segunda-feira, 5 de abril de 2010

Desigualdade Induzida

Lucas Franco
O crescimento das cidades, particularmente, os números recentes que apontam para a superioridade da população urbana sobre a rural, nos fazem refletir cada vez mais sobre os modelos de urbanização e as suas consequências sobre o desenvolvimento social.
Em um artigo publicado no jornal O Globo do último sábado, o arquiteto Sérgio Magalhães fez uma alerta, discorreu sobre alguns desses modelos e pleiteou um padrão mais consciente e igualitário:
“O desenvolvimento nacional é urbano, mas assimétrico. A cidade, que incluiu, também apresenta índices inaceitáveis de desigualdade social.
Recente estudo realizado entre 63 países em desenvolvimento, divulgado pela ONU/Habitat, situa cinco cidades brasileiras entre as vinte socialmente mais desiguais do mundo. Goiânia, no rico Centro-Oeste, é a mais desigual entre as brasileiras, seguida de Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Curitiba.
Ironicamente, três delas são novas capitais planejadas.
A que atribuir essa marca? A desigualdade social intraurbana, é claro, é fundada na estrutura econômica e política da sociedade.
Mas também razões urbanísticas respondem pela desigualdade. Entre estas, devemos considerar a expansão da cidade em baixa densidade populacional, carente de infraestrutura e serviços.
(...)
Todos sabemos que a carência de infraestrutura, de transporte adequado e de serviços públicos dificulta aos pobres a inserção na educação, no trabalho e no desenvolvimento.
Expandir a cidade, assim, será um reforço à desigualdade e pereniza a injustiça.
O Rio pode dispensar a expansão em novos parcelamentos, mesmo ricos.
Estes também aumentam os custos urbanos. A cidade tem suficientes territórios intraurbanos a ocupar, inclusive vazios centrais.
Lugares a serem recuperados, retirados da anomia, bairros deprimidos que, no entanto, por sua localização, história e cultura podem perfeitamente voltar a ter vitalidade. Inúmeros bairros privilegiados têm ampla condição de abrigar a emergente classe média. Nesse sentido, a região das Vargens Grande e Pequena, na Barra, deveria permanecer tal como definida no Plano Lúcio Costa, destinada a sítios e chácaras. Lembremos que sua área equivale a 25 vezes os bairros de Copacabana e Leme somados. Como pode interessar à cidade tal expansão? O futuro da cidade passa pela qualificação continuada, estratégica, de seu espaço urbano-metropolitano.
É um desdobramento impositivo à capacidade demonstrada pelo sistema urbano brasileiro de incluir milhões de cidadãos. Faz parte de seu desafio, agora, combater a desigualdade.”

Leia aqui o artigo de SM: Desigualdade induzida.

Um comentário:

  1. Caro Sérgio:

    Li o artigo é excelente!! Você fez uma bela síntese. Considerou aspectos muito importantes relativos à expansão da cidade e da metrópole com os quais concordo inteiramente. A concordância refere-se a insistência no modelo de expansão de moradias para a área do arco metropolitano e a outra de estímulo a novas construções na Vargem Grande e Pequena.

    Essas duas áreas coincidentemente tem na sua retarguarda áreas de preservação importantes.Tanto a área do arco quanto a das vargens possuem nas suas bordas cobertura de mata bastante expressiva que merecem atitude de precaução evitando-se colocar em risco recursos e/ou aumentar a pressão. Sua ocupação deveria conciliar usos com a natureza destinando os espaços à sítios, chacaras, áreas de lazer, cultivos de plantas ornamentais, atividades de baixo impacto que oportunizam maior harmonia e sustentabilidade no espaço urbano e metropolitano.

    A região metropolitana possui inúmeros vazios que se prestariam aos usos propostos pelo plano diretor estratégico de desenvolvimento sustentável metropolitano, como você bem destacou. Nas vargens o estímulo a atividades de agricultura urbana aliada aos usos já citados proporcionaria vários benefícios à área e a cidade. Reconcilia a área com sua história, eleva a qualidade de vida e contribui para o desenvolvimento sustentável.

    Parabéns!!
    Abraços, Tereza Coni.

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