Sérgio Magalhães
Há poucos dias fiz um comentário comparando os PIBs dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Mostrei que a relação entre PIB/Área é maior no RJ do que em SP. Terminei assim a nota: “Fosse pela economia, as estradas do RJ teriam que ser melhores, os equipamentos, as infra-estruturas. Assim, deve haver outra explicação para a diferença entre qualidades...”
Continuei a pesquisar, para ver se decifrava o enigma: se a “densidade econômica” do RJ é mais alta do a de SP, por que a diferença entre a qualidade das infra-estruturas estaduais? Os recursos dos governos estaduais são proporcionais às respectivas economias? Ou será que o governo fluminense tem proporcionalmente menor orçamento do que o paulista?
As perguntas me pareceram pertinentes, porque não é o PIB que constrói e mantém as infra-estruturas, os equipamentos, os serviços públicos. É o governo, através de seus recursos financeiros, traduzidos pelo Orçamento.
Foi aí que fiquei mais perplexo: o estado do Rio de Janeiro tem maior “densidade orçamentária” do que o estado de São Paulo. Isto é, o RJ tem mais recursos orçamentários por km² do que SP.
Procurei a economista Sol Garson, ex-secretária de Fazenda, para me ajudar a conferir. Pelos dados do Ministério da Fazenda, para 2008, a receita de SP foi de 103 bilhões de reais enquanto a do RJ foi de 40 bilhões. Comparados pela área de cada estado, SP tem orçamento de R$ 415mil / km² enquanto o RJ tem R$ 917mil / km².
E como as despesas são muito próximas das receitas, podemos dizer que a média de gastos por km² no RJ é 2,2 vezes maior do que em SP.
Estudo semelhante para outros estados, indica posição privilegiada do Rio: sua “densidade orçamentária” é 9 vezes maior do que a do Paraná, 12 vezes maior do a do Rio Grande do Sul e 15 vezes maior do que a de Minas Gerais.
Proporcionalmente ao tamanho do território a ser mantido, o estado do Rio é o mais rico e tem o governo com mais dinheiro, entre todos os estados brasileiros.
E agora?
Parece estar subentendido pela PCRJ e IPHAN, e isso é positivo, que a formulação de diretrizes não deva se restringir à expectativa da candidatura ao título da UNESCO, ainda que, por si, o processo seja um excelente estímulo para um engajamento coletivo, que alimente a percepção do valor da paisagem urbana do Rio e por conseqüência, sua preservação.
O Parque do Flamengo extrapolou fronteiras, justo pela originalidade de sua concepção paisagística. Por isso, tem lugar definitivo na história da luta silenciosa entre os modelos de tratamento de espaços, observada no artigo anterior. Re- ouvir melhor a potencialidade paisagística do Parque é provavelmente o que faria hoje seu criador, pois nas palavras de Lucio Costa, “Roberto Burle Marx é simplesmente um compositor de velha estirpe que se expressa por outra via – a visual”.








Mas, agora, a Câmara decide se mudar da Cinelândia. Alega que não há condições adequadas para o seu trabalho nos imóveis que lhe estão disponíveis. Precisa de prédio novo, maior.