Sérgio Magalhães
Começou a ser construída a estrada que passará ao norte da cidade metropolitana do Rio, abaixo das fraldas da Serra do Mar, ligando o
Comperj (Complexo Petroquímico da Petrobras, em construção no município de Itaboraí) ao
porto de Sepetiba (município de Itaguaí) e ao pólo siderúrgico CSA.
Olhe o mapa: está nítido que se trata de uma obra importante.
O Arco será capaz de retirar das principais avenidas metropolitanas (Avenida Brasil, Presidente Dutra, Washington Luiz, Ponte Rio-Niterói) parte importante da movimentação de cargas e melhorar o fluxo logístico da Região.
Mas, agora, dê outra olhadinha no mapa. Veja como o Arco passa para além da trama urbana (mancha branca). Corretamente, ele se localiza onde há pouca ocupação urbana.
Este desenho acima apresentei em Seminário realizado em 2007, a convite do Governo do Estado. As bolinhas vermelhas indicam as conexões desejáveis entre o Arco e o sistema urbano metropolitano. Isto é, na minha opinião, o Arco tem que ser
estanque longitudinalmente, não oferecer entradas e saídas senão em pontos bem determinados. Tal como a Linha Vermelha; não como a Dutra ou a Avenida Brasil, as quais tem marginais que permitem acesso em qualquer ponto.
Mas, no sentido transversal, o Arco precisa ser
permeável. Ou seja: deve permitir a continuidade do tecido sobre o qual passa –talvez sobranceiro.
Estanqueidade, para que? Para dificultar a ocupação desses territórios por onde o Arco passará. Essas áreas não tem infra-estrutura, não tem equipamentos, são muito pobres. Se não houver cuidado, elas estarão à mercê da especulação mais cruel, aquela que levará para lá as famílias mais pobres, expandindo as cidades para além da conta, justamente essas cidades que fazem um esforço gigantesco para dotar de infra-estrutura seus bairros mais distantes. Nesses pontos de conexão, sim, será conveniente o acesso para que a implantação de equipamentos seja adequada ao desenvolvimento local.
Permeabilidade, para que? Justamente para que o Arco não rompa os frágeis sistemas viários/hídricos/culturais por onde passa. Assim, quem hoje circula entre esses bairros deverá continuar a fazê-lo sem impedimento, sem exigir-se que entre no leito do Arco Metropolitano, pegue o primeiro retorno, chegue do outro lado, e aí então desça para o bairro que antes estava a poucos metros e ficou a quilômetros...
O Globo de hoje tem uma
reportagem com o arquiteto Vicente Loureiro, subsecretário de Obras do Estado, responsável pelo Arco. Aparentemente, Loureiro tem um visão diferente.
Não fica muito clara no jornal, pois a matéria é, merecidamente, laudatória; não é explicativa do projeto. Para mim, permanece a necessidade de mais detalhes.