segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Brasília by Cingapura

Sérgio Magalhães
*Artigo publicado originalmente no jornal O Globo de 10/11/2012

Tal como a literatura, a pintura, a música, entre outras manifestações do espírito humano, também a arquitetura e o urbanismo expressam o tempo e o contexto em que se apresentam. Sendo trabalhos de autor, também são produtos embrenhados no coletivo.

Há raros exemplos no mundo de cidades produzidas tão claramente como expressão de um tempo e de determinadas circunstâncias como Brasília.


A maestria de Lúcio Costa é que permitiu a estruturação simples e monumental da nova cidade; a invenção de Oscar Niemeyer é que ofereceu a síntese formal capaz de comunicar um novo tempo. A união entre os projetos urbanístico e arquitetônico fez surgir imagens tão belas e tão impregnantes que deram a certeza de que começava um novo país. Essa convicção levou a que, tendo se realizado o concurso público para escolha do Plano Piloto em 1957, a nova capital pudesse ser inaugurada já em 1960.


É claro que os arquitetos de Brasília, dos mais bem informados de seu tempo, sabiam o que acontecia em outros lugares, conheciam as arquiteturas mais prestigiadas, e delas recebiam influências importantes — e também nelas conformavam novos valores.


Este preâmbulo é para lamentar o que está sendo proposto para a capital do país. O governo do Distrito Federal acaba de contratar uma empresa de Cingapura para elaborar plano econômico-urbanístico que oriente o desenvolvimento da cidade nas próximas cinco décadas: “Brasília 2060”. (Aliás, contratada sem concurso público, sem licitação.)


É louvável que o governo do DF busque planejar o futuro de Brasília.


É necessário que cada cidade tenha seu sistema de planejamento, seus planos e projetos — concebidos e debatidos amplamente, para terem legitimidade. Planos para a composição do território no médio e no longo prazos. As cidades não podem ser projetadas apenas para um mandato, como uma decisão de governo.


Brasília cresceu e se multiplicou, tão sem cuidados adequados como as demais grandes cidades brasileiras. Assim, a “capital da esperança”, Patrimônio Cultural da Humanidade, precisa desenhar-se para além do Plano Piloto, do qual é indissociável.


Certamente, é um trabalho urbanístico sofisticado, que — à altura daquele talento fundador da cidade — exige a compreensão das dimensões políticas, sociais, econômicas e culturais em jogo. Brasília não é de um governo. Brasília é a cultura brasileira plasmada no espaço do Planalto Central.


Planejar-se o futuro de Brasília a partir de pranchetas localizadas em Cingapura é um ato de lesa-cultura. O país não pode dar a si mesmo um atestado de deslumbramento ingênuo ante expressões urbanísticas e arquitetônicas de outro contexto e de outra cultura — as quais, aliás, e com todo o respeito, se apresentam como transplantadas dos países mais desenvolvidos.


O Brasil tem 20 metrópoles, duas megacidades, uma população urbana de 175 milhões de pessoas, que tem demonstrado determinação invulgar ao construir o seu sistema de cidades.


A capital federal é o símbolo material desse espírito.

2 comentários:

  1. Me desculpe, acho que ninguem entende nada de Brasília. O tombamento da cidade, fora feita sem participação popular, pura e simplesmente por um governador biônico com intuito de fazer em Brasília, o que se fez na Africa do Sul. Um aparthaid. E conseguiu. Pior, tem defensores dessa idéia RIDICULA. Pior ainda, mancharam a honra de Oscar Niemeyer, aquele mesmo que era contra o tombamento por acha idiotice, coisa para inglês ver. Já repararam que apenas defendem a idéia são os RICOS? E mais, Oscar Niemeyer concordava com a idéia de desenvolver as áreas fora da área tombada, para com isso, acabar com a pressão na área tombada. Pior, que arquitetos e engenheiros corporativistas, que não tem apoio do GDF pra nada, e nem vai ter. Querem agora passar por cima da lei 8.666. Graças a DEUS, os 99% dos brasilienses que são contra o tombamento da forma que fora feito, aplaudem o que o GDF pretende. Agora para deixar a mente das pessoas mais abertas, justamente os defensores do tombamento foram os mesmos algozes do Oscar Nimeyer em Brasília devido a proposta da Praça que ele pretendia implantar. Um bando de lobos disfarçados de ovelhas. E outra, a capital federal é PROPRIEDADE FEDERAL, não pertece nem a familia Costa e tão pouco a familia Niemeyer. E pior, não pertece nem a IAB e CAU.

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  2. Maus um comentário. Se tivesse ocorrido um concurso público internacional, e a mesma empresa tivesse ganhou. Os arquitetos estariam enchendo o saco do mesmo jeito. Tanto é assim, que existe um embate entre arquitetos e engenheiros em Brasília, e o GDF já tem um aviso. Dinheiro público não será mais empregado na Bienal de Arquitetura de Brasília. Então, já tem 8 anos que não tem, e não terá mais bienal em Brasília.

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