O jornalista Fernando Molica, aderindo ao Projeto Lima Barreto, incluiu nota em seu blog, hoje. Dêem uma chegadinha lá.
http://www.fernandomolica.com.br/
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Projeto Lima Barreto
Este blog tem o prazer de anunciar que o movimento social pela recuperação dos subúrbios da Zona Norte já tem nome. O padrinho é o jornalista e romancista Fernando Molica.
Para Molica, Lima Barreto (também jornalista e romancista...) é o nome certo, por sua carioquice, por sua mulatice nestes tempos de Barack, mas sobretudo por sua referência na compreensão do Rio de Janeiro em sua integridade urbana, na qual a Zona Norte e os Subúrbios são chave para o desenvolvimento.
Para Molica, Lima Barreto (também jornalista e romancista...) é o nome certo, por sua carioquice, por sua mulatice nestes tempos de Barack, mas sobretudo por sua referência na compreensão do Rio de Janeiro em sua integridade urbana, na qual a Zona Norte e os Subúrbios são chave para o desenvolvimento.
Êrro de alvo
Edmund Phelps, Nobel de Economia de 2006, avalia que o Rio de Janeiro permanece estagnada, enquanto São Paulo cresce cada vez mais. Para ele, a estagnação se evidencia com “uma pobreza cada vez mais visível nas favelas”. O Globo, 18jan09
O que para Phelps é o aumento da pobreza nas favelas poderá ser entendido como um aumento das áreas degradadas na cidade. De fato, não aumentou a pobreza nas favelas, isto é cientificamente mensurável. Aumentou a deterioração do tecido urbano, não porque as favelas estejam crescendo, mas porque a cidade legal está se esboroando, sem vitalidade econômica, sem bom transporte, sem segurança, com edifícios abandonados. Este quadro ocorre mais fortemente na Zona Norte suburbana, onde moram 3 milhões de cariocas, e onde se localizava a maior parte das indústrias. Aliás, a ZN é a primeira e a última a ser percebida por quem chega e por quem sai do Rio de Janeiro.
O arrasamento dos subúrbios resulta sobretudo de erros urbanísticos estratégicos desde o tempo de Estado da Guanabara, como a expansão estimulada para o Oeste e a canalização de recursos públicos para a construção de nova centralidade carioca localizada na Barra da Tijuca. Com o evidente esvaziamento do Centro –que é da cidade e também da metrópole.
É cada vez mais crucial a escolha certa de cada ação pública. Sem uma política clara de desenvolvimento, as ações servem à dispersão dos esforços coletivos.
A questão da violência, por exemplo. A vitória da civilidade sobre a bandidagem se dará com a legalidade retomando os territórios da anomia, e aí permanecendo. O foco, portanto, é a permanência, não é a incursão. Retomar e permanecer já agora é uma preliminar absoluta para a recuperação da cidade.
Enquanto esse tempo não chega, a mira precisa ser ajustada ao alvo. Não dá para continuarmos mirando na sombra do alvo. A favela é a sombra do alvo. Apontando para a favela, continuamos a desconsiderar as verdadeiras causas da estagnação e da decadência. Teremos que escolher bem neste ínterim. Mas, com certeza, a recuperação da Zona Norte suburbana precisa estar no centro do alvo.
O que para Phelps é o aumento da pobreza nas favelas poderá ser entendido como um aumento das áreas degradadas na cidade. De fato, não aumentou a pobreza nas favelas, isto é cientificamente mensurável. Aumentou a deterioração do tecido urbano, não porque as favelas estejam crescendo, mas porque a cidade legal está se esboroando, sem vitalidade econômica, sem bom transporte, sem segurança, com edifícios abandonados. Este quadro ocorre mais fortemente na Zona Norte suburbana, onde moram 3 milhões de cariocas, e onde se localizava a maior parte das indústrias. Aliás, a ZN é a primeira e a última a ser percebida por quem chega e por quem sai do Rio de Janeiro.
O arrasamento dos subúrbios resulta sobretudo de erros urbanísticos estratégicos desde o tempo de Estado da Guanabara, como a expansão estimulada para o Oeste e a canalização de recursos públicos para a construção de nova centralidade carioca localizada na Barra da Tijuca. Com o evidente esvaziamento do Centro –que é da cidade e também da metrópole.
