segunda-feira, 1 de junho de 2009

Transporte metropolitano

Lucas Franco
A tese da transformação dos trens da Supervia em metrô, atendendo a Zona Norte, Zona Oeste e Baixada Fluminense, vai conquistando mais defensores.
Em artigo no Globo, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, comenta a situação desumana que ocorre todos os dias no deslocamento Baixada-Centro do Rio. O modo como chamou a atenção para a questão foi pela edição de decreto proibindo a passagem de caminhões pela via Dutra, quando cruza sua cidade, no horário de 6h até 10h.

Na verdade, é uma pena que devido as suas limitações administrativas, só lhe reste essa possibilidade: se desdobrar em medidas organizacionais paliativas afim de chamar a atenção daqueles capazes de resolver o problema de fato.

O eterno retorno da cópia

Luiz Flórido
Marisa Flórido, arquiteta e crítica de arte publicou texto na revista ISTO É sobre a exposição de Vik Muniz.
Segundo ela, o desejo que pairava no ar era para a crítica negativa, como todo esse frenezir artístico de 'meter o pau'.
Ela acredita que a causa de toda essa reação tenha a ver com a ostentação da exposição (a um custo de R$3.000.000,00), afligindo a classe artistica. Mas essa ostentação pode ser vista como importante forma de sedução para o grande público.
Em resumo: ela não embarcou nesse caminho fácil de 'meter o pau'. Fez um texto isento, procurando entender todo o processo e ressaltando as qualidades do mesmo.

Leia o texto de Marisa: O eterno retorno da cópia

terça-feira, 26 de maio de 2009

Muro subiu no telhado


Sérgio Magalhães
Vendo os desenhos das alternativas ao muro, elaborados pelo arquiteto Luiz Carlos Toledo, que serviram de base à reunião do Governador com lideranças comunitárias, dá a impressão que as coisas tomarão outro rumo.
Talvez o concreto dos muros tenha se decomposto até à virtualidade...

domingo, 24 de maio de 2009

Ecotrilhas: os ecolimites da Rocinha

Lucas Franco
Na semana passada foi apresentada ao governador do Estado uma
alternativa à construção dos muros no complexo da Rocinha.
A proposta, batizada de Ecotrilhas da Rocinha, foi desenvolvida pela equipe do arquiteto Luiz Carlos Toledo, responsável pelo projeto de urbanização, em parceria com líderes comunitários locais.

Sem dúvida é muito mais adequado como um projeto de urbanização, os limites estão claros e é sensível a preocupação com a comunidade.

Parabéns à equipe do Toledo. O trabalho é uma bela contribuição ao debate.

Veja as imagens do projeto

sábado, 23 de maio de 2009

Para quem gosta do Rio (e etc)

Lucas Franco
Imagens incríveis, em 360 graus e 3D, sobre diversos pontos da cidade. Imperdível!
A dica veio do ótimo RIOetc de Renata Abranchs e Tiago Petrik: o site russo Zubetzblitz disponibiliza passeios aéreos em 3d por diversas cidades do mundo.
O destaque, é claro, vai para a nossa Cidade Maravilhosa, com 13 visadas da Zona Sul e do Centro do Rio.

Visite a cidade do Rio de Janeiro
Visite as Cataratas do Iguaçu
Visite a ilha de Manhattan

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ranking de cidades

André Pinto
A 'Mercer Consulting' lançou o ranking de cidades de melhor qualidade de vida e maior nível de infraestrutura.
As cidades européias conformam o topo da lista.
Viena, Zurique e Genebra ocupam os três primeiros postos respectivamente. Na América Central e do Sul os mais bem colocados são: San Juan, em Porto Rico (72a.) e Montevidéu (79a.).
No ranking de infraestrutura a ponta é de Cingapura, mas há destaque para Santiago do Chile como a mais bem posicionada da América Latina.
Bagdá fecha as duas listas.

Visite o site da Mercer
Definição de qualidade de vida Mercer
Ranking (50+) de Qualidade de Vida
Ranking (50+) de Infraestrutura

Demolida favela com mil anos.

Sérgio Magalhães
Enquanto isso em Istambul...
A intolerância, revestida de viés sanitarista, põe abaixo bairro cigano de Istambul. Segundo o jornal francês Le Monde, o bairro era o “reino”de jogadores e dançarinas que divertiram gerações de cidadãos de Istambul. Sulukule decaiu a partir dos anos 1990, com o fechamento das “casas de espetáculos” que lhe davam vida e emprego. Por certo, o fechamento é fruto ideológico de um governo de princípios fundamentalistas, incapaz de conviver com as diferenças.

A Prefeitura demoliu sob o argumento que a “favela otomana” era composta por barracos que não serviriam sequer para depósito de carvão. O “projeto” prevê a saída de 3500 pessoas e a quase totalidade dos 1300 ciganos do bairro.
O jornal informa que a maior parte das famílias desalojadas se encontra pelas ruas e será incapaz de alugar ou comprar as moradias que a Prefeitura diz que construirá. A imprensa noticiou a lista de adquirentes, onde aparece um grande número de militantes do partido do governo.

Segundo o pesquisador britânico Adrian Marsh, Sulukule era a mais antiga comunidade cigana do mundo, com existência comprovada desde 1054 (século XI).

Leia a matéria no Le Monde

Agora é Madrid


Sérgio Magalhães
Talvez esteja na contramão a proposta do arquiteto Miguel Oriol para criar alguns andares de estacionamento na Gran Via, em Madrid. A cereja do bolo será um jardim, com alguns ares “tropicais”, que também servirá para relembrar os 4 vice-reinados da Espanha colonial...

Neste blog, lá atrás, o arquiteto Flávio Ferreira apresentou pequeno ensaio em que defende um conceito exatamente ao contrário dessa proposta para o centro da capital espanhola: nada de estacionamentos nas áreas centrais das grandes cidades.

Veja a reportagem no ELPAÍS sobre a proposta espanhola
Leia o texto de FF: Como resolver o transito do Rio de Janeiro em 6 dias

sábado, 16 de maio de 2009

Cobras, Lagartos, etc.

Sérgio Magalhães
Muitas favelas do Rio são batizadas com nomes de novelas.Pelo nome se pode saber a data em que a favela começou a se constituir.
Agora mesmo, a vereadora Andréa Gouvêa Vieira publicou um artigo no Globo, intitulado Cobras e Lagartos, referindo-se a uma favela no alto da Rocinha, que ela visitou há dois anos, quando começavam as construções. Atribuiu o nome à abundância de cobras e de lagartos que infestariam aquele lugar, entremeando-se aos primeiros barracos.Fui conferir, constatei que em 2006 estava no ar a novela da Globo com aquele mesmo nome, de autoria de João Emanuel Carneiro.
Essa prática é antiga. Lá pelos idos de 1970 já se apelidava as novas favelas com nomes do momento. Talvez uma das razões seja o desejo de inserção social, que é uma característica das populações faveladas do Rio. A novela seria uma ‘madrinha’ da nova comunidade, o seu nome uma evidência de compartilhamento da atualidade urbana.
Vejam uma lista não exaustiva das que o Davi Lessa e eu nos lembramos:
Bandeira 2, Rebu,Saramandaia, Mandala, Salsa e Merengue, Minha Deusa, Paraíso, Te Contei, Final Feliz, Ti Ti Ti, Cambalacho, Cavalo de Aço, Roque Santeiro, Renascer.

