segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Maraca é nosso?

André Urani*
**Artigo publicado originalmente no jornal O Dia de 17/10/2011
O Maracanã é um dos símbolos mais queridos da nossa cidade. Quase todos temos lembranças importantes daquele que já foi o maior do mundo. No meu caso, foi lá que virei Flamengo, me deliciando com o do time de Zico, Júnior, Adílio e tantos outros. Que vibrei, com outros mais de 100.000 flamenguistas, com a conquista histórica do Brasileiro de 1981. Que assisti jogos da seleção da geral. Que me esbaldei no show do Rolling Stones.

Mas o Maraca foi ficando velho, e praticamente ninguém chiou quando se decidiu reformá-lo, no final dos anos 90 e, mais uma vez, em meados da década passada, para prepará-lo para o Pan. O resultado até que foi bom: sem grandes luxos, mas assentos para todos (ainda que muita gente insistisse em ficar de pé até em cima das cadeiras...), banheiros mais decentes e outros pequenos detalhes ajudaram a trazer de volta para o estádio não só o público em geral, mas as famílias. Se chiadeira houve – e não foi tanta assim – foi em relação ao custo destas reformas (mais de meio bilhão de Reais em valores atualizados, mais do que se gastou para construir o estádio mais caro da Copa na Alemanha) e à falta de transparência do processo como um todo.

E agora estamos passando por mais uma reforma, para a Copa de 2016. Quem passa por ali fica até com medo de olhar direito: praticamente não sobrou pedra sobre pedra e poucos têm idéia do que vai surgir ali. O valor da obra começou em 705 milhões de Reais, chegou a ser estipulado em 1,1 bilhão e hoje se fala em algo em torno de 800 milhões.

Foi por este conjunto de razões que o movimento Meu Rio, de que falei aqui na semana passada, resolveu começar suas atividades procurando mobilizar a opinião pública carioca em torno deste tema. Em seu site (www.meurio.org.br), o cidadão comum é convidado a se manifestar de diferentes formas: esta reforma é válida? Vamos gostar deste novo Maracanã? Será que queremos gastar este dinheirama na reforma de um estádio (não seria preferível, por exemplo, destinar mais recursos à pacificação?). O principal objetivo de curto prazo, porém, é que o Meu Rio está colhendo assinaturas para uma petição para exigir do Governo do Estado e da Prefeitura a publicação de uma série de documentos públicos que já deveriam, há tempos, estarem à disposição de todos. Não para encurralar quem quer que seja, mas para termos mais chances de podermos sentir, no futuro, que o Maraca é mesmo nosso.

*Economista, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS).

5 comentários:

  1. Caro André Urani,

    Todos nós temos lembranças daquele estádio.
    No meu caso, um pouco antes da sua experiencia, foi lá que entrei em campo com meu time de nascença, já que nunca "virei" Tricolor... Sempre fui.
    Lá pelos anos 50 e muitos, Castilho, Jair Marinho, Pinheiro, Clóvis e Altair, meio de campo não me lembro, mas tínhamos Telê, Maurinho Valdo e Escurinho, na "linha", como chamávamos. Bons tempos.
    Lamentávelmente, o Maraca não é nosso.
    Pode ter sido naquela época. Agora não.
    O Maraca pertence a uma turma que não tem amor pelo football. Pertence a umas pessoas que deteem o poder de determinar o quanto vão se beneficiar com os lucros das armações infernais que nunca chegarão ao conhecimento do povo.
    A última reforma, diz você, " o resultado até que foi bom ", acabou com a circulação pelo anel superior, eliminando a aeração ( lembra daquele ventinho ?)em benefício de camarotes imorais onde chegavam de carro, às vezes oficiais, pela rampa e a circulação projetadas para os mortais".
    A destruição da "geral", com um custo gigantesco e o conjunto de obras executado é prova da incompetência e do crime contra o patrimônio.
    Tudo feito para o Pan, pelos geniais engenheiros e alguns "arquitetos oficiais" foi ao chão, provando a incompetencia e imoralidade dos processos.

    Agora , caro André, estamos gastando bilhões para a copa, e atenção, corrija seu texto, é 2014, não 2016, para fazer um estádio ridículo, com visibilidade reduzida, para um público reduzido, contrário a todos os parâmetros modernos de estádios de football, com um custo bilionário.

    Quem tem peito para "exigir" o que for do Governo do Estado ou da Prefeitura ?
    Publicar os documentos ? Ho...ho...ho..., como diria Papai Noel...
    Jamais vamos "encurralar" quem quer que seja. Não temos poder para isso. Estamos vendidos.

    Lamentavelmente, o Maraca não é nosso.

    E pior, lá não vão caber as nossas torcidas no próximo Fla Flu...

    Ricardo Villar

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  2. Ontem , pelo jornal O globo, pude ver o que o Oscar Niemeyer está projetando pra Rocinha. Não acredito que os arquitetos cariocas compraram o projeto; em total falta de sintonia com o bairro, a cidade e até mesmo com o país. Será isso mesmo?

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  3. Oi, André!,
    Parabéns por sugerir o debate!