É cada vez mais crucial a escolha certa de cada ação pública. Sem uma política clara de desenvolvimento, as ações servem à dispersão dos esforços coletivos.
A questão da violência, por exemplo. A vitória da civilidade sobre a bandidagem se dará com a legalidade retomando os territórios da anomia, e aí permanecendo. O foco, portanto, é a permanência, não é a incursão. Retomar e permanecer já agora é uma preliminar absoluta para a recuperação da cidade.
Enquanto esse tempo não chega, a mira precisa ser ajustada ao alvo. Não dá para continuarmos mirando na sombra do alvo. A favela é a sombra do alvo. Apontando para a favela, continuamos a desconsiderar as verdadeiras causas da estagnação e da decadência. Teremos que escolher bem neste ínterim. Mas, com certeza, a recuperação da Zona Norte suburbana precisa estar no centro do alvo.
Beira-Mar restaurada
O Rio tem poucas paisagens clássicas construídas apenas com edifícios.Dentre elas, citaria: -a perspectiva da Av. Presidente Vargas, com a Candelária ao fundo; e -o conjunto que vai do Passeio Público à Av. Presidente Antonio Carlos, passando pela Mesbla + ed. Serrador + Cinelândia + Beira-Mar, visto desde o Aterro.
Pois esta última paisagem durante alguns anos ficou meio periclitante, depois que a Shell deixou sua antiga sede, à Av. Presidente Wilson com Beira-Mar, e foram anunciados alguns projetos em substituição ao belíssimo edifício Art-Déco, datado de 1935. Um desses projetos, aliás, tinha a bizarra forma de livros empilhados...
Pois, agora, o antigo prédio está totalmente recuperado, funcionando no local os cursos do Ibmec. (Lembre-se: o Ibmec é prestigiosa instituição de ensino em economia, administração e finanças.) Faz muito bem para o nosso coração e para o Rio este resultado.
A população chega ao comício das Diretas Já, na Av. Presidente Vargas, tendo ao fundo a Igreja da Candelária, 10 de agosto de 1984. (Agência JB. Foto de Almir Veiga); Edifício Mesbla (COHEN, Alberto A.. Rio de Janeiro: ontem e hoje.Rio de Janeiro: Amazon, 1998); A Praça Paris e o Edifício Serrador, ao fundo (i.pbase.com)
Pois esta última paisagem durante alguns anos ficou meio periclitante, depois que a Shell deixou sua antiga sede, à Av. Presidente Wilson com Beira-Mar, e foram anunciados alguns projetos em substituição ao belíssimo edifício Art-Déco, datado de 1935. Um desses projetos, aliás, tinha a bizarra forma de livros empilhados...
Pois, agora, o antigo prédio está totalmente recuperado, funcionando no local os cursos do Ibmec. (Lembre-se: o Ibmec é prestigiosa instituição de ensino em economia, administração e finanças.) Faz muito bem para o nosso coração e para o Rio este resultado.
A população chega ao comício das Diretas Já, na Av. Presidente Vargas, tendo ao fundo a Igreja da Candelária, 10 de agosto de 1984. (Agência JB. Foto de Almir Veiga); Edifício Mesbla (COHEN, Alberto A.. Rio de Janeiro: ontem e hoje.Rio de Janeiro: Amazon, 1998); A Praça Paris e o Edifício Serrador, ao fundo (i.pbase.com)
Universitários no Centro
Esta nota anterior nos remete ao que parece ser uma tendência de instalação no centro da cidade de cursos universitários particulares, como este do Ibmec. A Cândido Mendes talvez tenha sido a pioneira. A Estácio de Sá veio mais recentemente, instalando seus cursos em alguns edifícios localizados à Av. Presidente Vargas.
Será que a UFRJ, universidade pública, precisa mesmo sair do centro?
Foto: Lafem Engenharia
Será que a UFRJ, universidade pública, precisa mesmo sair do centro?
