sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Moradia brasileira no século XXI

Sérgio Magalhães
Na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (15/9), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou dois quadros interessantes:
1. A média de financiamento habitacional no governo Lula é de 494.000 moradias (imagino que ao ano –e calculo que esteja um tanto quanto “otimizada”, ou que se refira até o fim do governo);
2. O investimento com o Minha Casa Minha Vida será de R$ 60 bilhões.Em média: R$ 60mil/domicílio.
Segundo o IBGE, ao final do século XX, as cidades brasileiras tinham quase 40 milhões de domicílios. E, em 2007, já somavam 48 milhões. Em sete anos, aumentaram 20%. Equivalem a quatro cidades do Rio de Janeiro.

Se juntarmos esses números aos dados fornecidos pelo ministro, e situando apenas nos últimos cinco anos (governo Lula), dos novos domicílios foi financiado 1/3. Isto é: 2/3 dos novos domicílios foram construídos exclusivamente com os recursos das próprias famílias.
Sem financiamento, como os pobres irão construir? Não exagero dizendo que pelo menos metade desses novos domicílios terá sido construída na irregularidade urbanística. Fazendo uma regrinha de três com os números do MCMV e do IBGE (R$ 60mil/domicílio – 1,5milhões dom/ano), veremos que tal irregularidade na construção das cidades brasileiras poderá ser superada se for possível tornar disponível um volume de crédito de até R$ 90 bilhões/ano.
Na mesma apresentação, o ministro Mantega informa que o Brasil licenciou aproximadamente 3 milhões de veículos/ano. Ou seja, algo como o dobro do número de domicílios que o Brasil urbano constrói. Todos sabemos que os automóveis tem completa linha de financiamento e somente não compra a prazo quem não quer. Se a média for de R$ 30 mil/veículo, o volume de crédito [teórico] poderia ser R$ 90 bilhões/ano.
Quanto será que foi investido em transporte de massa? Não me surpreenderia se em todo o país o investimento anual não tenha alcançado R$ 1 bilhão.

A primeira década do século já está vencendo. Se permanecermos no mesmo modelo, nossas cidades terão cada vez mais irregularidade urbanística, mais favelas, mais insalubridade. Em compensação, estaremos circulando (circulando?), os que puderem, em automóveis cada vez mais bonitos e velozes. Para tanto, já temos garantidas as incomensuráveis reservas do pré-sal (e os recursos que inexistem para as cidades).
Informações correlacionadas:
-Artigo SM publicado pela Folha de São Paulo: Ainda o Minha Casa
PS. A propósito: nesse artigo, falo em R$ 35 bilhões de investimento, que era o que os dados do Min. das Cidades informavam. Já o ministro Mantega diz que serão R$ 60 bilhões. Parece mais ajustado aos custos divulgados.

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