terça-feira, 21 de agosto de 2012

Novos ares sopram no Porto e no velho Centro


Sérgio Magalhães
*Publicado originalmente no encarte especial  "Agora é com o Rio" do Globo em 13/08/2012
Três atributos caracterizam historicamente os centros das cidades: melhor acessibilidade, lugar mais bem infraestruturado, repositório dos equipamentos mais representativos. O centro é o espaço da identidade cidadã. As principais cidades mundiais reconhecem esse caráter vital. Assim, cuidam para que seus centros preservem aqueles três atributos.
Diferentemente, o Rio pouco investe na sua área central. Desde a construção do metrô, nos anos 1970, prioriza outras áreas. Há correlação entre decadência do Centro, degradação da Zona Norte, expansão em baixa densidade a Oeste, escassez de serviços, aumento da violência.
O aproveitamento do Porto como um novo polo de desenvolvimento vale como dádiva, após décadas de decadência do Centro. O acordo entre as três de governo, foi alcançado quando o Rio ganhou a Olimpíada.
Os jogos são aglutinadores de esforços. Juntar Olimpíada e Porto, implantando parte dos equipamentos de interesse olímpico na região, associaria o Centro aos Jogos e sinalizaria no sentido de sua recuperação.
O Porto Olímpico é fruto da sábia decisão de levar para lá as Vilas da Mídia e de Árbitros. Um concurso público de arquitetura escolheu os melhores projetos. Há pouco, foi anunciada a construção de 1.300 apartamentos, hotéis, apart-hotéis e edifícios comerciais.
Não podemos minimizar as dificuldades superadas. A quatro anos dos Jogos não podemos perder tempo e energia.
No Porto Olímpico, pode-se construir outras três mil habitações. Um Centro de Convenções poderá ser útil aos Jogos e à cidade. Investir aí fortalecerá São Cristóvão. O eixo olímpico Deodoro-Engenhão-Maracanã-Sambódromo é um estímulo à recuperação do corredor Central do Brasil.
Se a PPP da Área Portuária garante a obra de infraestrutura, o sucesso do Porto Maravilha depende da mais pronta ocupação de terrenos disponíveis e da qualidade urbana. É fundamental a diversidade de usos, comerciais, corporativos, culturais e residenciais. – gente de toda renda, as que já moram e as que vão chegar.
Não convém apostar muitas fichas em prédios com 50 andares, que não são poderosos ímãs do desenvolvimento, como alguns imaginam, e podem ser miragem.
É boa a parceria entre os Jogos, o Porto e o velho Centro — se recuperando em acessibilidade, infraestrutura e patrimônio. O lugar onde o Brasil construiu sua identidade.

5 comentários:

  1. Um concurso escolheu os melhores projetos?

    Qual a sua opinião em relação ao juízo da 2ª Vara da Fazenda Pública que concedeu liminar requerida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, onde refere:
    “Resulta cristalina a ilegalidade do ato impugnado, impondo-se, sob pena de grave prejuízo, ante o início das obras do Porto Olímpico, o deferimento da liminar requerida em todos os seus termos”

    Como está esse processo? Está sendo cumprida a deliberação na qual " O MP requereu também que a Prefeitura fosse obrigada a não contratar os dois dirigentes para desenvolvimento de seus projetos, “ante a ilicitude da proclamação de ambos como primeiro e segundo lugares do concurso Porto Olímpico” ?

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  2. Meu caro "anônimo": acompanhei o resultado do concurso e,independentemente de Ministério Público, achei o projeto vencedor do concurso o melhor projeto.

    A proposta vencedora destaca um prédio-símbolo, sobre um grande embasamento. É um marco da importância da região e das olimpíadas.

    Por outro lado, nenhuma das outras proposta teve um elemento único e pragmático, que operasse urbanísticamente como protagonista da realização e que fosse de relativamente simples e rápida construção.

    Lamento a mistura que se tem feito entre urbanismo e outros campos do conhecimento, como direito e política, para desqualificar o trabalho de todos que tornaram viável o atrelamento dos JO2016 e a Zona Porturária e a realização do concurso Porto Olímpico.

    Reforço: não entrei no mérito da posição do MP, até porque sou urbanista e no MP não tem ninguem com essa formação. Nem eu tenho formação de auditor.

    Sou convicto da frase: "Um concurso escolheu os melhores projetos" para o Porto Olímpico.

    Não vou defender a segunda proposta para não ser muito extenso mas ela é muito pertinente também. Recomendo a análise do processo de reconstrução da Potsdamer Platz em Berlin e a análise da proposta do escritório alemão Oswald Mathias Ungers, que se parece muito com a proposta que ficou com o segundo prêmio.

    Será que o "anônimo" é arquiteto?