Foto: Lafem Engenharia
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
São Paulo bem tratada
Semana passada foi Edmund Phelps, Nobel de Economia de 2006, quem elogiou o dinamismo da cidade de São Paulo. Hoje, é Gilberto Dimenstein quem ressalta a organização e a mobilização que fazem da cidade uma outra, muito melhor. É claro que a cidade se beneficia da hegemonia econômica que a faz a mais importante do Brasil, inclusive politicamente. Mas, não é apenas agora que isso ocorre –já há décadas São Paulo está nessa condição.
O novo, o que é notícia, é justamente o tratamento que a cidade tem recebido, com investimentos importantes nela mesma, na sua recuperação, no seu embelezamento, na sua segurança. Dimenstein informa que os homicídios caíram para 10 por 100.000 habitantes. É uma cifra ainda alta, comparando com grandes cidades do Primeiro Mundo. Mas, frente aos números cariocas –quase o triplo, convenhamos, é de dar inveja.
Das boas invejas, é claro.
Rio, acerta o rumo!, por favor.
Garota Propaganda
A Prefeitura de Natal quer ser garota propaganda, mas não sozinha.
Ela, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte e empresa imobiliária, constituíram uma PPP /parceria público-privada, para a construção de um estádio de futebol + shopping center + hotéis + bosque, em área nova da cidade, onde também serão erguidas as novas sedes dos respectivos governos.
Ou seja: servirão de chamariz para a expansão imobiliária, valorizando as terras a ocupar.
Conseqüência óbvia: desmobilizam o centro da cidade, retiram dele a representação política constituída historicamente.
Segunda conseqüência: logo depois, tratarão de lançar programas de revitalização do centro...
Esta música já foi tocada em Goiânia. Integralmente. E, por certo, em outras cidades deslumbradas por aí.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Vale, Méridien!
O prefeito Eduardo Paes vetou a proposta da atual proprietária do prédio do Hotel Méridien, na avenida Atlântica, que pretendia transformar o uso do edifício para escritórios.
(veja a matéria publicada pelo Globo de hoje)
Prevaleceu o compromisso assinado pelos antigos proprietários de manter o uso hoteleiro. Como se sabe, foi possível construir um adicional de 20 andares além do previsto para o local por ser edificação destinada a hotel. (Este blog já havia tratado do assunto antes.....)
(veja a matéria publicada pelo Globo de hoje)
Prevaleceu o compromisso assinado pelos antigos proprietários de manter o uso hoteleiro. Como se sabe, foi possível construir um adicional de 20 andares além do previsto para o local por ser edificação destinada a hotel. (Este blog já havia tratado do assunto antes.....)
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
A falta que faz uma definição
A cidade do Rio de Janeiro vai deixando o tempo passar e não define o seu desenvolvimento com clareza. Ora dá indicações de que pretende valorizar a cidade que encantou o mundo, a belacap; ora dá indicações de que não quer mais nada com a cidade maravilhosa, que só se interessa pelo território da expansão.
É essa indefinição que permite que sejam anunciados projetos de recuperação do Centro concomitantemente com a aplicação de recursos públicos que levam a consolidar a Barra da Tijuca como a nova centralidade carioca.
Agora mesmo, temos o anúncio de transformação da área portuária em novo pólo de atração de investimentos, serviços e habitação. E não faltou um elemento simbólico importante: o prefeito Eduardo Paes pretende levar o seu Gabinete para a Praça Mauá, em edifício do início do século XX, hoje semi-abandonado. É uma providência ajustada com a idéia de uma “cidade inteira”, pois está no Centro o foco de representação da cidade metropolitana, uma das mais importantes cidades mundiais.
Em simultâneo, temos a notícia da expansão do metrô para a Barra/Linha 4.
Como os recursos públicos são escassos, o metrô para a Barra só poderá ser uma prioridade saudável quando a cidade estiver enfrentando, pra valer, sua carência no transporte de massa. Isto é, quando a rede ferroviária suburbana hoje existente estiver transformada em metrô –o que permitiria atender 70% da população da cidade metropolitana e por um custo muitíssimo menor do que o da Linha 4; quando o transporte público estiver coordenado entre seus diversos modais; entre outros parâmetros urbanísticos, econômicos, políticos, sociais e culturais. Priorizar importantes recursos públicos no metrô para a Barra, hoje, com a Copa do Mundo ou com as Olimpíadas, será insistir no enfraquecimento da cidade. Pode ser uma obra grande, com quilômetros e quilômetros de túneis (sem estações e sem gente); mas não será uma boa obra.
