domingo, 11 de outubro de 2009

A hora é essa!

André Luiz Pinto

Na Revista O Globo deste domingo, a matéria de capa destaca o convite feito pela revista a dez cidadãos, em parceria com arquitetos e designers, para pensarem novas idéias para a cidade.
A discussão se deu tendo como pivô o anúncio dos JO de 2016. Destaque para os “quatro passos para um sonho feliz de cidade”.

O registro negativo deu-se na declaração de Felipe Góes, atual secretário municipal de desenvolvimento:
A revitalização do Porto é uma prioridade do prefeito. Não abandonaremos o projeto. E transferir a vila olímpica para o Porto está fora de cogitação. A maioria das instalações fica na Barra. O projeto foi amplamente debatido.”

O debate que se estabelece não tem nada a ver com o abandono do projeto do Porto. Ao contrário do que pensa Góes, assim como é para o prefeito, a revitalização do Porto também é uma prioridade para os cidadãos cariocas. Sendo assim nada mais coerente do que potencializar os esforços.

Agora vale ressaltar: se foi amplamente discutido, por que agora tantas cidadãos se colocam de forma oposta à proposta de concentração na Barra? Será que o suposto debate se deu apenas lá para os lados do autódromo? Alguém viu ou ouviu?

Veja a matéria da Revista O Globo aqui: parte1 / parte2 / parte3

A lição de Barcelona

Sérgio Magalhães
Quando se fala em Olimpíada, é o modelo de Barcelona (1992) que surge em primeiro lugar. Talvez seja o melhor exemplo de aproveitamento de oportunidade para o desenvolvimento urbano e econômico de uma cidade (e de uma região).
Vale a pena conferir a entrevista que o engenheiro e professor espanhol Manoel Herce deu ao Globo. MH foi responsável por importantes projetos e obras dos JO de Barcelona, inclusive responsável pela Vila Olímpica, que, lá, serviu para fortalecer o centro e a recuperação da área portuária...
Entre otras cositas más, Herce defende a possibilidade da Vila Olímpica ser no porto do Rio, e não vê problemas com o COI por uma decisão dessa natureza.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Felizmente, as coisas mudam.

Sérgio Magalhães
Em seu ex-blog de hoje, o ex-prefeito Cesar Maia defende a concentração dos JO 2016 na Barra por razões de segurança. Afirma que na área portuária a segurança pública é muito complexa.

É argumento relevante, ainda mais vindo de alguém que se dedica ao tema há muito tempo.

Diz também: Agora surge a ideia de deslocamento do centro dos JJOO-2016 para a área portuária. Não há dúvida de que para a cidade seria uma decisão com maior multiplicador urbano.

Não obstante, o ex-prefeito também afirma que debater esse tema da localização é um desserviço aos Jogos Olímpicos .Penso que debater o tema da concentração dos investimentos públicos na Barra, em detrimento do conjunto urbano, não pode ser caracterizado como um desserviço. Igualmente, debater não pode ser caracterizado como uma crítica condenatória à proposta apresentada perante o COI, porque efetivamente as coisas mudam. E podem mudar.

À ocasião da submissão da proposta, duas situações mandatórias eram diferentes das de hoje: as relações políticas entre os três níveis de governo, então em divergência; e o encaminhamento da política de segurança pública, hoje decidida a retomar os territórios ocupados pela bandidagem e neles permanecer plenamente. Eu acredito que este caminho da segurança pública está colocado para aqui ficar, será uma política permanente.

Já a concentração na Barra não resolve nem a questão de segurança, nem é melhor para a cidade, como reconhece CM.

Pelos números divulgados até agora, na Barra se prevê metade das modalidades esportivas; logo, a outra metade fica nos eixos Zona Sul-Centro e Centro-Zona Norte. Esta segunda metade ficará sem boa segurança? Não acredito possível.

O ex-prefeito critica a Zona Portuária por constituir-se por construções pareadas, com armazéns, com morros, com uso portuário (navios de carga, pessoal e material),que dificultariam a segurança. Ora, a Zona Portuária hoje está corretamente descrita por CM. Mas não é assim que permanecerá, se vier a sediar parte importante das Olimpíadas. Ao contrário, será toda um nova situação urbanística e ambiental. O projeto que a Prefeitura anunciou recentemente muda radicalmente o atual contexto. E ela será justamente um foco de modernidade e segurança para toda a metrópole. É lá que se pretende fundear parte expressiva das acomodações dos visitantes de 2016. É para lá que se projeta a construção de um novo centro dinâmico metropolitano. Os morros existentes evidentemente permanecerão. Mas as condições de degradação, não. É da própria experiência do ex-prefeito CM, lançador do programa Favela-Bairro, de quem tenho a honra de ter sido secretário de Habitação, que podemos recolher a certeza de que aquele ambiente hoje de dificuldades pode e será transformado para melhor, com qualidade ambiental e plena segurança.

Ademais, é mais fácil, mais barato, muito mais compensador, tratar uma área pequena do que uma área enorme: Os eixos olímpicos Zona Sul-Centro-Zona Norte não podem ser desconstituídos por razões locacionais impositivas. Com a Barra e suas expansões projetadas, o território olimpíco passa a ser gigantesco, muitíssimo maior do que em qualquer outra experiência olimpica jamais vivida. É dinheiro, é também dispersão de esforços, também na área de segurança, que foi colocada em causa.
Que bom que o debate pode ser realizado.
Tenho certeza que a metrópole e o estado, sobretudo o nosso futuro como cidade importante, matriz de uma consciência coletiva valorosa, só têm a ganhar.

As coisas mudam. E é possível que possam mudar para melhor.

Leia o artigo publicado no ex-blog do César Maia

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

RIO 2016: A discussão na TV

Lucas Franco
Ainda há pouco, na primeira edição do telejornal RJTV, uma reportagem sobre os projetos para os jogos olímpicos de 2016 apresentou algumas das críticas à concentração das instalações na Barra da Tijuca e a defesa do aproveitamento da Zona Portuária da cidade.
Em rápidas entrevistas, o arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães, o secretário estadual de Transportes Julio Lopes e o prefeito da cidade, Eduardo Paes, fizeram as suas considerações.