    Estou de acordo com as ponderações do Pedro da Luz. Tudo o que for transparente é melhor. E todo projeto público merece ser debatido, pra que se atinja o máximo de possibilidades de melhora.

    Só a observar o seguinte: a primeira reforma (no segundo governo Brizola) era emergencial; o estádio parecia que ia cair a cada gol do Flamengo (e chegou mesmo a cair, em parte, na final do Brasileiro de 92), tanto é que a maior mudança foi a colocação de pilares sob as arquibancadas, onde eram as antigas cadeiras azuis. Isso piorou a visibilidade naquele pedaço, que já era ruim (um tiro de meta batido muito alto não se via).

    A segunda reforma é que mudou mesmo a cara do estádio e diminuiu sua capacidade, o que foi ótimo, na minha opinião. Em mais de uma ocasião passei por perrengues inacreditáveis lá dentro ou na entrada. Duzentos mil num estádio só era possível no tempo em que Dondon jogava no Andaraí e os torcedores iam pra lá de terno de linho e chapéu. A gente precisa parar com essa nossa mania de grandeza. O nosso estádio não precisa ser "o maior do mundo". Isso era necessário na época em que o nosso complexo de vira-latas exigia esse tipo de bravata, para ser combatido.

    O estádio ficou mais confortável e seguro, e esses dois benefícios superam quaisquer outras perdas. Qualquer grande estádio moderno é dividido em setores. Mais do que isso, tem lugares marcados. Estávamos acostumados a mudar de lugar durante os jogos? Paciência, a gente se acostuma a escolher um lugar só.

    Também não lamento em nada o fim da geral. Muito menos das cadeiras azuis (agora, pelo pouco que sei, vai ser tudo uma grande arquibancada, de alto a baixo). Como disse, as cadeiras azuis nunca tiveram boa visibilidade (os antigos camarotes, então, eram péssimos). E a geral, menos ainda. Não dava pra ver as linhas de marcação no campo, era desconfortável e propício a arrastões.

    Abrs,

    PS: Felizmente, a torcida rubro-negra não cabe em NENHUM estádio, nunca coube, nem caberá jamais. Flu x Botafogo, Flu x Vasco e Vasco x Botafogo não lotam nem o Engenhão.

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  4. Caro André Urani:

    O problema do Maracanã, assim como outras obras brasileiras é a intransparência, que no meu entendimento só pode ser conseguida dando protagonismo ao projeto. As variações no orçamento da obra, que vc menciona são debatidas nos jornais, os valores sobem e descem e poucas imagens são mostradas de como ficará o estádio. Não há possibilidade de se avaliar o custo e benefícios das mudanças sem que o projeto seja intensamente debatido. Até hoje ainda não vi, plantas, cortes, fachadas, perspectivas de como ficará o novo maraca. Deveriamos avaliar este tipo de coisas, que todo projeto nos informa quando bem desenvolvido; O que será coberto? Quais as formas de acesso aos diversos setores? Como são os assentos? Onde estão comodidades como bares e banheiros?
    Enfim deveriamos debater os principios da reforma, que determinam ações concretas, que estão articuladas a custos e orçamentos preliminares, que acabam por estruturar uma reforma. Neste processo, os benefícios podem ser medidos e a sociedade tem consciência dos custos. A palavra projeto - pro e jactar - significa lançar com antecedência. Os custos de um projeto ficam em torno de 4% do valor da obra. Sua contratação de forma transparente é que permite simular as ações concretas de qualquer obra. Infelizmente esta cultura de planejar e projetar ainda não é levada a sério no país.

    Saudações rubro-negras

    Pedro da Luz Moreira

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  5. Estou postando novo comentário, pois meu endereço eletrônico está errado na postagem anterior...

    Caro André Urani:

    O problema do Maracanã, assim como outras obras brasileiras é a intransparência, que no meu entendimento só pode ser conseguida dando protagonismo ao projeto. As variações no orçamento da obra, que vc menciona são debatidas nos jornais, os valores sobem e descem e poucas imagens são mostradas de como ficará o estádio. Não há possibilidade de se avaliar o custo e benefícios das mudanças sem que o projeto seja intensamente debatido. Até hoje ainda não vi, plantas, cortes, fachadas, perspectivas de como ficará o novo maraca. Deveriamos avaliar este tipo de coisas, que todo projeto nos informa quando bem desenvolvido; O que será coberto? Quais as formas de acesso aos diversos setores? Como são os assentos? Onde estão comodidades como bares e banheiros?
    Enfim deveriamos debater os principios da reforma, que determinam ações concretas, que estão articuladas a custos e orçamentos preliminares, que acabam por estruturar uma reforma. Neste processo, os benefícios podem ser medidos e a sociedade tem consciência dos custos. A palavra projeto - pro e jactar - significa lançar com antecedência. Os custos de um projeto ficam em torno de 4% do valor da obra. Sua contratação de forma transparente é que permite simular as ações concretas de qualquer obra. Infelizmente esta cultura de planejar e projetar ainda não é levada a sério no país.

    Saudações rubro-negras

    Pedro da Luz Moreira

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