É essa indefinição que permite que sejam anunciados projetos de recuperação do Centro concomitantemente com a aplicação de recursos públicos que levam a consolidar a Barra da Tijuca como a nova centralidade carioca.
Agora mesmo, temos o anúncio de transformação da área portuária em novo pólo de atração de investimentos, serviços e habitação. E não faltou um elemento simbólico importante: o prefeito Eduardo Paes pretende levar o seu Gabinete para a Praça Mauá, em edifício do início do século XX, hoje semi-abandonado. É uma providência ajustada com a idéia de uma “cidade inteira”, pois está no Centro o foco de representação da cidade metropolitana, uma das mais importantes cidades mundiais.
Em simultâneo, temos a notícia da expansão do metrô para a Barra/Linha 4.
Como os recursos públicos são escassos, o metrô para a Barra só poderá ser uma prioridade saudável quando a cidade estiver enfrentando, pra valer, sua carência no transporte de massa. Isto é, quando a rede ferroviária suburbana hoje existente estiver transformada em metrô –o que permitiria atender 70% da população da cidade metropolitana e por um custo muitíssimo menor do que o da Linha 4; quando o transporte público estiver coordenado entre seus diversos modais; entre outros parâmetros urbanísticos, econômicos, políticos, sociais e culturais. Priorizar importantes recursos públicos no metrô para a Barra, hoje, com a Copa do Mundo ou com as Olimpíadas, será insistir no enfraquecimento da cidade. Pode ser uma obra grande, com quilômetros e quilômetros de túneis (sem estações e sem gente); mas não será uma boa obra.
A falta que faz uma definição 2
Não custa lembrar: foi a estratégia de indefinição que possibilitou construir a Cidade da Música onde está, ao custo que chegou.
Precisamos reagir contra a indefinição:
-para valorizar os sistemas urbanos que atuem na coesão metropolitana,
-para manter a centralidade metropolitana no Centro Histórico,
-para recuperar a Zona Norte suburbana,
-para estruturar urbanísticamente a Baixada e o Leste metropolitano,
-para despoluir a baía de Guanabara.
A persistir a indefinição, o Rio continuará abrindo mão do que construiu ao longo do tempo para subsidiar o esplendor imobiliário. Sem maniqueísmo, mas é preciso escolher. (Aliás, como o governador Cabral faz escolhendo o aeroporto do Galeão, evitando as facilidades, que lhe parecem ilusórias, do Santos Dumont.)
Precisamos reagir contra a indefinição:
-para valorizar os sistemas urbanos que atuem na coesão metropolitana,
-para manter a centralidade metropolitana no Centro Histórico,
-para recuperar a Zona Norte suburbana,
-para estruturar urbanísticamente a Baixada e o Leste metropolitano,
-para despoluir a baía de Guanabara.
A persistir a indefinição, o Rio continuará abrindo mão do que construiu ao longo do tempo para subsidiar o esplendor imobiliário. Sem maniqueísmo, mas é preciso escolher. (Aliás, como o governador Cabral faz escolhendo o aeroporto do Galeão, evitando as facilidades, que lhe parecem ilusórias, do Santos Dumont.)
A falta que faz uma definição 3
Também acaba de ser anunciada a concentração das atividades da UFRJ na Ilha do Fundão.
A concentração é simétrica ao fortalecimento da Lapa, anunciada pela secretária de Cultura, Jandira Feghali.