Também é interessante lembrar que o conjunto de edifícios construídos nos terrenos que resultaram do incêndio da favela Praia do Pinto, no Leblon, foram apelidados com o nome da novela da ocasião: Selva de Pedra. Já aqui, porém, o batismo não foi feito pelos novos moradores, mas justamente pelos outros moradores do bairro. No caso, há uma nítida conotação pejorativa, tal como se situava na novela o tema da construção imobiliária e de grandes edifícios.

Andréa, por favor: não!

Sérgio Magalhães
Conheço a vereadora Andréa Gouvêa Vieira por sua ação política destemida e entusiasmada na defesa da cidade. Infelizmente, me pareceu que não está nesta linha Cobras e Lagartos, artigo que publicou no Globo sobre o caso dos muros nas favelas da Zona Sul.

O texto tem como referência a expansão da Rocinha. É ponderado, bem escrito, claro; é um dos poucos que trataram o tema dos muros com abrangência. No entanto, há um certo desânimo, um desencanto, que se contrapõe ao destemor e ao entusiasmo.

Ela testemunha que os ecolimites que existiam há 2 anos no Portão Vermelho não foram obedecidos e as autoridades, mesmo alertadas, não reagiram ao desmatamento. Reconhece as precárias condições sanitárias e ambientais: hoje na Rocinha falta água, luz, o esgoto explode, o lixo se acumula, o trânsito mata, assim como a tuberculose ... por falta de sol e ventilação adequadas. Atribui a perda de qualidade principalmente à especulação imobiliária à la faroeste, com grandes proprietários não moradores.

É nesse quadro que serão construídos os muros no lugar dos antigos ecolimites. Além de salvar a mata, é preciso cuidar de gente e dar condições urbanísticas, sociais e legais para a transformação da Rocinha em bairro.

Para a vereadora, a construção do muro ... é o sinal definitivo, concreto em todos sentidos, do fracasso do Estado –e da sociedade que há mais de 20 anos escolhe livremente seus governantes. Mas, depois disso, ainda diz Andréa Gouvêa Vieira:
Se há um consolo em toda essa história, é que ... o muro não vai separar pessoas, não vai esconder a comunidade, não vai impedir o ir e vir entre os bairros.

Convenhamos: é muito pouco para quem tem a consciência cívica que a articulista demonstra, para o destemor, para o entusiasmo.

Não é hora para desencanto. Vereadora, por favor: não desanime.

Poupemos as senhoras mães

Sérgio Magalhães
Durante engarrafamento em viagem que fazia de Laranjeiras ao Citibank Hall, na Barra, o jornalista Arthur Dapieve, do Globo, pensava nas mães das autoridades que nunca apoiaram uma política de transporte de massa para a cidade. Eu pensava nas mães dos burocratas em geral com lascívia.
Mas pensava com respeito na mãe de JK; com pena na mãe dos comissários do COI; com ternura, na dos marqueteiros do Rio. “Remoía a evidência”de que todos somos uns filhos da mãe: pela desconsideração, de classe média, para com o transporte de massa.
O Dapieve pensou tudo isto indo assistir a um show do Oasis, quinta-feira à noite. Será que podemos imaginar o que pensam os milhões de cariocas que, morando nos subúrbios da Zona Norte ou na Baixada, precisam se deslocar para o trabalho todos os dias? E que sequer podem amenizar o trajeto ouvindo, em seu carro, o CD de sua preferência?
E, no entanto, com custo muito baixo, poderíamos ter metrô atendendo essas regiões por onde passam os trilhos da Central do Brasil, da Auxiliar e da Leopoldina. Isto é, todos os bairros da Zona Norte, da Zona Oeste e cidades da Baixada, uma população de 8 milhões.
O que é o metrô no lugar dos trens?
Em metrô, entre uma composição e outra, há intervalos curtos, de poucos minutos; já os trens circulam em horários estabelecidos. Uma pessoa decide ir para a estação de metrô sem pensar se o trem passou há pouco tempo ou não. Sabe que logo a seguir passará outro.
Metrô é um serviço com segurança, confiabilidade e conforto.No caso do Rio, os custos de metrô pela transformação dos trens é pequeno, pois é aproveitado o leito ferroviário, que é o custo mais alto nas novas linhas.
Mas, atenção: metrô não é simplesmente melhorar os trens; é outro conceito.
O metrô exigirá novas estações, é claro. As atuais estações da Supervia são muito desconfortáveis (v. nota Encruzilhada). Mas os custos também não são comparáveis com os custos de estações subterrâneas, tipo Ipanema; são muito menores.
Este blog é pelo metrô na Zona Norte suburbana e Baixada como prioridade para o futuro do Rio / Cidade Metropolitana. Tenho a esperança de que Dapieve se incorpore a outros seus colegas jornalistas, como Millôr, como Fernando Molica, padrinho do projeto Lima Barreto, e como Ali Kamel, também do Globo, defensores do metrô dos subúrbios e da recuperação da Zona Norte.
Será a forma de futuramente pouparmos as senhoras mães dos nossos prezados burocratas lembrados por Dapieve.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O Globo: HÁ 5 ANOS

Sérgio Magalhães
Em 2004, no bojo de outra polêmica sobre muros em favelas, escrevi, com Luiz Paulo Conde, um artigo intitulado Favelas, limites e violência, que o Globo publicou com o título A saída é cercar a favela.
Agora, nesta nova onda, busquei no arquivo para ver o que tínhamos escrito na ocasião, se ainda poderia ser atual.
Fiquei triste ao constatar que, cinco anos depois, o tema e seu contexto continuam sem alterações. Fiquei contente com o apanhado de antes, que assino novamente.
PS: Constatei a coincidência: a data deste artigo e a do outro também assinado por mim que a FSP publicou sobre o tema é a mesma: 13 de abril, com diferença de 5 anos...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Trem é descartado por falta de conforto e horários irregulares

Desta vez, foi o RJTV 2ª Edição de hoje, dia 11/05/2009, que apresentou uma nova matéria sobre os trens e a possibilidade de transformação em metrô.

Trem é descartado por falta de conforto e horários irregulares
Conheça as impressões de um telespectador do RJ que viajou para os Estados Unidos e ficou impressionado com a diferença entre o sistema de trens de lá e do Rio de Janeiro.

Leia a reportagem completa e assista ao vídeo com o comentário de Sérgio Magalhães.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

E, dá-lhe!, muros.

Sérgio Magalhães
Continuaram os debates sobre o muro. É verdade que um tanto quanto sem interação: os argumentos se repetem, de lado a lado, sem que os novos escritos incorporem a crítica dos anteriores.

Além do artigo de Lindberg Faria, citado ontem, hoje, segunda-feira, mais dois foram publicados: Do Secretário Régis Fichtner, no Globo, e de Rodrigo de Almeida, no JB.

A Grande Paris na agenda

Sérgio Magalhães
Nas notícias anteriores veiculadas pela mídia brasileira falava-se apenas em altos edifícios que seriam construídos em Paris –rompendo a altura homogênea de 6 andares. Seria algo “espetacular”. Tal como apresentado, corresponderia a uma visão de direita patrocinada por Nicolas Sarkozy: grandes negócios imobiliários, mais dinheiro sobre uma área já rica. Agora, o noticiário está se adequando à realidade do que é a consulta internacional sobre a Grande Paris (ver nota neste blog).