Leia aqui, a reportagem na página do RJTV na Internet e/ou assista ao vídeo.

A cidade inteira

Lucas Franco
A repercussão não poderia ser melhor. Um dia após a entrevista do arquiteto Sérgio Magalhães, o jornal O GLOBO de hoje defende em seu editorial a oportunidade única para tornar irreversível a recuperação da economia da região metropolitana carioca, revitalizar, corrigir distorções na cidade e municípios vizinhos. Mas, para isso, ainda segundo O GLOBO, a Barra não poderá ser o principal nó olímpico. Ao final, propõe um exercício de racionalidade, usar-se o que a cidade já dispõe e corrigir erros históricos de planejamento.

Na mesma página, uma enxurrada de cartas dos leitores corrobora a opinião.

E ainda mais, na coluna sobre economia, Negócios S.A, a jornalista Flávia Oliveira anuncia: o arquiteto Sérgio Magalhães não está sozinho. Empresários da construção civil vão propor a Eduardo Paes a construção da Vila Olímpica na Zona Portuária.

Leia a coluna OPINIÃO do O GLOBO: Erro a evitar
Leia as Cartas dos Leitores
Leia a nota de Flávia Oliveira: Pró-Porto

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Outro Caminho

Lucas Franco
Há exato um mês atrás, lançamos aqui no Cidade Inteira, a enquete: O que realmente muda a cidade? Terminada a votação, a opção mais votada foi a da transformação dos trens em metrô, com 69% dos votos. Em segundo lugar, ficamos com a revitalização da Zona Portuária (34%), seguida pela recém conquistada oportunidade de sediarmos as olimpíadas de 2016 (23%). Por último, apenas 19% dos leitores escolheram as obras do PAC nas comunidades como principal agente transformador do espaço urbano.

Confrontando os resultados com o cenário atual, levando em consideração a entrevista concedida por Sérgio Magalhães e artigos como o de Merval Pereira, ambos publicados no jornal O GLOBO de hoje, me parece que apesar de contemplar um número restrito de participantes, a nossa enquete cumpriu o seu papel, ao indicar interesses e estratégias do Carioca para a recuperação da cidade.
A oportunidade dos Jogos é extraordinária, mas precisamos redefinir as nossas prioridades, neste caso, transporte de massa (metrô) e revitalização do centro e da Zona Portuária, isto é, áreas consolidadas e decadentes, ao invés da atual expansão rodoviarista para zonas sem infra-estrutura.

Leia a entrevista com Sérgio Magalhães
Leia o artigo de Merval Pereira: Revitalizar o Rio

domingo, 4 de outubro de 2009

Rio 2016, em cima do lance!


André Luiz Pinto

O prefeito Eduardo Paes, em entrevista no "Jornal das 10h" da GloboNews, se posicionou abertamente para uma maior potencialização do projeto olímpico carioca.
Quando questionado sobre a concentração de equipamentos na Barra da Tijuca respondeu:

"(...) há realmente uma concentração muito grande de equipamentos na Barra, talvez seja preciso forçar um pouco mais para áreas consolidadas da cidade."

Falou também que vai visitar a cidade de Barcelona, para conhecer e aprender com a experiência catalã.
Esperamos que os ventos positivos de Barcelona soprem por cá...

Olimpíadas, no Rio

Sérgio Magalhães
Viva o Rio! Viva o Brasil!
Se foi grande –e emocionante- a torcida para o Rio sediar os JO2016, agora precisamos juntar esforços para que as Olimpíadas correspondam à esperança em seu papel potencializador do desenvolvimento.

Que elas serão bem organizadas, as metas cumpridas, não tenho dúvidas. Será um trabalhão em todas as frentes, mas teremos um bom resultado.

O COB, os governos da cidade, do estado e da União, bem como os integrantes da sociedade civil que ajudaram, são credores da gratidão de todos nós. A estratégia adotada foi a vitoriosa –e essa é a questão fundadora de novos tempos.
Agora, outras razões também estratégicas para o Rio precisam ser consideradas.

Entre elas, se encontram os desafios urbanísticos. Para mim, o cerne estará na localização dos investimentos: se ajudando o conjunto metropolitano ao máximo (como a despoluição da baía de Guanabara e a transformação dos trens em metrô) ou se fortalecendo a nova centralidade imobiliária da Barra. Tenho esperança que possa haver uma desconcentração dos investimentos projetados originalmente para a Barra, visto que o novo governo municipal considera prioritário desenvolver o Centro e a região portuária. Lembre-se que quando a proposta olímpica foi apresentada não havia como garantir-se o aproveitamento dos terrenos públicos ociosos aí localizados, coisa que agora já é realidade, com a sintonia política entre as três esferas de governo.
Para ajudar nesse debate, muito modestamente, o CidadeInteira está pronto, à espera da colaboração de todos que queiram participar.

Para iniciar:
-Merval Pereira, O Globo, 03out09, com ponderações de André Urani.
-Carlos Lessa, Folha de São Paulo, 03out09.
-prefeito Eduardo Paes, entrevista no Globo, 04out09, destaque para o porto.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rio 2016

André Luiz Pinto
Parabéns ao Rio de Janeiro!!! Futura sede das Olimpíadas de 2016...

Vamos comemorar e preparar esta cidade para que os Jogos Olímpicos sejam um grande sucesso e um importante legado para os cariocas!

Fica aberto no "Cidade Inteira" o espaço para debate, mande sua sugestão, crítica, toda contribuição é bem vinda!