Concentrar no campus poderá ser útil para a administração da Universidade e facilitar a interconexão entre seus departamentos, como justifica o seu Plano Diretor. Para o Rio, porém, me parece um elemento de esvaziamento do sentido de urbanidade que faz a diferença entre as verdadeiras e emocionantes cidades e as idealizadas e racionais aglomerações modernistas. O tecido urbano mesclado de usos distintos, na efervescência do quotidiano imprevisto, na interação social –esta é a cidade. Para ela, é importante a presença do contingente universitário, os jovens circulando pela malha da mescla, do fortuito, injetando seu sopro vital e recolhendo o sopro vital da sociedade múltipla, nos espaços da vida real. Ainda há alguns cursos da UFRJ no Centro e na Praia Vermelha; seria ótimo que pudessem aí se expandir, inclusive à noite.
A concentração é simétrica ao fortalecimento da Lapa, anunciada pela secretária de Cultura, Jandira Feghali.
Concentrar no campus poderá ser útil para a administração da Universidade e facilitar a interconexão entre seus departamentos, como justifica o seu Plano Diretor. Para o Rio, porém, me parece um elemento de esvaziamento do sentido de urbanidade que faz a diferença entre as verdadeiras e emocionantes cidades e as idealizadas e racionais aglomerações modernistas. O tecido urbano mesclado de usos distintos, na efervescência do quotidiano imprevisto, na interação social –esta é a cidade. Para ela, é importante a presença do contingente universitário, os jovens circulando pela malha da mescla, do fortuito, injetando seu sopro vital e recolhendo o sopro vital da sociedade múltipla, nos espaços da vida real. Ainda há alguns cursos da UFRJ no Centro e na Praia Vermelha; seria ótimo que pudessem aí se expandir, inclusive à noite.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Os Melhores Espaços do Rio
Em recente reunião de amigos, todos arquitetos e amantes do Rio de Janeiro, surgiu a idéia de cada um identificar os seus espaços preferidos na cidade.
Ao fazer a lista, vimos que a riqueza é tanta que merece uma certa explicitação dos caminhos, sem perda da liberdade de escolha.
Assim indicamos os melhores espaços do Rio segundo 3 categorias:
- espaços edilícios
- espaços urbanos
- espaços paisagísticos/territoriais
E, para ser mais preciso, escolhemos como espaços quando se tratar de:
- um lugar configurado volumetricamente por edificações, e/ou por massas arbóreas e/ou por relevo;
- onde as relações interpessoais ou de socialização se estabeleçam em vínculo com a configuração volumétrica;
- que signifique/represente aspectos/situações gravados na memória.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Lula e a mídia
Está causando celeuma a entrevista que o presidente Lula deu ao jornalista Mário Sérgio Conti, da revista Piauí, na qual diz que lê e vê muito pouco do que a imprensa publica e a TV divulga. Mas por que? Porque dá azia.
O presidente diz que a sua necessidade de informação é suprida pelos inúmeros encontros que mantém com pessoas as mais diversas.
O presidente diz que a sua necessidade de informação é suprida pelos inúmeros encontros que mantém com pessoas as mais diversas.
Lula e a mídia e a cidade
No entanto, há um tema correlacionado que passa à margem da celeuma: a falta que faz uma cidade no embate entre o poder e os anseios da população.
Brasília, todos sabemos, é uma capital que isola os governantes da pulsação da sociedade. As manifestações que lá ocorrem são absolutamente programadas, são quase como um lobby ao ar livre. Não há a crítica cara a cara, o protesto do momento –tão crucial para as democracias e tão temidos pelos príncipes.
Foi por temer o rumor de Paris que Luiz XIV transferiu a corte francesa para Versailles, lá no longínquo século XVII. O mesmo sentimento ajudou JK a promover Brasília, como atesta seu biógrafo Cláudio Bojunga. Na ditadura, Médici apressou a consolidação da nova capital quando o poder militar foi generalizadamente contestado nas ruas do Rio.
Os príncipes –sejam de sangue, sejam sapos- reagem semelhantemente: não querem que lhes digam quando estão nus. É da natureza do poder.
Mas e a corte?
É em relação à corte que a falta de cidade é mais perniciosa. Circulando por aqueles gigantescos corredores onde só se encontram áulicos e lobistas, os congressistas exacerbam a Ilha da Fantasia. Naqueles palácios majestáticos, lá no horizonte, os magistrados pairam acima na nação.