O Globo de hoje noticia que o destaque será a região dos subúrbios (Île-de-France), que é considerada deprimida em relação ao núcleo da metrópole (o município de Paris).
Estão previstas as seguintes principais ações de médio prazo:
-implantação de metrô de excepcional desempenho que conecte entre si as áreas da região metropolitana integrando-as melhor também com Paris. Isto é: fortalecer a compreensão de Paris como uma cidade metropolitana.
-projetos de edifícios espetaculares, parques, etc. que possam apoiar o desenvolvimento dessa periferia menos privilegiada. Edifícios espetaculares, por que? Porque eles podem ajudar na sinalização de um tempo de qualificação ambiental, espacial e simbólica do território hoje deprimido.

É uma agenda para até 2030, cuja formatação está no debate público por todo este ano.
É isso aí.

O Rio na agenda

Sérgio Magalhães
É comum que nos tomemos de perplexidade ante as dificuldades da vida urbana e nos perguntemos: como é possível? Como uma solução para determinado problema, tão óbvia, ainda não foi adotada? Há poucos meses, tivemos eleições para as prefeituras. Todos vimos: prevaleceu a ausência de debate sobre as questões centrais da cidade.
Alguns temas entram na pauta da mídia, ficam bombando durante algum tempo, depois desaparecem sem rastros. Agora está na berlinda a remoção de favelas e a construção de muros na Zona Sul. Como eles tocam nevralgicamente problemas históricos da cidade, conseguem despertar opiniões em contraponto. Mas se não vierem a fazer parte da agenda política, ficam estéreis. Neste sentido, vale a pena ler o artigo Favela é parte da cidade, de Lindberg Faria, publicado pelo Globo, em que o prefeito de Nova Iguaçu se posiciona frente ao tema dos muros e favelas. O novo, é que ele avança na questão metropolitana.
Me parece indispensável a compreensão do Rio como uma única cidade de 11 milhões de habitantes. Os problemas e as soluções envolvendo a Baixada Fluminense, o Leste Metropolitano, os Subúrbios da Zona Norte e a Zona Oeste, precisam compartilhar os olhares políticos e midiáticos que se debruçam quase que exclusivamente sobre a Zona Sul e a Barra.
É metrô para Ipanema, Linha 4 para a Barra, despoluição das lagoas da Barra, Cidade da Música, muros nas favelas da Zona Sul, etc. Tudo bem (em termos!); mas precisamos também agendar a transformação dos trens em metrô, a equalização na qualidade e no preço do transporte coletivo, a recuperação da Zona Norte suburbana, a efetiva despoluição da baía de Guanabara, o financiamento para a moradia popular e para a urbanização dos loteamentos e favelas, e –interligando todos eles: a retomada dos territórios ocupados pela marginalidade, impondo-se a permanência do Estado e fazendo valer a Constituição brasileira em toda a cidade metropolitana.
Com urgência: o Rio Metropolitano na agenda política!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Confusão em Paris

A consulta internacional sobre o futuro da Grande Paris (ver nota neste blog) foi “simplificada” exageradamente em notícia intitulada França quer reurbanizar Paris na próxima década.

De fato, não se trata de “reurbanizar” Paris.
Como já vimos, a associação entre os governos francês + metropolitano + parisiense encomendou idéias para o ajuste de interesses entre a cidade de Paris e a sua área metropolitana ( Île-de-France). O desejo é que, pelo consenso, possa resultar, no futuro, a “Grande Paris”.
Tampouco é um “projeto”, mas um conjunto livre de proposições iniciais.

Se você superar os primeiros parágrafos, onde a confusão se estabelece, depois poderá acompanhar algumas das proposições apresentadas por algumas das dez equipes que participaram da consulta. Estão esquemáticas, mas dá uma amostra de como o debate dos próximos meses poderá ser rico.

Nota do blog, de 15 de março
Notícia de ontem

terça-feira, 5 de maio de 2009

Remoção de favelas divide opiniões no Rio

Olhar Virtual (UFRJ) - Olho no Olho:
"A política de remoção das favelas já foi adotada em diferentes épocas na história do Rio de Janeiro. Na gestão do prefeito Pereira Passos, entre 1902 e 1906, houve o chamado “bota-abaixo”, que promoveu a demolição dos cortiços do centro da cidade, deixando grande número de pessoas desabrigadas. A população removida subiu os morros dando início ao processo de favelização. Em 1965, Carlos Lacerda pôs fim à favela do Esqueleto e em seu local foi construída a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a Uerj. Já em 1970, durante gestão de Negrão de Lima, a favela da Catacumba, na Lagoa, e a favela Praia do Pinto, no Leblon, também foram removidas.
Em entrevista, Marco Antônio Mello, coordenador do Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro) do IFCS, e Sérgio Magalhães, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ, comentam questões relativas à remoção das favelas."

Leia a reportagem completa com as opiniões dos entevistados

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Seremos campeões?

Após uma semana, terminou hoje a inspeção do Comitê Olímpico Internacional (COI) na cidade do Rio de Janeiro para escolher a cidade sede dos jogos Olímpicos de 2016. A sabatina , além da avaliação das instalações esportivas, abordou temas como segurança, saúde e transportes. Atributos não faltaram: as belezas naturais, o entusiasmo dos cariocas e até o tempo colaborou. Foi notável o esforço de alguns governantes para convencer o COI de que o Rio estava pronto para receber os jogos. Notável e lamentável equívoco porém, atrelar ao evento o desenvolvimento da cidade.

-Se a gente pudesse ter um Rio dos sonhos em 2016 seria esse que a gente constrói na proposta olímpica. Os jogos são um resgate do Rio de Janeiro. A possibilidade de fazer essa Olimpíada significa investimentos enormes e projetos de mais largo prazo para a cidade.- declarou o prefeito Eduardo Paes.

Ora Senhores, o desenvolvimento do Rio não depende de novas e excepcionais oportunidades e sim de uma mudança na política de investimentos.

É inegável o potencial catalisador de uma oportunidade como essa, entretanto, ela não se sustenta sozinha. Assim, sediaremos os jogos e ao final ficaremos com um legado irrelevante ou ainda pior: um legado com impactos negativos do ponto de vista urbanístico e/ou para os cofres públicos.
E se perdermos a disputa? Devemos esperar por 2020?

Está na hora de sairmos da torcida e entrarmos em campo.

O custo de não fazer

O título desta nota foi retirado de um artigo que o ex-secretário estadual de Transporte Francisco Pinto escreveu para o jornal O GLOBO mas o argumento eu já escutara algumas vezes em minhas aulas sobre Transporte Urbano na FAU-UFRJ, com o professor Dr. Ricardo Esteves:
O custo para a implantação de uma Grande Rede de Transporte de Massa para a cidade do Rio de Janeiro é algo mensurável, relevante, na casa dos dois dígitos de bilhões de reais e também por isso, acaba sempre sendo rechaçado pelo poder público. Entretanto, a não aplicação desse montante, é cobrada diariamente sobre milhões de cariocas, direta e indiretamente, através de perdas incalculáveis na economia, seja pela redução da jornada de trabalho ou pelo desperdício de combustível, e na qualidade de vida dos cidadãos, submetidos à exaustiva dinâmica atual de transportes.
Isso para começar, pois imaginem se considerarmos o possível impacto sobre questões fundamentais para o desenvolvimento da cidade como a recuperação imobiliária do subúrbio contrapondo a criação e o aumento das favelas na Zona Sul. E por aí vai...

