Avenida Visconde do Rio Branco e o Terminal Rodoviário João Goulart foram as principais obras.

O Terminal reordenou o transporte intermunicipal e intra-urbano bem como a relação com as barcas e o Rio. Serviu ainda para a recuperação do vasto aterro em que se localiza e que se encontrava abandonado.

Começou a operar, ainda não totalmente concluído, em 1991.

Dentre as partes inconclusas, estava a torre de boas vindas. Localizada entre a frente oeste do Terminal e a baía, com 45m de altura, previa um mirante e um pequeno restaurante no seu topo. A torre arquitetonicamente arrematava o edifício do Terminal e fortalecia simbolicamente a chegada a Niterói..

O tempo foi passando, outras prioridades se apresentaram, e a torre não saiu do chão.


Ainda naquele mandato, Jorge e João fizeram a encomenda a Oscar Niemeyer do projeto para o Museu de Arte Contemporânea, hoje um ícone da cidade –e primeira obra do que veio a se constituir como Caminho Niemeyer, o qual tem alguns de seus principais elementos localizados justamente no antigo aterro.

Agora, por notícia publicada na Folha de São Paulo, vemos que Niemeyer acaba de projetar uma torre com 60m, encimada por um restaurante, localizada justamente na posição daquela que fazia parte do Terminal João Goulart. Antes, contudo, nesse mesmo lugar, ON projetara um edifício escalonado que se colocava entre o Terminal e o mar, de certo modo reduzindo a presença do Terminal na paisagem de aproximação das barcas.


Fico contente que nosso maior arquiteto tenha refeito seu ponto de vista e tenha optado por uma torre, lá onde, antes, havíamos concebido a outra. Essa sua escolha é recebida por mim como reconhecimento do acerto de nossa decisão projetual de 1989.

Ao mestre, o agradecimento.



PS.

Em 1992, o Terminal recebeu o Prêmio de Projeto do IAB-RJ.

Em 1993 foi exposto na Bienal Arquitetura de São Paulo.

Em 1996, foi incluído entre as principais obras selecionadas para a Exposição Internacional de Arquitetura de Barcelona, que ocorreu simultaneamente ao Congresso Mundial de Arquitetos.

Autoria: arquitetos Sérgio Magalhães e João Sampaio.

Colaboradores: equipe da SMU de Niterói.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Transporte metropolitano

Lucas Franco
A tese da transformação dos trens da Supervia em metrô, atendendo a Zona Norte, Zona Oeste e Baixada Fluminense, vai conquistando mais defensores.
Em artigo no Globo, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, comenta a situação desumana que ocorre todos os dias no deslocamento Baixada-Centro do Rio. O modo como chamou a atenção para a questão foi pela edição de decreto proibindo a passagem de caminhões pela via Dutra, quando cruza sua cidade, no horário de 6h até 10h.

Na verdade, é uma pena que devido as suas limitações administrativas, só lhe reste essa possibilidade: se desdobrar em medidas organizacionais paliativas afim de chamar a atenção daqueles capazes de resolver o problema de fato.

O eterno retorno da cópia

Luiz Flórido
Marisa Flórido, arquiteta e crítica de arte publicou texto na revista ISTO É sobre a exposição de Vik Muniz.
Segundo ela, o desejo que pairava no ar era para a crítica negativa, como todo esse frenezir artístico de 'meter o pau'.
Ela acredita que a causa de toda essa reação tenha a ver com a ostentação da exposição (a um custo de R$3.000.000,00), afligindo a classe artistica. Mas essa ostentação pode ser vista como importante forma de sedução para o grande público.
Em resumo: ela não embarcou nesse caminho fácil de 'meter o pau'. Fez um texto isento, procurando entender todo o processo e ressaltando as qualidades do mesmo.

Leia o texto de Marisa: O eterno retorno da cópia