Comente aqui ou envie para o email cidadeinteira@smcconsultoria.com.br

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ainda sobre a Grande Paris

Sérgio Magalhães
Em março passado, foi instalada em Paris a exposição dos dez trabalhos encomendados a dez grandes escritórios de arquitetura, franceses e não franceses, como uma reflexão sobre o futuro da cidade metropolitana de Paris. O CidadeInteira comentou: A grande Paris na Agenda e Confusão em Paris.
Diversas publicações foram produzidas desde então.Em junho, Olivier Gaudron, Marie-Flore Mattei, François Ménard, NicoleRousier et Bertrand Vallet fizeram uma sistematização de bastante interesse por sua objetividade.
Aos que se interessam pelo tema, está disponível esse estudo em:

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Regularização Fundiária

Sérgio Magalhães
A professora e ex-Procuradora Geral do Município do Rio de Janeiro, Sonia Rabello de Castro, opinou (2004) sobre o tema da Regularização Fundiária, em artigo que publicamos a seguir.
A destacar, a opinião de que, no caso dos assentamentos populares, “ser juridicamente impossível, em face do direito público, fazer a regularização registraria individual, sem antes implementar a regularização urbanística”.
E avança mais: “é esta ação que viabilizará que os particulares, da sua parte, e quando quiserem, promovam a regularização registrária”. Ou seja: na regularização registrária, na opinião de Sonia Rabello, o protagonismo deve estar com o particular, enquanto na regularização urbanística estará com o poder público.
Para ajudar a compor um quadro do tema, o CidadeInteira está iniciando um arquivo com matérias relacionadas. Aguardamos contribuição.

Leia o artigo de Sonia Rabello: Regularização Fundiária e o Sistema Jurídico

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Aportam as Preocupações III - Av. Rio Branco

André Luiz Pinto

Dando continuidade às preocupações com os projetos que despontam em nossa cidade: está programada para 30 de Setembro, às 19h, na "Recicloteca", uma Palestra com o Secretário Municipal de Urbanismo, Sérgio Dias, sobre o Projeto para a transformação da Av. Rio Branco em via de pedestres.

Vale lembrar que a Av. Rio Branco é o coração do Rio de Janeiro e que foi aberta no início do século XX, pelo Prefeito Pereira Passos, como uma das principais ligação ao então novo porto.
A mudança pode ser a pá de cal no esvaziamento do Centro do Rio, talvez reforçando a Barra como sua substituta.
Parece que o esforço é mesmo o de mudar a "alma da cidade" ao invés de preservá-la.

A Recicloteca fica na Rua Paissandu, 362, Laranjeiras. Tel. 2551 6215 / 2552 6393

As vagas são limitadas!

sábado, 26 de setembro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ainda a cidade no século XXI

Sérgio Magalhães

Quem lembra do ano de 1980? Eram tempos de Figueiredo. E 1982? Primeira eleição depois da anistia, quando Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro.

Parece que foi hontem...

Pois nessa época, o Brasil urbano contava com 80 milhões de habitantes e, hoje, já somos 160 milhões. Morávamos em 20 milhões de domicílios urbanos e, hoje, em quase 50 milhões. Portanto, tínhamos uma média de 4 moradores por domicílio; agora, menos de 3,2 moradores / domicílio.

A taxa de natalidade foi reduzida à metade e a população dobrou. Tal crescimento demográfico se deve em grande medida às cidades, que permitiram melhor padrão de saúde, aumento da longevidade, melhor educação. Também o aumento no número de moradias, para além do crescimento demográfico, deve ser creditado à vida urbana e ao modelo ocidental de desenvolvimento ao qual nossa população aderiu.

Essa realidade urbana é um patrimônio fantástico de que dispõe o país. Um sistema urbano com 160 milhões de cidadãos, ocidentais, falando uma mesma língua, em um país continental , integrado social e culturalmente.

Neste século XXI, o século do conhecimento, a vida urbana é a principal matriz do desenvolvimento.

Podemos imaginar onde estaríamos se nossas cidades fossem bem tratadas? Se dispuséssemos de um bom sistema de transporte de massa, integrando toda a cidade metropolitana, e que permitisse o ir e vir com conforto, segurança e qualidade a qualquer hora? Como se poderiam potencializar os esforços dos empreendedores? Dos que querem estudar? Dos que trabalham? Dos que se divertem? E se dispuséssemos de financiamento para as novas moradias? Habitações saudáveis, seguras, bem localizadas.

No caso do Rio, ainda com praias limpas, paisagem esplendorosa, povo alegre. Alguém dá mais?


Para o crescimento dos domicílios urbanos:

http://www.ibge.gov.br/series_estatisticas/exibedados.php?idnivel=BR&idserie=FED101

Moradia brasileira no século XXI

Sérgio Magalhães
Na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (15/9), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou dois quadros interessantes:
1. A média de financiamento habitacional no governo Lula é de 494.000 moradias (imagino que ao ano –e calculo que esteja um tanto quanto “otimizada”, ou que se refira até o fim do governo);
2. O investimento com o Minha Casa Minha Vida será de R$ 60 bilhões.Em média: R$ 60mil/domicílio.
Segundo o IBGE, ao final do século XX, as cidades brasileiras tinham quase 40 milhões de domicílios. E, em 2007, já somavam 48 milhões. Em sete anos, aumentaram 20%. Equivalem a quatro cidades do Rio de Janeiro.

Se juntarmos esses números aos dados fornecidos pelo ministro, e situando apenas nos últimos cinco anos (governo Lula), dos novos domicílios foi financiado 1/3. Isto é: 2/3 dos novos domicílios foram construídos exclusivamente com os recursos das próprias famílias.
Sem financiamento, como os pobres irão construir? Não exagero dizendo que pelo menos metade desses novos domicílios terá sido construída na irregularidade urbanística. Fazendo uma regrinha de três com os números do MCMV e do IBGE (R$ 60mil/domicílio – 1,5milhões dom/ano), veremos que tal irregularidade na construção das cidades brasileiras poderá ser superada se for possível tornar disponível um volume de crédito de até R$ 90 bilhões/ano.
Na mesma apresentação, o ministro Mantega informa que o Brasil licenciou aproximadamente 3 milhões de veículos/ano. Ou seja, algo como o dobro do número de domicílios que o Brasil urbano constrói. Todos sabemos que os automóveis tem completa linha de financiamento e somente não compra a prazo quem não quer. Se a média for de R$ 30 mil/veículo, o volume de crédito [teórico] poderia ser R$ 90 bilhões/ano.
Quanto será que foi investido em transporte de massa? Não me surpreenderia se em todo o país o investimento anual não tenha alcançado R$ 1 bilhão.