Qual é o custo disso? Quem paga a conta?

Neste caso, com certeza, o “custo de fazer” é muito menor do que o “custo de não fazer”.

Saúde!

No último dia 1º de maio, em cerimônia que contou com as presenças do presidente da república e do governador do Estado, foi inaugurada oficialmente, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, a mais nova unidade da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação: o Centro Internacional Sarah de Neuroreabilitação e Neurociências.
A rede Sarah, uma instituição de saúde pública, é tida como referência quanto ao atendimento, tecnologia e gestão, essa última, feita por uma associação de direito privado: a Associação das Pioneiras Sociais.
As unidades projetadas pela equipe do arquiteto João Filgueiras de Lima, o Lelé, são belos exemplares dos benefícios gerados a partir de uma boa arquitetura, com destaque para as soluções de iluminação e ventilação natural, das circulações e do desenho do mobiliário. Edifícios feitos para curar.

Saúde para as instituições públicas, para a população e para a arquitetura!

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Às vezes, parece simples que as coisas sejam feitas corretamente.
Pois é.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Eleita a vilã dos espaços públicos cariocas: a pedra portuguesa

Alguns amigos irão pegar no meu pé achando que esta defesa em relação às simpáticas pedrinhas tem algo com meu declarado interesse pela Terrinha... mas neste caso, não!
Já que aqui no blog se falou tanto em ‘sombra do alvo’ me parece que estamos falando de algo similar.
A pedra portuguesa começou a ser utilizada em meados do século XIX (Wikipédia) em Lisboa e de lá pra cá é usada com maestria pelos nossos irmãos. Não há cidade em Portugal que não as tenha. E em ótimo estado de conservação (claro que haverá exceções, mas garanto que poucas). Também no Rio, encontramos importantes áreas com execução de qualidade e boa manutenção, em geral na Zona Sul.
Se tanto lá como cá é possível encontrá-las bem conservadas, por que excluir as pedras portuguesas dos espaços públicos? Visitem a eleição dos melhores espaços do Rio aí ao lado, vejam quantos deles possuem as pedrinhas na sua escolha.
Os argumentos contra as pedras são a dificuldade de manutenção e falta de mão de obra.
De fato, o problema é outro: é de gestão do espaço público e insuficiente capacitação de mão de obra.
Por que concessionárias de serviços públicos, como a CEDAE, CEG, CET-RIO, OI, são incapazes de finalizar suas intervenções no pavimento com qualidade?
Por que a Prefeitura não faz o controle devido? Por que não forma a mão de obra necessária?
Por que as grandes construtoras investem tão pouco em formação de seus quadros técnicos?
Em um momento em que o país acelera seu crescimento temos que pensar: crescemos como? Com qualidade? Formando quadros? Ou crescem apenas as contas bancárias das empreiteiras, políticos e caixas de campanha?

Esta história das pedrinhas portuguesas me parece àquela do marido traído que ao encontrar a mulher com o amante no sofá da sala... troca o sofá.



Leia artigo do Prof. Cristóvão Duarte, no Globo online, falando do mesmo assunto e explicando as diversas vantagens da calçada portuguesa.

Fonte das fotos

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Encruzilhada.


O Globo, em reportagem de Dimmi Amora, Fora da Linha e Sem Rumo, nos diz como é lento o ritmo das "melhoras" do sistema de trens suburbanos.
Mas o impressionante é a foto da estação de São Cristóvão. Ela mostra claramente o desrespeito ao passageiro e a falta de conforto.
São Cristóvão é a única estação de todo o sistema onde há conexão entre as três linhas de trens: Leopoldina, Auxiliar e Central do Brasil. Isto é, onde é possível sair de uma linha e pegar outra.
Reparem na foto: os passageiros precisam subir e descer escadas fixas com altura equivalente a 3 andares! Não há escadas rolantes, não há elevador, não há sequer telhadinho que evite a chuva e o sol.
No ano de 2009, em uma das mais importantes cidades mundiais, é possível uma situação como essa?
Sim, não apenas ocorre em São Cristóvão, como em quase todas as demais estações do sistema operado pela Supervia.
É por essas e por outras que, com o abandono da Zona Norte, o Rio se encontra em uma encruzilhada: ou recupera os seus subúrbios, onde moram milhões de cariocas, ou pode dar adeus a um futuro de qualidade.

Imperdível! Para quem gosta de cidade.

A exposição itinerante “A rua é nossa... é de todos nós!” é uma extraordinária síntese sobre a condição urbana, pensada a partir do quotidiano, das ruas. É uma promoção do Institut pour la Ville en Mouvement, sob a direção de François Ascher e Mireille Apel-Muller, e se inclui entre as atividades relativas ao ano da França no Brasil.
Inaugurada em Paris em 2007, já percorreu cidades como Xangai, Montreal, Buenos Aires, Pequim, entre outras.
Aqui, sob a curadoria da professora Margareth da Silva Pereira, do PROURB e da FAU/UFRJ, a exposição é enriquecida com uma visão brasileira. Destaque para fotografias do Rio de Janeiro, em nível compatível com a altíssima qualidade do conjunto francês.
Vale muito visitar o Centro Cultural da Justiça Federal, antigo prédio do Supremo Tribunal de Justiça, na Cinelândia, Rio, até o dia 14 de junho. Confira a programação de eventos paralelos, como filmes, vídeos, debates e “passeios exploratórios” a pontos de interesse do centro do Rio.

domingo, 26 de abril de 2009

Sobre quereres

E se os muros nas favelas da Zona Sul forem apenas um item no rol do poder?
Se estiverem desconectados de uma política de segurança ou de meio ambiente e até mesmo de uma reação semiológica às dificuldades na sua implantação? Se forem, apenas e simplesmente, um desejo de quem pode?
Quero porque quero.
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Indagado sobre o motivo pelo qual dizia “qüestão” (com trema) ao invés de “questão”, respondeu o dr. Mauro:
-Porque qüero.

Ainda sobre os muros

Falando e tentando contribuir para o debate sobre os muros, a primeira coisa que me vem à cabeça é: o muro que se pretende construir é um projeto para solucionar que problema?
Segundo o Ícaro, também meu amigo desde 1998 quando fui trabalhar na Prefeitura do Rio, o muro tem como objetivo de servir de proteção a um bioma ameaçado. Outra pergunta: murar é a melhor solução para o problema bioma ameaçado?
Li nos jornais outras propostas como a de uma cerca viva, com indicação de espécies apropriadas. Lembrei-me de um projeto que conheci no Equador, criação de grupos de jovens para proteger determinados biomas. E também, presença do Estado assegurando os serviços necessários ao cidadão. Sabemos que muitas soluções propostas acabam gerando inúmeros outros problemas e você falou isso no seu texto.
Em áreas de grande declividade como o Morro Dona Marta a construção do muro pode gerar novos problemas ambientais. No caso, poderia causar a desestabilização das encostas, acelerar processos erosivos e ocasionar danos ambientais, cujas conseqüências são imprevisíveis. Sobre esse aspecto vale à pena consultar, se ainda não foi feito, a Universidade, os geomorfólogos são indicados para isso. Devido às topografias peculiares, seria prudente ter o parecer dos técnicos das Secretarias de Meio Ambiente do Estado e do Município sobre tais riscos em cada área.
Do ponto de vista social, penso que no momento em que o Rio encontra-se tão dilacerado pelos impactos provocados pela falta de elementos agregadores de sua diversidade, talvez fosse mais oportuno re-pensar a proposta trazendo à discussão elementos que agreguem e não isolem; que levem ao encontro e não a indiferença, que facilitem o compartilhar e não a separação.
Creio que há um outro ponto a ser visto que é o de se assegurar a efetividade do projeto; se está bem focalizado, se de fato é uma solução inteligente, avaliar as suas conseqüências (sociais, econômicas, políticas, ambientais) hoje e no futuro e, principalmente, se vale realmente gastar recursos com ele.
De qualquer forma a proposta desperta opiniões aquece o debate. É evidente que os problemas não são simples, a complexidade está presente e merece uma nova atitude - abrindo-se ao diálogo e as contribuições da sociedade.