O povo, em carne e osso, é a essência da cidade. À sua ausência, não há mídia, por mais lida, ouvida e vista, que possa remediar.
fonte foto1
fonte foto2
fonte foto3
Brasília, todos sabemos, é uma capital que isola os governantes da pulsação da sociedade. As manifestações que lá ocorrem são absolutamente programadas, são quase como um lobby ao ar livre. Não há a crítica cara a cara, o protesto do momento –tão crucial para as democracias e tão temidos pelos príncipes.
Foi por temer o rumor de Paris que Luiz XIV transferiu a corte francesa para Versailles, lá no longínquo século XVII. O mesmo sentimento ajudou JK a promover Brasília, como atesta seu biógrafo Cláudio Bojunga. Na ditadura, Médici apressou a consolidação da nova capital quando o poder militar foi generalizadamente contestado nas ruas do Rio.
Os príncipes –sejam de sangue, sejam sapos- reagem semelhantemente: não querem que lhes digam quando estão nus. É da natureza do poder.
Mas e a corte?
É em relação à corte que a falta de cidade é mais perniciosa. Circulando por aqueles gigantescos corredores onde só se encontram áulicos e lobistas, os congressistas exacerbam a Ilha da Fantasia. Naqueles palácios majestáticos, lá no horizonte, os magistrados pairam acima na nação.
O povo, em carne e osso, é a essência da cidade. À sua ausência, não há mídia, por mais lida, ouvida e vista, que possa remediar.
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Sem desenvolvimento urbanístico, neca do social
O professor Carlos Lessa chama a atenção para a realidade de que o Brasil urbano já engloba mais de 80% da população e que as grandes cidades precisam de políticas próprias, sob pena de perda de sua vitalidade e de suas vantagens. Reconhece que o desenvolvimento econômico não necessariamente conduz à melhora da cidade
Acho importantíssimo que pensadores do campo da economia –e Lessa é um dos maiores, todos sabemos- tratem do tema urbano, sobretudo nessa perspectiva ampla.
Carlos Lessa se associa ao grupo de intelectuais que, refletindo sobre esse tema, contraria o pensamento hegemônico modernista, segundo o qual as cidades terão futuro garantido, com qualidade, quando o desenvolvimento econômico chegar.
Artigo de Lessa em O DIA: http://odia.terra.com.br/opiniao/htm/carlos_lessa_metropoles_222804.asp
Acho importantíssimo que pensadores do campo da economia –e Lessa é um dos maiores, todos sabemos- tratem do tema urbano, sobretudo nessa perspectiva ampla.
Carlos Lessa se associa ao grupo de intelectuais que, refletindo sobre esse tema, contraria o pensamento hegemônico modernista, segundo o qual as cidades terão futuro garantido, com qualidade, quando o desenvolvimento econômico chegar.
Artigo de Lessa em O DIA: http://odia.terra.com.br/opiniao/htm/carlos_lessa_metropoles_222804.asp
Sem desenvolvimento urbanístico, neca do social, 2
Lá atrás (1961), Jane Jacobs abriu o caminho crítico, quando evidenciou que cidades americanas perderam vitalidade e qualidade de vida justamente quando a economia mais prosperou (Livro: Morte e Vida de Grandes Cidades). Leonardo Benévolo, professor italiano, alguns anos depois também tratou do tema (História da Cidade), aderindo à idéia de que “não basta melhorar as atividades econômicas e sociais para que as espaciais fiquem automaticamente corrigidas”. Mais recentemente (1996), o sociólogo espanhol Manuel Castells, também revendo seu pensamento modernista-marxista exposto em seu livro de estréia, A Questão Urbana (1970) passou a dar importância ao papel da boa cidade como condição para o desenvolvimento e a economia (A Sociedade em Rede e O Poder da Identidade). Finalmente, entre os grandes estudiosos do exterior, não pode ser esquecida Sáskia Sassen, economista americana, que tem evidenciado o papel das grandes cidades como foco e condição do desenvolvimento econômico e político global (As Cidades na Economia Global).
Tenho esperança que consigamos ampliar a rede de cidadãos e de pensadores, como Lessa, para incluir a questão das metrópoles na agenda política nacional.
