quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Aportam as preocupações

Lucas Franco*
O Porto do Rio tem sido alvo de especulações e debates ao longo dos últimos (muitos) anos. Os arquitetos, temos que fazer o mea-culpa, pouco se pronunciaram, individualmente ou por seus órgãos representativos, IAB, Universidades e etc.
O oba-oba em torno do Porto é salutar e veio tarde. Entretanto, tenho visto colegas atentarem demasiadamente às questões formais da arquitetura, concentrando a argumentação em uma crítica de arquitetura, com direito a censuras e duelos de vaidades ao invés de perceber o que realmente muda a cidade.
Precisamos nos preocupar com as possíveis alterações na legislação urbanística, por exemplo, como serão negociadas as CEPACs, títulos que darão aos empreendedores o direito de construir além dos limites definidos pelo IAA (Índice de aproveitamento da Área).
Se não, novamente prevalecerá a máxima: pagando bem, que mal tem?

Precisamos discutir o espaço público, a qualidade do conjunto, planejar as etapas e articular as partes. E isso já é muito.
A Potsdamer Platz em Berlim, por exemplo, é um sucesso de revitalização urbana, muito mais devido a discussão travada sobre a utilização dos espaços (públicos, semi-públicos e privados) do que a qualidade formal dos edifícios.

A preocupação dos urbanistas e dos arquitetos deve começar aí e somente depois passar a "quem é que vai projetar lá".
A preocupação da sociedade deve ser com os agentes, pois a deles, acredito, não passa nem perto com a revitalização que todos os cariocas sonham para o Porto.
É verdade, que a boa cidade é recheada por esses conflitos de interesses. Pelo mesmo motivo, nenhum deverá simplesmente prevalecer.

*Com ilustre contribuição de Vera Rocha

2 comentários:

  1. Querido Lucas:
    Bom aquecermos esse debate! Concordo sobre a necessidade de chamar atenção sobre os processos que fazem cidade. Entretanto, com relação à discussão entre 'estética' ou 'engajamento', talvez o mais importante seria retirar o 'ou' e colocar um 'e' no debate. Parece-me que seria um equívoco pensar que a estética é só um envelope, coisa de griffe, exibicionista e cara, utilizada em geral para polarizar as participações e comentários entre o setores mais ‘resistentes’ e pelos ‘interesseiros’ da nossa sociedade, os primeiros temerosos das mudanças que privilegiariam somente alguns, e os segundos que visariam exclusivamente lucros. Talvez o nosso desafio urbano seja exatamente o de reverter este quadro, e fazer com que se compreenda que a cidade e seus habitantes é quem ganham quando desenho e oportunidade se juntam, seja antes ou durante o processo.
    abs.,
    Fabiana Izaga

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  2. Oi Lucas,
    esse debate é muito bem vindo. É mesmo difícil imaginar que soluções arquitetônicas de interesse para a cidade e seus habitantes possam nascer em áreas ocupadas sem planejamento ou com planejamento direcionado a um só tipo de interesse. A discussão da questão "estética" na arquitetura - sem dúvida imprescindível - não pode vir dissociada da discussão dos demais fatores e agentes envolvidos no projeto. É possível fazer crítica de arquitetura (ou arte) sem considerar as condicionantes a que esteve submetido o autor da obra criticada?
    No espaço da cidade, a arquitetura que se constrói é resultado dessas condicionantes. Sobre algumas delas como uso, gabarito, ocupação, tráfego, devemos como categoria profissional, participar do debate e tentar interferir. O desenho - importantíssimo - e sobre o qual devemos muito discutir, fica, quase sempre encurralado entre as possibilidades do lote e a ganância e os delírios do empreendedor. Muitas vezes o resultado depende mais dos parâmetros urbanísticos do que da criatividade do profissional contratado. Daí a urgência de pensarmos na cidade que queremos.
    Os arquitetos precisam exercitar a crítica de forma madura e ética. E precisam pensar na cidade com menos corporativismo, mais profissionalismo e, com mais carinho, também.
    Abraço,
    Vera

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