Tenho certeza que estas reflexões serão importantes para os que formularam e para todos os envolvidos, sujeitos internos e externos da ação e para os que se interessam pela cidade.

[Por Tereza Coni]

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Será uma onda?

Muros: e segue o baile.

De Madri, nossa “correspondente” VA informa que o muro nas favelas da Zona Sul do Rio esteve na berlinda durante congresso internacional sobre desenvolvimento humano, intitulado Cidade Sustentável e os Desafios da Pobreza Urbana, realizado na capital espanhola, há poucos dias.
Julian Salas, que dirige mestrado na Universidade Politécnica de Madri, criticou duramente a medida, incluindo na crítica tanto o presidente Lula quanto os governos do Estado e do Município. Para o professor, os muros são construídos para privilegiar áreas ricas. Reclamou também pela ausência de debate, perguntando “por onde andam os pensadores da cidade?”

Por aqui, a jornalista Heloisa Magalhães, chefe de Redação do “Valor Econômico”, ajuda a construir um quadro crítico, opinando em artigo sob o título: Muro: resposta à violência. Diz HM: "Não há dúvida que o assunto é complexo, divide opiniões especialmente pelo simbolismo isolacionista que o muro traz."

Seria ótimo se a polêmica ajudasse a construir uma agenda para a nossa cidade. Isto é, que dela se espraiasse uma onda renovadora, como as que apareceram estes dias pelas praias cariocas.

Artigo de HM:http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/4/23/muro-resposta-a-violencia

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Desta vez a ZN vai!

Mais um artigo assinado pelo jornalista Ali Kamel, do Globo, aborda a necessidade da transformação dos trens em metrô e do investimento melhor distribuído na cidade.
Considera a Zona Sul já bem servida, demandando manutenção, o que pode dispensar novos grandes investimentos, como a anunciada garagem subterrânea na orla de Ipanema.

“Temos de parar de gastar onde não é preciso, esquecer Engenhões, Cidades da Música, Zona Sul, e nos concentrarmos no que muda uma cidade.”

Oxalá!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Mi Casita

Lá por meados do século passado, quando a questão habitacional aflorou nas cidades que se expandiam com a industrialização, eram populares umas publicações que apresentavam projetos variados como sugestão para a construção de casas. Plantas, cortes, fachadas e especificação básica faziam parte de cada uma das sugestões. Entre essas publicações, Mi Casita era das mais requisitadas.
Algumas décadas antes, também Lucio Costa, então jovem arquiteto, entrou no ramo, com sugestões para moradia.
Vira o século, e o nosso governo se apresenta ao mundo com o plano de redução do déficit habitacional, consagrando dois modelos: uma casa com 35m2 e um edifício, com apartamentos de 42m2. Como somos democráticos, os modelos servirão para todo o país, indistintamente.
Tem razão o nosso Lucas Franco, na nota precedente, em desabafo de jovem arquiteto idealista, sabedor de que a arquitetura é um instrumento para melhorar a vida das pessoas.

Queremos a Constituição!

Quanto mais os defensores proclamam que o objetivo dos muros em favelas da Zona Sul é evitar o desmatamento, mais me reforça a convicção de que há um objetivo oculto, maior do que esse proclamado: sinalizar que o governo está atuante.Mas por que o governo precisa dessa sinalização?
Como o governo –por razões que se somam- não consegue impor uma política de retomada de territórios e permanência do Estado nas áreas dominadas pelos traficantes ou por milícias, passa a apelar para a comunicação indireta. Os muros são apenas isso.
Não fossem, as soluções lembradas pelo arquiteto Janot, no Globo, teriam sido consideradas antes do anúncio dos muros. São propostas de bom senso, que fazem parte do repertório de limitação reconhecido e utilizado em inúmeras situações. Outros articulistas também se manifestaram assim, como o fez Elio Gaspari.

Ademais, não podemos deixar de considerar que os muros se apresentaram a reboque das batalhas entre bandidos que ocorreram na Ladeira dos Tabajaras, com repercussão na Fonte da Saudade e adjacências, e reflexos, a seguir, na Rocinha.Nesse sentido, os muros também atuariam como uma ação diversionista, útil para substituir o impacto negativo das semanas precedentes.

No entanto, na polêmica, fica evidente uma questão que me parece muito grave.
Trata-se de um movimento que conduz ao retorno da estigmatização da favela, sobretudo as da Zona Sul, como lugar pernicioso à vida civilizada.
Ora, isso é de um simplismo absurdo; sobretudo, é uma enorme injustiça.

O Rio de Janeiro está se esboroando sob uma crise urbana de décadas –e passa a atribuir seus problemas aos seus pobres.

Mas é o Estado brasileiro, perfeitamente apropriado pelas elites políticas, econômicas e sociais, que tem se mostrado incapaz de proteger centenas de milhares de cidadãos que estão sob jugo da bandidagem, não apenas em sua integridade física, mas também nas relações econômicas, políticas e sociais do quotidiano. O Estado é ou omisso ou inoperante. De qualquer modo, é incapaz de se fazer valer em imensos territórios metropolitanos, cada vez mais disponíveis para a implantação das leis autoritárias dos grupos armados, gangues e milícias.

Precisamos de um Movimento pela Constitucionalização!
Queremos a Constituição brasileira vigorando plenamente em toda a Cidade!
É daí que poderemos esperar a redução da violência e o enfrentamento da crise urbana.

sábado, 18 de abril de 2009

Minha Casa, Minha Vida

Minha Casa, Minha Vida é um programa do governo federal, em parceria com estados, municípios, empresas e movimentos sociais que pretende construir 1 milhão de novas casas e apartamentos para a população.
Em sua cartilha oficial, divulgada na internet, logo na especificação do empreendimento para o primeiro grupo a ser contemplado (famílias com renda até 3 salários mínimos) me surpreendi com a apresentação de uma das exigências: a padronização das tipologias.
O simples fato da padronização já seria altamente questionável em um país continental como o Brasil. Um projeto que ignora o sítio, a implantação, as diversidades das técnicas construtivas, dos materiais, do clima, da cultura...das pessoas. E mais, teremos um milhão de casas idênticas?
Não foram pesquisadas ou discutidas novas soluções técnicas, novos materiais, que minimizassem os custos e os prazos de construção, que facilitassem a manutenção ou melhorassem o conforto térmico, acústico e visual das edificações?
E quanto à expansão, ao tempo? Essas famílias não pretendem crescer, se modificar ao longo dos anos? Qual é a perspectiva de “envelhecimento” dessas edificações?