A primeira década do século já está vencendo. Se permanecermos no mesmo modelo, nossas cidades terão cada vez mais irregularidade urbanística, mais favelas, mais insalubridade. Em compensação, estaremos circulando (circulando?), os que puderem, em automóveis cada vez mais bonitos e velozes. Para tanto, já temos garantidas as incomensuráveis reservas do pré-sal (e os recursos que inexistem para as cidades).
Informações correlacionadas:
-Artigo SM publicado pela Folha de São Paulo: Ainda o Minha Casa
PS. A propósito: nesse artigo, falo em R$ 35 bilhões de investimento, que era o que os dados do Min. das Cidades informavam. Já o ministro Mantega diz que serão R$ 60 bilhões. Parece mais ajustado aos custos divulgados.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Imagem do Rio de Janeiro

Lucas Franco*
A foto tirada pelo fotógrafo Felipe Novaes a partir da Av. Perimetral é bastante sugestiva.

A articulação dos diferentes planos nos dá a impressão de que o edifício da Prefeitura está mergulhado em um emaranhado de construções irregulares.
Chego a duvidar da sua veracidade, se talvez, ela não tenha sido manipulada digitalmente. Entretanto, e de qualquer maneira, talvez ela retrate com extrema fidelidade a cidade do Rio de Janeiro.
Vale a reflexão.
*Segundo indicação de Ceça Guimarães

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O novo MIS

Lucas Franco
Passada a “festa” de divulgação dos projetos para o novo Museu da Imagem e do Som (MIS), a ser instalado no terreno da finada boate Help, localizada na Av. Atlântica, praia de Copacabana, começam a surgir algumas boas discussões sobre a proposta.

Esta semana, recebi da colega Tereza Coni, a indicação para dois artigos muito interessantes: um do professor da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, Pedro Lessa e outro da diretora da Escola de Belas Artes, Ângela Ancora da Luz.
Sem questionar os méritos arquitetônicos do projeto vencedor, do escritório americano Diller Scofidio + Renfro, eles chamam à atenção para outras questões relevantes, como o processo de ocupação de um lote público e a quebra da continuidade da “rua corredor”, além de desmitificarem o argumento usado pelo Governo, de que o projeto combate a indústria da prostituição.
Leia os artigos no Olhar Virtual da UFRJ

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Paisagem bonita

Sérgio Magalhães

Uma das paisagens mais bonitas de Porto Príncipe, Haiti, é a dos estudantes uniformizados. Eles se destacam pelo aprumo com que se vestem, cada escola com suas cores.

Em meio à pobreza tão triste da realidade haitiana, ver os grupos de estudantes é uma esperança. Ela não pode ser generalizada, porém, porque há um contingente muito grande de crianças e jovens fora da escola, a julgar por Belair, bairro central e tradicional.

Entre os moradores de Belair acima de 6 anos de idade, o censo indicou que 47% freqüentam a escola e 53% não a frequentam.

Não obstante, entre os que tem mais de 6 anos, 28% declararam que tem curso secundário; 3,5% tem curso superior; 0,1% tem mestrado.

Segundo dizem, 90% das vagas são em escolas privadas.

Para o censo: www. comunidadesegura.org

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Parece pequena

Sérgio Magalhães
Parece pequena, mas talvez seja do tamanho padrão.

A casa com um só cômodo, sem sanitário nem cozinha, construída em bloco de cimento e com telhado em amianto ou zinco, é o modelo mais recorrente em Belair, bairro tradicional e central de Porto Principe, capital do Haiti.

58% dos domicílios tem apenas um cômodo e 81% são em blocos de cimento.
90% dos domicílios não tem rede interna de água.

No caso, o exótico é apenas a escada...


Pesquisa censitária elaborada pela Universidade de Quiqeya e pelo VivaRio, disponível em http://www.comunidadesegura.org/

Modernidades

Sérgio Magalhães
O Haiti tem 8 milhões de habitantes e sua capital, Porto Príncipe, é uma cidade grande, com quase 3 milhões. Saídos há poucos anos de uma guerra civil, pacificados graças a forças militares da ONU, das quais o Brasil tem papel de comando, pouco a pouco vão retomando alguma normalidade.

Estive em Porto Principe há 3 anos e voltei lá nesta semana.

Já não há tanto lixo acumulado nas ruas; nota-se que o serviço de recolhimento está funcionando, ainda que precário. A eletricidade ainda é escassa, mas os intervalos sem luz já são bem mais espaçados. A iluminação pública continua muito irregular, com largos trechos à escura.

Desta vez, as ruas me pareceram mais transitáveis. Mas o transporte público é caótico, sob responsabilidade quase que exclusiva dos tap tap, famosos por sua decoração exuberante.

A água potável ainda é o bem mais raro. As famílias compram a água em postos que são abastecidos alguns dias na semana e a transportam para suas casas em latas de 18 litros, iguais a essas que servem para tinta de parede.

Com a mais baixa renda das Américas, uma das menores do mundo, um território devastado, o Haiti tem, em operação, 2,1milhões de telefones celulares. Isto é: em média, um em cada quatro haitianos tem o seu portable...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Penso Subúrbio Carioca


"O Rio é uma cidade de cidades misturadas”, já diziam os versos da canção de Fernanda Abreu. Com arquitetura e urbanismo não é muito diferente: poucas cidades no mundo têm a capacidade de sobrepor tempos e estilos arquitetônicos como o Rio de Janeiro. Menos cidades ainda têm o privilégio de mesclar arquitetura e paisagem com harmonia. Dentro das múltiplas cidades que existem dentro do Rio, o grande universo que pode ser classificado como “subúrbio” é o que tem merecido menos atenção – não apenas do poder público, mas também dos estudos sobre arquitetura e urbanismo. Preencher parte desta lacuna é o objetivo de “Penso Subúrbio Carioca”, primeiro livro da Editora Tix, selo que chega ao mercado pelas mãos da arquiteta e produtora Ana Borelli.

