quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Terremoto no Haiti

Sérgio Magalhães
A cidade de Porto Príncipe deve estar destruída. Os principais edifícios estão no chão. E são eles que aparecem nas imagens da TV. Mas eles também, em geral, estão localizados nas áreas planas da cidade e são mais bem construídos. Imaginem o que terá acontecido com as áreas residenciais pobres, que são construídas nas encostas, tal como nossas favelas.
Porto Príncipe tem mais de 2,5 milhões de habitantes. A imensa maioria não dispõe de água encanada. O abastecimento é por galões comprados em "quiosques". A disponibilidade é de menos de 10 litros/dia por pessoa (entre nós, calcula-se que a média de consumo seja 200 litros/dia). O lixo é recolhido muito precariamente. A energia elétrica é distribuida 1 ou 2 horas por dia. A ruas, em geral, não tem iluminação pública.
Isto tudo antes do terremoto.
O país está devastado. Sobrevoando, vê-se que o interior não tem cobertura vegetal, salvo pasto. Os córrregos/rios existem com chuva; sem chuva, ficam secos. Águas subterraneas tendem a ser salobra.
Uma reconstrução de Porto Príncipe precisaria contar com uma monumental ajuda internacional, bilhões de dólares, por muitos anos. E não vejo chance de ser bem sucedida se considerar a reconstrução do que foi destruído pelo terremoto: será necessário dar condições do país vir a se sustentar.
Como? São quase 10 milhões de hatianos!

Antes do terremoto, as instituições políticas eram frágeis. Todo o esforço da ONU era no sentido de dar consistência institucional para o país. Os símbolos institucionais eram sólidos: o Palácio Nacional, a Catedral, o Liceu Pétion, o Hotel Montana (sede da ONU). Agora, também estes símbolos estão no chão.

E eu que via as fotos que fiz em cada viagem como medida do avanço alcançado com o programa de recuperação do país! Percebia o avanço e ficava contente; mas via o lento avanço e sobrevinha a dúvida sobre a possibilidade de melhora efetiva. Jamais poderia supor que essas fotos, tão pungentes, reportando tanta pobreza e dificuldade, poderiam vir a ser documentos de um tempo superior!

O que poderemos fazer para nos solidarizarmos com o povo do Haiti? Como ajuda-lo? Há o agora e haverá o logo a seguir.Eu não tenho respostas.
Apenas, uma grande tristeza e o desejo de que possamos elaborar algo que possa ser útil.

Veja as três notas anteriores sobre o Haiti, publicadas em setembro de 2009:
Modernidades, Parece Pequena e Paisagem Bonita

7 comentários:

  1. Olá.
    Agradeço por suas informações. Elas me fizeram ficar ainda mais entristecido.
    Devemos e podemos participar em alguma forma de ajuda, através dos IABs (e os arquitetos sem fronteiras?) e outras instituições que possam ser capazes de enfrentar os problemas.
    Talvez seja a grande chance de reconstruir "de verdade" aquele país.

    Se o mundo foi capaz de salvar algumas instituições financeiras de uma quebra, porque não pode construir um novo país.
    Com ajuda humanitária, recursos financeiros e tecnologia.

    abraços,

    Dirceu Trindade
    Arquiteto Urbanista

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  2. Sérgio

    Eu sempre estive pasma com a situação de pobreza do Haiti. Particularmente horrorizada quando li uma reportagem sobre o país que mostrava as mães fazendo biscoitos de barro e açúcar para os filhos. Em uma situação de tão grande magnitude em relação ao percentual de população em estado de absoluta pobreza e miséria pensava, por onde começar? Pela educação? Por capacitação? Por infraestrutura?

    Seu relato é importante para mim porque vem de quem conhece. Não sabia que trabalhava lá (ponto para você). Sou um pouco descrente em relação à capacidade (vontade) dos países do mundo de salvar um país como este. Estão todos muito preocupados consigo mesmos. E agora o que os haitianos precisam é de salvação.

    Abraço,

    Márcia

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  3. Sérgio,
    eu pensava em você quando vi as notícias ontem, e hoje encontro o seu correio: a situação é bastante comovedora e a sensaçao é de impotencia total. Mas ficaremos atentos às iniciativas dos governos e o jeito é somar-se no que for programado para uma "cooperaçao na emergencia".
    Verena

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  4. Complicadíssimo, Sérgio, e o sofrimento pelo que se percebe, é imenso porque as pessoas feridas ficam simplesmente no chão, durante dias. Isso para mim é o pior de tudo.

    Sugiro que enviemos agora uma pequena equipe de 1 ou 2 arquitetos e alguns estagiários a um dado lugar de Porto Prince, com o aval imediato do governo de lá, recursos (da Prefeitura, do Estado e) da União daqui. Função: obter uma área para implantar um bairro de emergência, com comodidades bem melhores daquela do problema existente.

    Abrigos de emergência em barracas de lonas para hospitais - e tão fundamental quanto isso: há que haver mutirões para construção de fossas sépticas e poços artesianos (-1 arquiteto + 1 engenheiro sanitarista)

    Quero achar um projeto que fiz, de casas de emergência de papelão de boa espessura, com base de estrado de pinho, luzes servidas à pilha, tipo lanterna e caixas dáguas comuns a algumas unidades por mangueiras. Não é possível que não tenha água no sub-solo.

    Eduardo Cotrim

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  5. Caro Sergio,

    E' isso mesmo...., uma frustraçao imensa. Sua breve analise e' perfeita. Estamos todos chocados. Nunca imaginei uma trage'dia com estas proporçoes, e as consequencias e desdobramentos serao terriveis, impossiveis de se antecipar.

    O que fazer... ???

    luiz edmundo

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  6. Caro Sergio,

    Sobre a tragédia do Haiti, realmente daqui também ficamos muito sensibilizados.
    O pior eh que antes de pensar em recuperação, tem que se pensar em salvamento!
    Experiências recentes parecidas ocorreram aqui na Ásia: Indonésia (Banda Ache), Filipinas (Manila e Legaspi), China (Sichuan)...

    Mauro

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  7. Sérgio, a tua descrição do Haiti é tão dramatica que nos leva a imaginar que a situação é mil vezes pior do que
    se lê ou vê nos noticiarios. O que fazer?
    Repito o que disseste no final do texto: "o que poderemos fazer para nos solidarizarmos com o povo do Haiti? Como ajuda-lo?"
    Quem sabe o IAB se pronuncia a respeito e oferece algum tipo de colaboração, sei lá o que. É tudo tão desesperante que qualquer manifestação seria bem-vinda.
    Um abraço, Salma

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