Como não são citados, desconheço os autores dos projetos de arquitetura, da existência de concursos públicos e/ou da formação de parcerias entre o governo e as faculdades federais de arquitetura com essa finalidade.

Afinal, como estudante, acredito no ensaio, tentativa e erro, nas críticas e sugestões em busca do desenvolvimento de todo e qualquer projeto.
Como arquiteto, acredito nos benefícios incalculáveis proporcionados por uma boa solução arquitetônica.

A Minha Casa e a Minha Vida foram feitas com arquitetura e é isso o que eu proponho para todos os brasileiros.

Baixe aqui a cartilha do programa

Leia as notas anteriores relacionadas ao tema:
Estímulo à produção de moradias
1 milhão de moradias financiadas
PAC - Oportunidade para a revisão de uma estratégia urbanística

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Trincheira, casamata e torre

O antropólogo Roberto da Matta aderiu ao debate sobre a construção de muros em favelas da Zona Sul, com artigo que O Globo publica hoje.

" Antes de realizar tal monumento à sacralização da desigualdade em escala estupidamente grandiosa, vale a pena pensar numa coisa óbvia. Todo muro tem dois lados. Do lado de lá, ele vai servir de trincheira, casamata e torre para os que se aproveitam da pobreza 'criminosamente' e não apenas pelo voto ".

Destaco as expressões trincheira/casamata/torre, na mesma linha que adotei no artigo publicado pela Folha de SP, dia 13.Vale a pena ver o artigo completo de Roberto da Matta:

O problema do muro no Brasil

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Brasil: Proteger Mata Atlântica com muros é uma "vergonha ambiental" - ecologista

A discussão continua, e expandido-se além mar. Veja a recente reportagem publicada na Lusa, Agência de Notícias de Portugal, com as opiniões do ecologista Vilmar Berna e do arquiteto, urbanista e nosso colaborador Marat Troina.

Leia a reportagem

terça-feira, 14 de abril de 2009

Muros polêmicos

No debate que está colocado sobre a construção de muros em favelas da Zona Sul, a Folha de São Paulo fez uma pesquisa, publicada ontem, acompanhada de dois artigos de opinião. Chamou o que escrevi de "contra". E chamou de "a favor" ao artigo assinado por Ícaro Moreno, prezado amigo desde os tempos da Prefeitura, que atualmente é presidente da Emop, responsável pela construção dos muros.

O Jornal O Globo repercutiu hoje a matéria, inclusive entrevistando o Ícaro, mas omitiu a outra opinião...


Confira:

O artigo de Sérgio Magalhães

O artigo de Ícaro Moreno

A reportagem completa na Folha de São Paulo

A reportagem no jornal O Globo

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O outro caminho

O economista peruano Hernando de Soto tem sido louvado por Francis Fukuyama, Margaret Thatcher, Milton Friedman, e Bill Clinton, e viaja pelo mundo disseminando sua idéia central: que governos em desenvolvimento e países em transição devem prover títulos de propriedade da terra para os assentamentos informais, para desencadear o poder da propriedade da terra como caminho para o desenvolvimento econômico. (...)
(...) Porém, o professor visitante do Lincon Institute, Edesio Fernandes, pergunta: a solução de De Soto é excessivamente simplista?
Pesquisa sugere que muitos dos títulos concedidos fracassam no objetivo de dar acesso ao crédito, diz Fernandes. Títulos de posse e legalização não conduzem, automaticamente, à regularização, à consolidação e sustentabilidade destes assentamentos ou, à redução da pobreza, a menos que governos dêem seqüência com infra-estrutura, educação e outros serviços. (...)

Leia na íntegra o artigo traduzido

Leia o artigo original em inglês no Weblog do Lincoln Institute

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Olha a ZN de novo!

A Zona Norte acaba de ganhar mais um aliado de peso: o jornalista Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo. Em sua coluna no jornal O Globo, AK defende a prioridade para a transformação dos trens suburbanos em metrô, de modo a que a Zona Norte volte a ser lugar atraente para moradia.
Na avaliação de Kamel, é mais importante para a cidade este projeto do que a anunciada Linha 4 do metrô (Zona Sul-Barra).
No mesmo artigo, AK também aborda a questão de remoção de favelas. Mas aí já é outra história (embora, evidentemente, interligadas) ...

Leia o artigo de Ali Kamel para o jornal O GLOBO

sábado, 4 de abril de 2009

Zona Norte é a vencedora

No triste campeonato do abandono, a Zona Norte tem a primazia.

A notícia recolhida por PF, atentíssimo pesquisador sobre a nossa cidade, não é animadora. Mas já começa a se constituir uma consciência coletiva que será capaz de reverter esse quadro.
Pelo menos, é a nossa esperança.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Expansões e Limites

No momento em que se estabelecem os territórios das campanhas eleitorais, as novas opções de linhas do sistema de transporte metroviário e os confinamentos de moradores são temas de interesse urbanístico e arquitetônico que ocupam a mídia e preocupam as mentes de governantes e cidadãos. Na perspectiva desta semana, São Paulo aparece como o paraíso iluminado e o Rio é o inferno escaldante. Cabral e o sucessor de Serra são, respectivamente, o judas e o santo-salvador. Assim, a imprensa carioca prossegue denunciando as contradições do nosso governo estadual para privilegiar as maravilhas da prefeitura e dos maiores mandatários paulistas.
Quanto ao atendimento de todos moradores por todos os modos de transporte, não há o que discutir: o direito é amplo e inegável! No outro sentido, é óbvio que os desejos de adensamento e de ocupação vertical das terras e ares “livres” nas vertentes da Zona Sul do Rio há muito seguem as orientações das políticas de governo e os estímulos de redes informais. Um exemplo: a criação do Parque da Catacumba na Lagoa sempre foi estigmatizada por se constituir em fato urbanístico resultante da memorável exclusão dos moradores da favela que ali crescia à vista de todos. Ao mesmo tempo, o instigante uso das premissas formais da arquitetura modernista, consagrada no Rio pela ênfase na função social, criou o tipo morfológico de casa com real possibilidade de extensão vertical. Esta solução, que configura o nível do telhado plano e o “terraço voador”, possibilita a sucessiva expansão vertical das lajes nas moradias, o que é impossível no tipo de edifício de apartamentos dos populares conjuntos habitacionais. Em outras capitais, o tipo de cobertura em telhado de duas águas caracteriza os bairros e ocupações espontâneas das antigas periferias. Vide o Recife, com o Alto de Isabel e da Casa Amarela e outros baixios nas vizinhanças da Casa Forte e do Poço da Panela. Os morros de Belo Horizonte e Salvador também poderiam estar assim referenciados. Ali, ninguém pensou em muros talvez porque as chácaras já os continham. Mas, certamente, nestas cidades, como em São Paulo, as balas perdidas e outras variedades ilícitas de mercadorias estão longe dos bairros da classe média.

terça-feira, 31 de março de 2009

Expansão do metrô até a Barra é discutida na Alerj e nas ruas

A discussão sobre o direcionamento dos investimentos públicos continua. Os temas agora são a construção e o trajeto da linha 4 do metrô.
Desta vez, foi em uma reportagem do telejornal RJ-TV, que o arquiteto, urbanista e nosso ilustre colaborador Sérgio Magalhães saiu em defesa da Zona Norte e da Baixada Fluminense, considerando portanto, a nossa Cidade Inteira.