São cinco dezenas de milhões de brasileiros que moram em cidades metropolitanas. É simplesmente desumano que continuemos sem políticas consistentes de transporte público, por exemplo; de saneamento, de habitação, de desenvolvimento econômico com fundamentação na matriz urbanística, entre outras. Isto é, que deixemos o tempo ir levando, apenas, enquanto o desenvolvimento não vem...
Tenho esperança que consigamos ampliar a rede de cidadãos e de pensadores, como Lessa, para incluir a questão das metrópoles na agenda política nacional.
São cinco dezenas de milhões de brasileiros que moram em cidades metropolitanas. É simplesmente desumano que continuemos sem políticas consistentes de transporte público, por exemplo; de saneamento, de habitação, de desenvolvimento econômico com fundamentação na matriz urbanística, entre outras. Isto é, que deixemos o tempo ir levando, apenas, enquanto o desenvolvimento não vem...
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Cidade e Metrópole
Cidades que se constituiram ao longo da história com importantes papéis centrais, parecem ter dificuldade de assumirem uma dimensão metropolitana. (Chamo como dimensão metropolitana quando a expansão urbana se dá para além dos limites municipais da cidade-núcleo, em ocupação contínua.) É o caso de Paris e também do Rio de Janeiro.
Paris tem seu núcleo municipal com área de 100km2 e 2 milhões de habitantes, e é onde estão sediados os principais equipamentos de representação da França. Já os subúrbios parisienses –a banlieu- tem área de 1.400 km2 e população de 6 milhões. Há, porém, uma indisfarçável e crescente hostilidade entre os dois contingentes, sobretudo decorrente das diferenças de qualidade de vida entre as duas realidades urbanas.Philippe Panerai, importante professor e urbanista francês, tratou o tema em livro recente, intitulado Paris Métropole / Formes et échelles du Grand Paris. Éditions de la Villette. Paris : 2008. O trabalho de Philippe Panerai, a partir de um estudo urbanístico, se constitui em defesa de uma revisão política e institucional do vigente conceito de Paris como a cidade "intra muros", em benefício do conceito da cidade metropolitana, a Grande Paris, que abarca a Paris convencional/histórica e toda a sua banlieu.
O Rio de Janeiro também apresenta um quadro institucional similar, por certo com ainda maiores dificuldades de articulação entre serviços de interesse metropolitano. Aqui, não temos instância regional de governança, como, de certo modo, se constitui a de Île de France. E, no entanto, já somos uma cidade metropolitana com 11 milhões de habitantes!Transporte público, saneamento, habitação, são temas fundamentais para a cidadania que continuam sem políticas públicas minimamente articuladas no âmbito regional.O estudo da morfologia urbana e das escalas, do Rio e do Grande Rio, é um caminho que poderá ser muito proveitoso para o início de uma consciência metropolitana.
domingo, 4 de janeiro de 2009
A Vale no Méridien
O hotel Méridien-Copacabana naufragou e os proprietários do edifício pretendem dar outro destino ao imóvel. Segundo os jornais, a Vale está interessada em ocupá-lo com seus escritórios.
Alto lá!
O edifício tem uns 20 andares a mais do que a legislação previa para o terreno porque seria destinado a hotel. Ele rompeu o gabarito da Avenida Atlântica com a justificativa que a cidade precisava incentivar novos hotéis. Tudo bem. Está feito. Mas, agora, achar que o edifício tem o seu destino traçado apenas pelo interesse dos proprietários, não dá. A cidade também tem interesse na questão.
Alto lá!
O edifício tem uns 20 andares a mais do que a legislação previa para o terreno porque seria destinado a hotel. Ele rompeu o gabarito da Avenida Atlântica com a justificativa que a cidade precisava incentivar novos hotéis. Tudo bem. Está feito. Mas, agora, achar que o edifício tem o seu destino traçado apenas pelo interesse dos proprietários, não dá. A cidade também tem interesse na questão.