O lançamento de Penso Subúrbio Carioca vai acontecer no dia 15 de setembro, a partir das 18h30, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. Logo depois dos autógrafos, será exibido, em sessão para convidados, o filme Praça Saens Peña, de Vinicius Reis, que tem Maria Padilha e Chico Diaz no elenco e ainda está inédito no circuito comercial.
 
Leia o release completo

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Aportam as preocupações

Lucas Franco*
O Porto do Rio tem sido alvo de especulações e debates ao longo dos últimos (muitos) anos. Os arquitetos, temos que fazer o mea-culpa, pouco se pronunciaram, individualmente ou por seus órgãos representativos, IAB, Universidades e etc.
O oba-oba em torno do Porto é salutar e veio tarde. Entretanto, tenho visto colegas atentarem demasiadamente às questões formais da arquitetura, concentrando a argumentação em uma crítica de arquitetura, com direito a censuras e duelos de vaidades ao invés de perceber o que realmente muda a cidade.
Precisamos nos preocupar com as possíveis alterações na legislação urbanística, por exemplo, como serão negociadas as CEPACs, títulos que darão aos empreendedores o direito de construir além dos limites definidos pelo IAA (Índice de aproveitamento da Área).
Se não, novamente prevalecerá a máxima: pagando bem, que mal tem?

Precisamos discutir o espaço público, a qualidade do conjunto, planejar as etapas e articular as partes. E isso já é muito.
A Potsdamer Platz em Berlim, por exemplo, é um sucesso de revitalização urbana, muito mais devido a discussão travada sobre a utilização dos espaços (públicos, semi-públicos e privados) do que a qualidade formal dos edifícios.

A preocupação dos urbanistas e dos arquitetos deve começar aí e somente depois passar a "quem é que vai projetar lá".
A preocupação da sociedade deve ser com os agentes, pois a deles, acredito, não passa nem perto com a revitalização que todos os cariocas sonham para o Porto.
É verdade, que a boa cidade é recheada por esses conflitos de interesses. Pelo mesmo motivo, nenhum deverá simplesmente prevalecer.

*Com ilustre contribuição de Vera Rocha

domingo, 6 de setembro de 2009

O apagar da Rioluz

Lucas Franco
Outro dia, recebi por e-mail o artigo do arquiteto e especialista em iluminação urbana, José Canosa Miguez, denunciando a lamentável situação de decadência da Rioluz, empresa responsável pela gestão da iluminação pública da nossa cidade.
Em um dos primeiros trechos, questiona a terceirização dos serviços para a Zona Norte:
“O que aconteceu para que um quadro de sucesso e competência do serviço público se revertesse para a situação de penúria da Rioluz e deterioração das instalações, fatos que levam o atual Prefeito a terceirizar a gestão da iluminação pública em parte da cidade?”
Em outro, chama a atenção para as particularidades conceituais:
A vida durante a noite nas cidades tem características e particularidades que são estudadas e reconhecidas pelas administrações mais competentes. A luz é agente de segurança, mas é também a criadora de ambiências e cenários completamente diferentes daqueles que a cidade oferece durante o dia. Cidades desenvolvidas como Paris já cogitam até que seria necessário um Prefeito para o dia e outro para a noite, tamanhas as diferenças e exigências para a sua boa gestão.
Enfim, para quem gosta da cidade, é mais um tema que devemos estar atentos.
Leia aqui, o artigo completo de Miguez: O apagar da Rioluz
Veja outro artigo relacionado

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ainda o "Minha Casa"

Sérgio Magalhães
Neste domingo, o jornal Folha de São Paulo fez matéria de capa sob o tema do Programa Minha Casa, Minha Vida.
A pedido do jornal, escrevi artigo que foi publicado com o título: Programa pode ser desastroso para as cidades, que está transcrito abaixo.
Programa pode ser desastroso para as cidades

O projeto Minha Casa, Minha Vida pode ser importante como estímulo à economia; não terá o mesmo relevo na questão habitacional. Para as cidades, poderá ser desastroso.

O investimento de R$ 35 bilhões é uma bela quantia. Aquece a economia. Com ele, o governo estima financiar um milhão de moradias. Um milhão, em três anos, é expressivo; mas não é tanto como parece, pois o Brasil urbano produzirá 5 milhões de moradias nesse mesmo período.

A proporção é apenas a mesma das últimas décadas: entre 1940 e 2000 foram construídos 35 milhões de domicílios urbanos. Desse total, um quinto foi financiado. Isto é, as famílias brasileiras construíram nossas cidades sem financiamento, onde foi possível: nos loteamentos irregulares das periferias e nas favelas. Temos casa, sim, precária que seja; mas a cidade é escassa: há um gigantesco deficit urbano em nossas metrópoles.

Com o MCMV volta à cena o antigo modelo dos conjuntos residenciais, da casa descolada da cidade. É o velho BNH (Banco Nacional da Habitação), um só carimbo neste vasto país.
As notícias são de conjuntos com milhares de unidades, valendo-se da artimanha de produzir condomínios independentes, justapostos. Onde? Lá mesmo, onde a cidade se esvai, ou onde nem sequer chegou: em locais ermos, destituídos de vida urbana.

Os novos conjuntos pressionarão por novos serviços públicos, novas linhas de ônibus, novas redes, novos equipamentos. Servirão para ampliar o deficit urbano, uma das matrizes da violência armada.Esses R$ 35 bilhões teriam melhor rentabilidade social se, com crédito habitacional, as famílias fossem as protagonistas da decisão de onde e como morar, ao invés da decisão exclusiva ficar com governos e empreiteiros. Os recursos teriam melhor resultado se aplicados no combate ao déficit urbano, no saneamento, no transporte público.