Veja a reportagem com o vídeo na íntegra

segunda-feira, 30 de março de 2009

Os mais novos muros da Zona Sul


No final do ano de 2005, participando do concurso público de idéias para urbanização da Rocinha, patrocinado pelo mesmo governo do Estado, me recordo de um dos maiores desafios: Encontrar soluções para conter a expansão horizontal das favelas sobre as áreas de preservação ambiental, os chamados eco limites. Lembro-me ainda, ser consenso entre a equipe, o questionamento das conseqüências da construção desses muros, seja pela dificuldade de fiscalização gerada pela obstrução visual ou pela possibilidade de estarmos construindo a primeira parede para uma nova edificação irregular.

É espantoso, que mais de três anos depois, seja exatamente essa a noticiada intervenção.
Afinal, encontramos a solução desejada? Qual é o lado que queremos proteger? Então, será esse o legado para a cidade?
Certamente não eram essas as idéias daqueles arquitetos e urbanistas com quem trabalhei.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Rocinha, pequenininha – e empreendedora

A “maior favela da América Latina” não é tão gigantesca.O censo que acaba de ser divulgado informa que existem menos de 26.000 domicílios –o que sugere uma população de 75.000 a 85.000 pessoas.É bastante, é claro, mas não chega aos 200.000 habitantes ou 300.000 que os cálculos de lideranças e de políticos gostam de divulgar.Grande notícia, também, é que existem mais de 6.300 pontos de atividades econômicas na favela.O censo ajudará a melhor orientar as ações e políticas desejáveis.
Veja a notícia :

Censo mostra que número de domicílios da Rocinha aumentou 65% de 2000 até hoje

quarta-feira, 25 de março de 2009

As coisas da Cidade ou o lugar da Cidade Universitária da Ilha do Fundão ...

Desde a segunda metade do século XX, em todo o mundo, homens e mulheres clamam por maiores oportunidades e maior número de postos de trabalho na economia de mercado. A “crise” do momento não tem precedente, dizem alguns comentaristas. No entanto, está também determinado que a suposta hecatombe financeira é resultado da falta de confiança. Na prática, trata-se apenas da quebra da credibilidade dos sistemas bancários e dos mercados que os sustentam. Mas, e se assim não for? Se a crise é a falência da política? Vale, então, ampliar as reflexões sobre o assunto e as temáticas daí decorrentes, perguntando:
> a crise dos investimentos de papel e dos dinheiros fugazes poderia ser um produto planejado para consolidar um mundo onde não há nada mais a ser feito e onde todos seriam obrigados a seguir alguns sem direito a apelações?
> se os lugares de vida das pessoas comuns estão “prontos”, onde produzir riqueza para tornar possíveis as realizações individuais e a felicidade coletiva?
> deixar que os espaços urbanos mais centrais sejam deixados para trás ou permaneçam nas condições em que se encontram seria a solução para a violência e a desilusão?
> a suburbanização de tudo seria a saída para prover educação, saúde e moradia integradas para todas as gentes?

As soluções focadas, hoje, configuram inversões de esforços positivos. Neste contexto, os centros urbanos contem lugares que devem ser utilizados e, para tanto, deveriam ser adequados de modo coerente a essas finalidades. O IFCS, a Faculdade de Direito, os hospitais e as unidades de saúde, junto com o Palácio Universitário, são unidades acadêmicas da UFRJ situadas no Centro, em Laranjeiras e na Urca que se enquadrariam especialmente na categoria de espaços úteis aos estudantes e a todos os cidadãos do Rio de Janeiro. A melhoria, conservação e permanência das atividades aí geradas deveriam ser metas prioritárias para o desenvolvimento de toda a cidade. A transferência compulsória das gentes e dos lugares universitários e científicos para a Ilha do Fundão é ato que expressa idéias restritas do ponto de vista da ação política da Universidade. Vamos todos afundar juntos ou ainda há luz na área central que aí deve permanecer?

domingo, 15 de março de 2009

Consulta internacional para o futuro da Grande Paris

Dia 17, terça-feira próxima, se iniciará debate sobre o desenvolvimento da futura Grande Paris. Ele é o primeiro ato público conseqüente à entrega, dia 12, das propostas de dez equipes de renomados arquitetos, sendo quatro estrangeiras e seis francesas, preparadas por encomenda conjunta do Governo Central, da cidade de Paris e da Região Metropolitana.

A consulta observa dois temas principais: a metrópole parisiense frente à questão ambiental e o desenvolvimento da futura Grande Paris. (Sabemos que a cidade de Paris é o núcleo da Região Metropolitana, os quais mantém estatutos semi-autônomos. A consulta objetiva também considerar uma nova constituição institucional.)
Cada equipe recebeu um estipêndio de 240.000 euros e procurou envolver profissionais de diversas disciplinas, formando um gigantesco quadro de pensadores sobre a cidade.

Para Michel Lussault, co-presidente do comitê organizador, “jamais uma reflexão tão complexa foi conduzida sobre a cidade, a uma tal escala”.
Não se trata de um concurso, onde resultará um vencedor: é mais uma concertação de idéias.

Para mais detalhes, ver notícia publicada por Le Monde:

Ainda a consulta: "Uma Paris Menor"

Evidentemente, há uma multiplicidade de proposições que resultam da consulta sobre a Grande Paris. Destacam-se, porém, as que defendem a redução da expansão excessiva da metrópole, o seu adensamento, para que se evite a “cidade sem fim”.
A equipe holandesa de Winy Maas (MVRDV) propõe uma "Paris plus petit".

Enquanto isso, em certas cidades brasileiras, acha-se que quanto maior a ocupação urbana, mais importante é a cidade...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Ônibus parado? Vamos circular!

A Prefeitura anunciou que vai acabar com o 'ponto final' de ônibus na Praça Antero de Quental no Leblon. Viva! (ver notícia)

Por toda a cidade esses 'pontos finais' só servem para degradar as áreas onde estão localizados.
O que se vê é sujeira, ambulantes e motoristas/cobradores urinando na rua...

Ônibus tem que circular, principalmente nas áreas mais importantes da cidade, seja nos subúrbios ou nas áreas centrais, ricas ou pobres!

Esperamos que a ação no Lebon seja repetida em toda a cidade, e que esta seja a primeira de muitas para organizar o caos do sistema de ônibus carioca... e que, inspire outras cidades metropolitanas!...

fonte da foto

domingo, 8 de março de 2009

Olha a ZN aí, gente!

Não é propriamente o Projeto Lima Barreto, comentado há algumas semanas neste blog. Mas pode ser que seja parente dele: o prefeito Eduardo Paes convocou seu governo para tratar com carinho a Zona Norte.

Segundo os jornais de hoje, ações de diversos campos (saúde, educação, ordem urbana, etc.) estarão sendo promovidas por todas as secretarias, com o objetivo de começar um trabalho de recuperação da zona suburbana da cidade.