Hotéis Othon e Meridien: beneficiários da autorizaçao para romper o gabarito em Copacabana
Crédito: http://www.previ.com.br/; biztravels.net
[Por Sérgio Magalhães]
Habitação para baixa renda
O ministro das Cidades, Márcio Fortes, anuncia o financiamento de 350.000 moradias para famílias de baixa renda, visando zerar o déficit habitacional até 2023.Na mesma matéria publicada pelo Globo ( Novo pacote do governo concederá subsídio à habitação para baixa renda ) surge a rara informação de que o país constrói anualmente cerca de 1,5 milhões de domicílios.
Entre os dois números é que está a questão: o Brasil produz habitação sem crédito! Veja só: o anúncio federal –que é saudado como espetacular- significa apenas 23% das moradias construídas no país. E como a imensa maioria dos novos domicílios é construída por famílias com renda de até 5 salários mínimos, vê-se claramente o tamanho do fosso.
O Brasil tem que universalizar o crédito habitacional. Esta é uma condição de democratização da cidade –e de sua sustentabilidade.
Vale o esforço do governo, depois de décadas sem financiamento.
Mas, francamente, saibamos que o déficit está aumentando.
Entre os dois números é que está a questão: o Brasil produz habitação sem crédito! Veja só: o anúncio federal –que é saudado como espetacular- significa apenas 23% das moradias construídas no país. E como a imensa maioria dos novos domicílios é construída por famílias com renda de até 5 salários mínimos, vê-se claramente o tamanho do fosso.
O Brasil tem que universalizar o crédito habitacional. Esta é uma condição de democratização da cidade –e de sua sustentabilidade.
Vale o esforço do governo, depois de décadas sem financiamento.
Mas, francamente, saibamos que o déficit está aumentando.
[Por Sérgio Magalhães]
Foto: o pedreiro em preto e branco / CONSTRUÇÃO
Crédito: http://www.flickr.com/photos/joao/128390879/
Crédito: http://www.flickr.com/photos/joao/128390879/
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Degradação e Alternativa
Esgotos a céu aberto, vala negra, rios poluídos. Até quando?Todos sabemos que nossas cidades tem déficit no saneamento. As redes de esgotamento sanitário e de esgotamento das águas da chuva, em geral, são precárias –ou inexistentes. No caso das cidades do Grande Rio, o modelo recorrente é o de rede coletora apenas para as águas pluviais (a qual é associada ao asfaltamento das ruas), levando os efluentes diretamente para os córregos e rios mais próximos. O esgoto sanitário é resolvido com fossas. Mas como elas dão problemas de manutenção, as pessoas fazem a ligação das águas servidas diretamente aos canos pluviais –que levam aos rios... Desse modo, acabam as valas negras junto às casas –o que não é pouca coisa. Mas, em compensação, a poluição alcança o conjunto das águas metropolitanas.Veja o caso de Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense que tem 900.000 habitantes: a CEDAE reconhece que apenas 0,4% (sim, é isso mesmo: não chega à metade de um por cento) dos domicílios são ligados à rede de esgotos sanitários com tratamento.Como sair dessa sinuca de bico?Parece que não dá é para insistir no modelo convencional, embora defendido por grande número de sanitaristas, segundo os quais só devemos construir redes cloacais independentes da pluvial, com os esgotos sanitários levados para Estações de Tratamento. Ora, isso exigiria refazer os sistemas existentes. Cadê recursos para tanto? Como desconsiderar o esforço já realizado pelas comunidades e pelas Prefeituras, na ausência da Cedae? Penso que será muito melhor coletar as redes mistas junto aos cursos dágua –e tratá-las, aí. No tempo seco, os córregos e rios não receberiam poluição. No tempo chuvoso, as estações de tratamento dariam passagem para um volume de água muito maior, o que diluiria o dano. Outra hipótese é tratar os rios, em estações convenientemente implantadas.Enfrentar realisticamente o problema é meio caminho andado. Chega de idealização que transfere para um futuro por demais remoto a mitigação da questão.É muito bem vindo o debate que O Globo abriu, com os artigos “Degradação”, assinado por Mário Moscatelli e “Alternativa”, de Adacto Ottoni .
[Por Sérgio Magalhães]
Foto: Canal ao fundo da comunidade Parque União - Complexo da Maré
Crédito: Lígia Tammela
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