No Rio, por exemplo, onde se prevê investir R$ 4 bilhões: se metade fosse aplicada na transformação dos trens suburbanos em metrô, toda a cidade metropolitana se beneficiaria. Estariam melhor atendidos quase 8 milhões de habitantes, que hoje sofrem em vans e ônibus, caros, inseguros, desconfortáveis.

A outra metade dos recursos, se aplicados por escolha das famílias, seriam melhor localizados, em moradias mais baratas, produzidas por pequenos empresários da construção civil, sem expansões do tecido urbano. Talvez isso estimulasse até mais a economia, com recursos mais bem distribuídos. Talvez o tempo de produção até fosse menor. Por certo, as cidades agradeceriam.

Veja a matéria completa na Folha de São Paulo

Veja a repercussão em outros blogs:

Reinaldo Azevedo (veja.com)

José Carlos Aleluia (Dep. Fed. DEM-BA)

Anselmo Carvalho (Direito, política e sociedade)

A volta das picaretas...

André Luiz Pinto

Recebemos do arquiteto José Canosa Miguez um texto, parcialmente publicado em O GLOBO (01.09.2009), com um desabafo sobre a demolição do pórtico/passarela de Ipanema.

Vale a pena registrar o fato, já que na nossa cidade construir e demolir tornam-se marcas midiáticas, vazias e contestadas de cada governo que passa. Enquanto isso nada de um projeto de cidade efetivo, e o tempo passa e seguimos sem rumo...

Segue o texto na íntegra:

A DERRUBADA DA PASSARELA DE IPANEMA - José Canosa Miguez

Violência e arbitrariedade se comete ao demolir o monumento projetado pelo arquiteto Paulo Casé, erroneamente denominado 'passarela', construído em Ipanema como pano de fundo para o também criticado e célebre obelisco.

Se alguns moradores entendem que a passarela é feia, derrubá-la se configura em absurda censura estética, especialmente porque Casé é arquiteto renomado e premiado, seu projeto tem fundamentação histórica, passou pela apresentação prévia à população e também pelo crivo exigente da equipe que dirigiu o Projeto Rio Cidade na época. É manifestação artística que pode ser considerada feia ou bonita, a critério de cada um, mas nunca censurada, principalmente por quem não entende nada de arquitetura.
Se o argumento é relativo à segurança, como a presença de mendigos no local durante a noite, o problema não é da passarela e sim da polícia. Finalmente, a alegação de que o monumento tira a privacidade dos apartamentos vizinhos não procede, pois a passarela não é acessível. A demolição da passarela é manifestação medieval, inaceitável nos tempos que correm.

E você, qual a sua opinião sobre a demolição? Comente!

fonte imagem

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mais rico e com mais dinheiro?

Sérgio Magalhães

Há poucos dias fiz um comentário comparando os PIBs dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Mostrei que a relação entre PIB/Área é maior no RJ do que em SP. Terminei assim a nota: “Fosse pela economia, as estradas do RJ teriam que ser melhores, os equipamentos, as infra-estruturas. Assim, deve haver outra explicação para a diferença entre qualidades...”

Continuei a pesquisar, para ver se decifrava o enigma: se a “densidade econômica” do RJ é mais alta do a de SP, por que a diferença entre a qualidade das infra-estruturas estaduais? Os recursos dos governos estaduais são proporcionais às respectivas economias? Ou será que o governo fluminense tem proporcionalmente menor orçamento do que o paulista?

As perguntas me pareceram pertinentes, porque não é o PIB que constrói e mantém as infra-estruturas, os equipamentos, os serviços públicos. É o governo, através de seus recursos financeiros, traduzidos pelo Orçamento.

Foi aí que fiquei mais perplexo: o estado do Rio de Janeiro tem maior “densidade orçamentária” do que o estado de São Paulo. Isto é, o RJ tem mais recursos orçamentários por km² do que SP.

Procurei a economista Sol Garson, ex-secretária de Fazenda, para me ajudar a conferir. Pelos dados do Ministério da Fazenda, para 2008, a receita de SP foi de 103 bilhões de reais enquanto a do RJ foi de 40 bilhões. Comparados pela área de cada estado, SP tem orçamento de R$ 415mil / km² enquanto o RJ tem R$ 917mil / km².

E como as despesas são muito próximas das receitas, podemos dizer que a média de gastos por km² no RJ é 2,2 vezes maior do que em SP.

Estudo semelhante para outros estados, indica posição privilegiada do Rio: sua “densidade orçamentária” é 9 vezes maior do que a do Paraná, 12 vezes maior do a do Rio Grande do Sul e 15 vezes maior do que a de Minas Gerais.

Proporcionalmente ao tamanho do território a ser mantido, o estado do Rio é o mais rico e tem o governo com mais dinheiro, entre todos os estados brasileiros.

E agora?

Veja a tabela com os dados completos

sábado, 29 de agosto de 2009

100 Anos de Burle Marx (II)

Eduardo Cotrim
Vem em bom momento a criação do Grupo de Trabalho, que reúne Prefeitura do Rio e IPHAN, para elaborar o Plano Diretor do Parque do Flamengo. Esse GT está contido num outro maior, que estuda diretrizes para mais duas áreas emblemáticas da cidade - a Orla de Copacabana.e a Floresta da Tijuca. No horizonte, a candidatura do Rio à Cidade Patrimônio Mundial, na categoria (peso-pesado) paisagens culturais. A candidatura se oficializa ainda este ano, com envio do dossiê à UNESCO. A decisão quanto à ratificação será em 2010.

Portanto, Parque do Flamengo, Orla de Copacabana e Floresta da Tijuca são o universo com o qual se trabalha a candidatura. E não seria muito acrescentar que, mesmo na Floresta da Tijuca, encontrem-se as mãos de Burle Marx, nos jardins da Capela Mayrink.

