segunda-feira, 20 de abril de 2009

Queremos a Constituição!

Quanto mais os defensores proclamam que o objetivo dos muros em favelas da Zona Sul é evitar o desmatamento, mais me reforça a convicção de que há um objetivo oculto, maior do que esse proclamado: sinalizar que o governo está atuante.Mas por que o governo precisa dessa sinalização?
Como o governo –por razões que se somam- não consegue impor uma política de retomada de territórios e permanência do Estado nas áreas dominadas pelos traficantes ou por milícias, passa a apelar para a comunicação indireta. Os muros são apenas isso.
Não fossem, as soluções lembradas pelo arquiteto Janot, no Globo, teriam sido consideradas antes do anúncio dos muros. São propostas de bom senso, que fazem parte do repertório de limitação reconhecido e utilizado em inúmeras situações. Outros articulistas também se manifestaram assim, como o fez Elio Gaspari.

Ademais, não podemos deixar de considerar que os muros se apresentaram a reboque das batalhas entre bandidos que ocorreram na Ladeira dos Tabajaras, com repercussão na Fonte da Saudade e adjacências, e reflexos, a seguir, na Rocinha.Nesse sentido, os muros também atuariam como uma ação diversionista, útil para substituir o impacto negativo das semanas precedentes.

No entanto, na polêmica, fica evidente uma questão que me parece muito grave.
Trata-se de um movimento que conduz ao retorno da estigmatização da favela, sobretudo as da Zona Sul, como lugar pernicioso à vida civilizada.
Ora, isso é de um simplismo absurdo; sobretudo, é uma enorme injustiça.

O Rio de Janeiro está se esboroando sob uma crise urbana de décadas –e passa a atribuir seus problemas aos seus pobres.

Mas é o Estado brasileiro, perfeitamente apropriado pelas elites políticas, econômicas e sociais, que tem se mostrado incapaz de proteger centenas de milhares de cidadãos que estão sob jugo da bandidagem, não apenas em sua integridade física, mas também nas relações econômicas, políticas e sociais do quotidiano. O Estado é ou omisso ou inoperante. De qualquer modo, é incapaz de se fazer valer em imensos territórios metropolitanos, cada vez mais disponíveis para a implantação das leis autoritárias dos grupos armados, gangues e milícias.

Precisamos de um Movimento pela Constitucionalização!
Queremos a Constituição brasileira vigorando plenamente em toda a Cidade!
É daí que poderemos esperar a redução da violência e o enfrentamento da crise urbana.

3 comentários:

  1. Caro Sérgio, falando e tentando contribuir para o debate sobre os muros, a primeira coisa que me vem a cabeça é: o muro que se pretende construir é um projeto para solucionar que problema?

    Segundo o Ícaro, também meu amigo desde 1998, quando fui trabalhar na Prefeitura do Rio o muro tem como objetivo de servir de proteção a um bioma ameaçado. Outra pergunta: murar é a melhor solução para o problema bioma ameaçado?

    Li nos jornais outras propostas como a de uma cerca viva, com indicação de espécies apropriadas. Lembrei-me de um projeto que conheci no Equador, criação de grupos de jovens para proteger determinados biomas. E também, presença do Estado assegurando os serviços necessários ao cidadão. Sabemos que muitas soluções propostas acabam gerando inúmeros outros problemas e você falou isso no seu texto.

    Em áreas de grande declividade como o Morro Dona Marta a construção do muro pode gerar novos problemas ambientais. No caso, poderia causar a desestabilização das encostas, acelerar processos erosivos e ocasionar danos ambientais, cujas conseqüências são imprevisíveis. Sobre esse aspecto vale a pena consultar, se ainda não foi feito, a Universidade, os geomorfólogos são indicados para isso. Devido as topografias peculiares, seria prudente ter o parecer dos técnicos das Secretarias de Meio Ambiente do Estado e do Município sobre tais riscos em cada área.

    Do ponto de vista social, penso que no momento em que o Rio encontra-se tão dilacerado pelos impactos provocados pela falta de elementos agregadores de sua diversidade, talvez fosse mais oportuno re-pensar a proposta trazendo à discussão elementos que agreguem e não isolem; que levem ao encontro e não a indiferença, que facilitem o compartilhar e não a separação.

    Creio que há um outro ponto a ser visto que é o de se assegurar a efetividade do projeto; se está bem focalizado, se de fato é uma solução inteligente, avaliar as suas conseqüências (sociais, econômicas, políticas, ambientais) hoje e no futuro e, principalmente, se vale realmente gastar recursos com ele.

    De qualquer forma a proposta desperta opiniões aquece o debate. É evidente que os problemas não são simples, a complexidade está presente e merece uma nova atitude - abrindo-se ao diálogo e as contribuições da sociedade.

    Tenho certeza Sergio, que estas reflexões serão importantes para os que formularam e para todos os envolvidos, sujeitos internos e externos da ação e para os que se interessam pela cidade.

    Grande abraço, Tereza Coni.

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  2. acho tereza coni uma mulher muito culta inteligente mesmo,muito preocupada com meio ambiente.

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  3. teria muito prazer em conhecer tereza coni. acho ela muito preocupada com meio ambiente,

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