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  3. Prezado , sou arquiteto/urbanista e não achei o vencedor do concurso o melhor projeto. Você achou. Outros acharam ainda outras coisas. Por isso um concurso serve justamente para isso, para retirar a ciência do conhecimento chamada "achismo" da equação, sabendo que algum grau de subjetividade na avaliação de projetos estará sempre presente. Por isso se nomeia um juri, e se tenta assegurar a máxima imparcialidade dos mesmos com os concorrentes, para que não sobre a mínima sombra de dúvida sobre os resultados, o que não foi o caso. Assim o concurso está envolto numa penumbra que faz com que o seu "achismo" seja no mínimo questionável e sua convicção preocupante.

    Concordo no entanto consigo quando separa as águas entre a decisão do Ministério Público e a decisão do Juri. Um julga uma coisa e o outro outra. O MP não tem que avaliar a qualidade do projeto, mas a qualidade da decisão do juri , se este foi imparcial ou não, e o MP disse claramente que não tinha essa garantia pedindo a eliminação dos 1º e 2º classificados.

    Agora discordando, falemos de arquitetura e urbanismo, grave erro ( também preocupante por sinal ) quando afirma que o urbanismo não tem interseções com outros campos do conhecimento, na minha formação de urbanista tive direito durante 2 anos bem com economia , sociologia, geografia, e também 2 anos de politicas urbanas. Na prática profissional todas estas ciências estão diariamente presentes. O urbanismo é pela sua natureza, não uma disciplina mas o cruzamento de várias, sobretudo direito e politica.

    Não sei se é urbanista, vejo que sim ( o que mais uma vez me preocupa ), deve saber com certeza a proximidade dos conceitos "cidade" e "politica" ambos derivados do grego "pólis". Estamos conversados então sobre o seu lamento.

    Quando à solução de projeto, ela é uma importação de conceitos já ultrapassados. A falta de uma identidade carioca, quando seria o momento perfeito para fazer uma releitura do maravilhoso modernismo que Lúcio Costa entre outros nos deixaram, o importar de conceitos de uma arquitetura já datada do século passado, de volumes envidraçados maquiados, não adaptados às latitudes em que o local do concurso se encontra e que já se provaram que só são possíveis graças a soluções tecnológicas altamente dispendiosas e pouco sustentáveis na sua construção e manutenção. Na solução apresentada pelo 2º classificado é ainda mais constrangedora sobretudo na componente habitacional, apresentando uma monotonia de soluções, e aqui entrarei na subjetividade achistica, de baixíssima qualidade arquitetônica, achismo partilhado por vários colegas de profissão.

    Sobre a referência da Potsdamer Platz, em Berlim: mais uma vez a importação de conceitos sem a devida reflexão corre estes riscos. Berlim e a Potsdammer Platz tem uma contexto urbano e histórico bastante diferentes, que eu saiba a àrea portuária e o Rio de Janeiro não foi bombardeada e arrasada durante a 2ª Grande Guerra. A intervenção foi também contemporânea feita na ascensão de um modelo econômico neo-liberal na Alemanha que se materializou nos grandes volumes envidraçados. Ora justamente o Brasil é hoje a 6ª potencia mundial porque no contexto mundial rejeitou o consensualismo desse modelo econômico e o ícone que deveríamos buscar deveria ir justamente na direção contrária aos volumes envidraçados. Falta apenas referir que Berlim não está na mesma latitude do Rio de Janeiro e as questões bioclimáticas são bem diferentes.

    Bem, espero que continuemos debatendo e que este debate se torne público para assim envolver a sociedade carioca principal interessada na melhor e mais transparente ( sem referencia arquitetônica a vidros ) solução para a cidade.

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  4. "Anônimo",
    Obrigado pela resposta atenciosa. O debate já se tornou público aqui, pois é de livre acesso e participação.

    Não defendi o vidro como revestimento predominante para o Rio de Janeiro. A volumetria do prédio principal do primeiro premiado é que merece reconhecimento.

    No segundo prêmio, a solução para as quadras ao lado da estação de ônibus tem uma imagem repetitiva, mas traz unidade e boa proporção para as ruas que permeiam a região.

    O exemplo de Unguers na Potsdamer Platz é interessante, pois define a "rua corredor" com prédios de até cinco pavimentos e permite prédios mais altos no interior das quadras e em algumas esquinas, como no segundo prêmio do "Porto Olímpico".

    Com o tanto que tens a dizer, verificado a partir do seu segundo comentário, é de se estranhar a indelicadeza do primeiro.
    Um abraço.
    E salve o livre debate na Internet!


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  5. Salve salve... volto à indelicadeza ( até que fui carinhoso ) informando que não fiz parte do concurso nem como participante nem como juri nem coisa nenhuma.

    Tem como responder à segunda pergunta do primeiro comentário Como está esse processo?

    Está sendo cumprida a deliberação na qual " O MP requereu também que a Prefeitura fosse obrigada a não contratar os dois dirigentes para desenvolvimento de seus projetos, “ante a ilicitude da proclamação de ambos como primeiro e segundo lugares do concurso Porto Olímpico” ?

    Em que fase estão os projetos? Tem algum escritório contratado? Está algum escritório trabalhando nos projetos?

    Agradeço resposta objetiva pelo livre debate na Internet...

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