Parece estar subentendido pela PCRJ e IPHAN, e isso é positivo, que a formulação de diretrizes não deva se restringir à expectativa da candidatura ao título da UNESCO, ainda que, por si, o processo seja um excelente estímulo para um engajamento coletivo, que alimente a percepção do valor da paisagem urbana do Rio e por conseqüência, sua preservação.
Referindo-me apenas ao Parque do Flamengo, parece ter um viés muito específico: o de consolidar a titulação do legado paisagístico de Burle Marx, para nós mesmos, sejamos cidadãos cariocas ou visitantes.

O Parque do Flamengo extrapolou fronteiras, justo pela originalidade de sua concepção paisagística. Por isso, tem lugar definitivo na história da luta silenciosa entre os modelos de tratamento de espaços, observada no artigo anterior. Re- ouvir melhor a potencialidade paisagística do Parque é provavelmente o que faria hoje seu criador, pois nas palavras de Lucio Costa, “Roberto Burle Marx é simplesmente um compositor de velha estirpe que se expressa por outra via – a visual”.

E já que é assim, que nos apropriemos mais do Parque e ouçamos melhor todas suas potencialidades.

Centro e Centralidades

Sérgio Magalhães

O Centro do Rio é também o Centro Metropolitano. Tanto funcionalmente como simbolicamente, detém as principais centralidades do estado e ainda preserva parte importante de centralidades nacionais, construídas ao tempo em que a cidade foi capital federal. Sua estrutura urbanística é poderosa.


A reforma de 1903-1906, mandato do prefeito Pereira Passos, consolidou espacialmente um conjunto de atributos formais, funcionais e simbólicos que não apenas modernizaram o Rio como o transformaram na Cidade Maravilhosa. Intervenções nas décadas seguintes, como o desmonte do morro do Castelo e a urbanização da Esplanada, o desmonte do morro de Santo Antonio, a construção da Avenida Presidente Vargas e o Aterro do Flamengo, foram ações urbanísticas de larguíssimo alcance. Sobretudo evidenciaram a capacidade do Rio em estruturar-se como uma grande cidade, de estatura mundial.


Mas a energia potencial desse esforço está a exigir um recarregamento.

Por isso, precisamos saudar o desejo de desenvolvimento da área portuária do Rio, anunciado pelo prefeito Eduardo Paes. Esse desejo pode ser um instrumento importante para uma nova fase de reforço da centralidade do Centro.


Afinal, nas últimas décadas, a cidade desmobilizou-se em benefício de novas áreas, como a Barra da Tijuca, que capturou recursos vitais para o desenvolvimento urbano. A situação de dificuldades hoje vividas pelo Centro e pela Zona Norte suburbana é, em grande medida, resultado desse rumo concentrador e equivocado.

domingo, 23 de agosto de 2009

Maria Alice no Cidade Inteira

Sérgio Magalhães
Há alguns meses, um grupo de amigos nos reunimos para ouvir a socióloga e professora Maria Alice Rezende de Carvalho, cujo tema central foi a cidade.
Foi uma noite memorável, no Cosme Velho, casa do Flávio e Helô Ferreira, em que também participaram Ceça Guimaraens, André Luiz Pinto, Luiz Flórido e eu.
O Lucas Franco retirou do vídeo algumas passagens dos comentários de Maria Alice:
- no trecho Reinventar o Rio, MA defende a necessidade de construirmos um novo consenso para uma agenda para a cidade, tal como, segundo ela, foi possível nos anos oitenta em torno da igualdade.

-no trecho Coletivos, Maria Alice faz uma reflexão sobre a construção de uma cidade em que o coletivo seja a base do acordo social, ao invés do indivíduo, que teria sido a base do acordo já esgotado.

- no trecho Escola Pública, MA comenta o papel político que a escola pública desempenhou na intermediação social.

Imperdíveis!

No YouTube:
01-Reinventar o Rio (3'57'')
02-Coletivos (1'31'')
03-Escola Pública (1'14'')

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

100 anos de Burle Marx

Eduardo Cotrim
Desde o Paraíso bíblico da Gênesis, onde “Deus tinha produzido da terra toda a casta de árvores formosas à vista”, a humanidade tem edificado jardins, e assim, com o passar dos tempos e de outros grandes artistas, chega-se a Burle Marx.

A história que conhecemos muitos de nós, do Paisagista, já é o bastante para qualquer mortal, como a sua obra, que está, aí, pela cidade, pelo Brasil e mundo afora, disponível a todos.

O Rio, lugar onde se radicaram os pais de Burle Marx, tem sido, historicamente, a vitrine de célebres paisagistas: o brasileiro Mestre Valentim, do Passeio Público e do Chafariz da Pirâmide da Praça XV, ainda do Vice-Reinado, o francês Glaziou, da Quinta da Boa Vista e do Campo de Santana do segundo reinado, como o inglês John Tyndale, do atual Parque Lage. Paul Villon, dos jardins da Casa de Rui Barbosa e do Palácio Guanabara. Quantos seriam os eméritos paisagistas pré-Burle Marx, que, em suas passagens e permanências, construíram para sempre a identidade do Rio em suas ruas, praças, parques e florestas? Eram outros tempos - mesmo que estes incluam ainda os mais recentes - quando as estéticas romântica e clássica européias, marcavam, inevitavelmente, todos esses artistas.

O fato é que ao nos depararmos com o Parque do Flamengo, com os calçadões de Copacabana, com os jardins do Palácio Copanema, para não sairmos do Rio e divagarmos pela pintura, cerâmica, artesanato.... não seria estranho tratar o Paisagismo, como algo anterior e posterior a Burle Marx. Além disso, quem sabe, a história do paisagismo, sob uma observação da ótica burle-marxiana, não possa ser concebida como a história da luta entre arranjos de espaços?

E quanto aos terraços-jardins da contemporaneidade ecológica internacional, tão alardeados como uma nova invenção? Perguntemos a Roberto Burle-Marx !

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Cabe no bolso

Sérgio Magalhães
A excelente série de reportagens que O Globo publica desde o último domingo, Democracia nas favelas, culmina hoje com um cálculo surpreendente: a retomada definitiva de todos os territórios hoje sob o controle de bandidos poderá custar apenas 0,4% do orçamento do estado. Ou algo como um milésimo do PIB do Rio de Janeiro.