Viva!


http://odia.terra.com.br/rio/htm/zona_norte_vira_centro_das_atencoes_da_prefeitura_234559.asp

quarta-feira, 4 de março de 2009

PAC - Oportunidade para revisão de uma estratégia urbanística

São significativos e fundamentais os investimentos do PAC dirigidos à Habitação. Significativos na medida em que uma política de combate ao déficit habitacional precisa ser extensiva, já que a Habitação é um investimento caro por natureza. Fundamentais porque a criação de oportunidades de acesso à moradia regular é o vetor mais competente de combate às diferentes formas de ocupação desordenada do solo urbano, inclusive à favelização, sobretudo nos grandes centros.(...)

O impacto facilmente previsível é o do acréscimo do volume edificado nas cidades. Trata-se, neste caso, de um impacto necessário, que responde ao comportamento demográfico. Desde que este impacto se manifeste nas áreas urbanas já infra-estruturadas e adensáveis, não constitui problema, dado que o propósito do programa é o de resolver um outro problema maior – a dificuldade de acesso à moradia.

O segundo tipo de impacto tem origem na forma pela qual os novos volumes construídos serão implantados. (...) O enclave urbanístico ou a segregação do grande conjunto, induz à percepção de um enclave social, na medida em que a conformação espacial do grande conjunto limita as relações de vizinhança e não favorece interrelações sociais com o tecido urbano circundante.

O modelo urbanístico da chamada habitação de interesse social

O Rio de Janeiro, e muitas outras cidades, tem promovido a construção de conjuntos habitacionais como solução arquitetônica e urbanística para implantação de novas moradias destinadas a famílias de baixa renda. Este modelo urbanístico, em geral baseado na edificação de blocos repetidos de apartamentos, implantados em grandes lotes condominiais, não promoveu a esperada socialização dos equipamentos nem estimulou a convivência comunitária, como buscavam, desde os fins do século XIX, urbanistas e pensadores que compartilhavam dos ideais de mudanças sociais, dos princípios higienistas, da promoção da modernidade através da racionalização do ato de habitar.

(...)Essas idéias, de fato, foram adotadas por Le Corbusier (1887 – 1965), quem consagrou o modelo de cidade de Tony Garnier e desenvolveu o modelo das habitações coletivas em blocos, que até hoje são erguidas em muitas cidades.










Cidade Industrial de Tony Garnier e a segregação dos usos




As utopias do urbanismo descreviam uma cidade limpa, saudável e harmoniosa, nos moldes de um povoado tradicional de uma classe média. (...)

Sejam as formas retangulares das quadras no Rio, sejam as quadradas de Barcelona, as concêntricas de Paris ou irregulares de cidade velha de Argel, a regra é a existência de uma estrutura de quadras. (...)


Por sua vez, reforça-se, a estrutura muito distinta daquela da quadra, tende a caracterizar um enclave urbanístico, uma estrutura excepcional, algo cujas características formais guardam muita discrepância com a identidade do espaço construído tradicional, com o modo histórico de se habitar cidades.


O PAC é uma iniciativa sem precedentes para o Rio e todas as cidades brasileiras. Trata-se, portanto, de um excelente motivo para que arquitetos, urbanistas, cidadãos, políticos, governos, enfim, todos aqueles que lidam com o espaço urbano, se articulem com o objetivo de fazer dessa iniciativa pública, uma oportunidade para implementar uma estratégia urbanística contemporânea para a Habitação.

Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2009


Leia o texto na íntegra


[Por Eduardo Cotrim]

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domingo, 1 de março de 2009

Informal e Coletivo: Moço, dá uma paradinha aqui...

Um dia, um senhor de idade avançada pegou o “frescão” Praça Mauá. No centro, pediu para o motorista parar na Praça 15. O motorista disse que não, porque lá tinha fiscal e que ia parar no próximo ponto da Av. 13 de maio. Para o motorista o problema não era a parada irregular, mas a presença de fiscais. Acabou cedendo e parou antes do ponto. O passageiro desceu. Aí passou o ponto e uma senhora pediu para parar na rua do Ouvidor. Lá tampouco era ponto. Informei à senhora que lá não era ponto. Ela me esclareceu que sempre gostou de saltar o mais próximo possível do seu destino. Argumentei que nesse caso ela deveria pegar um taxi. Ficou meio desconcertada, mas o motorista já estava parando e a senhora descendo. Se o direito a paradas personalizadas se estendesse a todos os passageiros que usam todas as outras linhas, o que seria uma causa justa, que impacto isso representaria ao sistema ? O curioso é que o “frescão” não tem mesmo mecanismo de solicitação de parada, o que induz ao diálogo e à negociação com o motorista. Mesmo nos ônibus convencionais aboliu-se o tradicional aviso: “Fale ao motorista somente o indispensável”.


[Por Eduardo Cotrim]


Foto: Pedro Franco

Cidades Inteiras, Cartografias Mentais: como construí-las?

Na esteira da reflexão sobre o Rio, Cidade Inteira, são oportunas algumas considerações sobre a notícia da "fusão" da linha 1 e 4 do metrô, divulgada nos jornais para ser anunciada pelo governador do estado, como melhor negócio (tarifa mais barata) do que implementar o percurso da planejada linha 4. Lembrando que o trajeto proposto para a linha 4 do metrô, não executada, interliga a estação Carioca, no Centro, à Alvorada, na Barra da Tijuca, passando pelos bairros de Laranjeiras, Cosme Velho, Humaitá, Jardim Botânico, Gávea, São Conrado e Jardim Oceânico. Já a linha 1, corresponde à rede existente e quase totalmente implementada, que interliga as estações Saens Peña, na Tijuca à estação General Osório, em Ipanema, passando pelas estações São Francisco Xavier, Afonso Pena, Estácio, Praça Onze, Central, Presidente Vargas, Uruguaiana, Carioca, Cinelândia, Glória, Catete, Largo do Machado, Flamengo, Botafogo, Cardeal Arcoverde e Siqueira Campos. Com a fusão proposta, chegar-se-ia ao destino da Barra, definido pela linha 4, através do prolongamento da linha 1, tendo como conseqüência a exclusão do trecho da linha 4 entre Carioca e Gávea, criando-se uma linha de metrô ao longo da costa da cidade pelo seu lado sul.

Nesta supremacia do vetor Zona Sul-Barra do metrô pela costa, que anula a irrigação aos bairros internos próximos à montanha, dois assuntos, complementares entre si, merecem destaque. Primeiro, a insistência na prevalecente cartografia mental da Orla Sul da cidade, deixando de lado, até mesmo, os bairros interiores da Zona Sul, neste caso, Laranjeiras, Cosme Velho, Humaitá, Jardim Botânico e Gávea. Segundo, é que a Barra da Tijuca como destino prioritário não é em nenhum momento posta em dúvida, respaldada, certamente, na congestionada rede de circulação viária para a área. Pareceria acertado afirmar que os moradores e o corpo de profissionais de maior qualificação, que atende às empresas e instituições já localizados na Barra da Tijuca, se deslocam em sua maioria por meio do automóvel particular. Por outro lado, haveria uma demanda em gerar acessibilidade aos setores da população trabalhadora de menor renda, pertencente aos quadros com menor qualificação e que não possuem carro.

Com esta proposta de fusão, o que predomina é uma idéia de cidade linear calcada sobre a ORLA SUL, que há muito é a mais valorizada.



[Por Fabiana Izaga]