Em outra nota, neste blog, comentei a relação entre PIB e área do estado. No cálculo que fiz, nossa “densidade economica”é quase o dobro da densidade econômica de SP.

Se outras razões fundamentais não pudessem sustentar o combate à violência, agora, com a demonstração de que uma política de retomada e permanência dos serviços públicos de segurança em toda a cidade é perfeitamente viável, acho que já podemos compartilhar uma fundamentada esperança.

Já vai ser possível voltar a sonhar com uma Zona Norte que se desenvolva; com um Rio Metropolitano; com uma cidade inteira!

Sem dúvida, a cada passo, a cada progresso, devemos comemorar.

O Globo: Uma virada que cabe no bolso: UPPs em todas as favlas, em média, um miléssimo do PIB carioca

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Densidade econômica e infra-estrutura: SP x RJ

Sérgio Magalhães
É senso comum: quanto mais desenvolvida for a economia, melhor a qualidade de vida.
São Paulo tem a maior economia entre todos os estados brasileiros; tem as melhores estradas; as cidades médias são desenvolvidas, com bons equipamentos comunitários; a qualidade de vida é de bom nível.
O Rio de Janeiro tem um sistema viário muito inferior ao paulista, cidades menos equipadas, sem adequada infra-estrutura. O saneamento é precaríssimo.
Pudera: a economia paulista é 3 vezes maior do que a fluminense: o PIB de SP alcança R$ 850 bilhões enquanto o PIB do RJ é R$ 290 bilhões.
Está explicado? Não.
Ocorre que a área do estado paulista é quase 6 vezes maior do que a do estado fluminense. A densidade econômica (PIB / Área) do Rio é quase o dobro da de São Paulo: RJ produz R$ 6,6 milhões por Km2 ; enquanto SP produz R$ 3,4 milhões/km2.
Fosse pela economia, as estradas do RJ teriam que ser melhores, os equipamentos, as infra-estruturas. Assim, deve haver outra explicação para a diferença entre qualidades...

domingo, 2 de agosto de 2009

Política e a Câmara na Cinelândia

Sérgio Magalhães
Por razões que os cientistas políticos haverão de saber, nós estamos acostumados a creditar aos políticos a responsabilidade pela resolução dos problemas de todas as naturezas. Contudo, a política –aquela das instituições de representação- não está respondendo à complexidade da sociedade contemporânea. Enquanto isso, os problemas se avolumam.
Olha só o caso da Câmara de Vereadores do Rio.
Quando Pereira Passos fez sua grande obra de remodelação do Rio, a Avenida Central foi a espinha dorsal da mudança. Em um dos extremos da Avenida, implantou a representação da centralidade comercial/econômica, a Praça Mauá; na outra, implantou-se a representação política e cultural, a Cinelândia. Desde logo, com o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes; com o Clube Naval e o Clube Militar; e com o Senado. Instalada em prédio construído sob encomenda, na década de 1920, a Câmara ajudou a consolidar a Cinelândia como locus privilegiado da política carioca.
Quase a totalidade dos principais eventos políticos de massa realizados no Rio de Janeiro têm a Cinelândia como foco. E, no dia a dia, é onde se reúnem manifestantes de todas as greis e temas. Talvez seja o lugar político mais vivo da cidade.

Mas, agora, a Câmara decide se mudar da Cinelândia. Alega que não há condições adequadas para o seu trabalho nos imóveis que lhe estão disponíveis. Precisa de prédio novo, maior.

A mudança não será saudável. Para a cidade e para a política.

Para a política, porque privilegia os aspectos administrativos-burocráticos da instituição, a ponto tal que passam a se impor ao simbólico-representativo. A ser verdadeira essa alegada necessidade, que paralelo se faria com o Parlamento britânico, pai da democracia moderna, há séculos ‘estabilizado’no mesmo edifício? Que inveja ver ao vivo, pela TV, o debate entre o Primeiro Ministro e os deputados, frente a frente, em um salão de proporções modestas e austeras! (A burocracia, por certo, está lá; mas não é ela que protagoniza a política.)

A Câmara pretende ir para um terreno próximo do porto. Acha que assim ajudará a revitalizar a área portuária. Contudo, a mudança não será saudável para cidade porque enfraquece o seu principal espaço público, aquele que sediou a representação nacional por décadas, e que continua no imaginário coletivo como o lugar da política. Não faz sentido buscar-se a revitalização do Centro e trabalhar no sentido da desconstrução da sua centralidade histórica e política.
Quem, quem quer que seja, por mesquinharia, demoliu nos anos de ditadura o Palácio Monroe, sede do Senado, estará agora justificado com a ‘derrubada’ da Câmara, nos anos de democracia...
Com urgência uma agenda para a nossa cidade!

veja também: http://www.almacarioca.com.br/cinel.htm

Consenso e agenda

Sérgio Magalhães
Há poucos dias participei de uma mesa-redonda no XIV Congresso Brasileiro de Sociologia. Coordenada pela professora Maria Alice Rezende de Carvalho, contou com a presença dos professores Beatriz Jaguaribe e Gilberto Velho, além de mim.
O tema, é claro, foi a cidade.
Para a coordenadora, os discursos se complementaram de tal modo que pareceriam ter sido combinados. Mas, de fato, a ‘combinação’ resulta do amadurecimento que a reflexão sobre a cidade já alcança entre tantas parcelas sociais, acadêmicas e políticas. Há amadurecimento, todavia falta um desdobramento na construção de uma agenda.
Penso que já há condições para que se busque um certo consenso mínimo em relação ao enfrentamento dos problemas urbanos mais gritantes –ou, pelo menos, para aqueles para os quais se possa vislumbrar o equacionamento.
Uma agenda que contenha um compromisso com o transporte público, como a transformação dos trens suburbanos em metrô, ou como o fortalecimento do centro –para não falar apenas no combate à violência.