Lucas Franco
O publicitário Nizan Guanaes, em um entusiasmante artigo publicado pela Folha de São Paulo, descreveu a sua ”emocionante experiência de viver a Copa do Mundo da África do Sul”:
“...Viajei pelo país durante quase 20 dias e descobri que não existe nada daquela frase babaca que estamos tão acostumados a ouvir: "Foi uma coisa de Primeiro Mundo". Foi coisa de África.
O símbolo maior do que digo é o estádio Soccer City, palco de grandes jogos do Mundial e um diamante da arquitetura africana feito por um escritório de Johannesburgo chamado TC Design Architects. Lindo e só reforça o que eu já sabia, que o design da África do Sul é fortíssimo.
Tanto isso é verdade que é na Cidade do Cabo onde se realiza o melhor evento de design do mundo, o Design Indaba. Um exemplo a ser seguido.
Quando design e arquitetura de alto nível encontram a natureza exuberante, o resultado pode ser, por exemplo, a excelente hotelaria que tem a África do Sul.”
E é assim, de forma esclarecida e positivista que ele sugere como devemos encarar as nossas oportunidades:
“O nosso desafio não é apenas construir grandes hotéis, mas também termos a visão que teve a África do Sul, de afirmar sua cultura através da arquitetura e do design. Essa é uma consciência que a sociedade brasileira precisa ter como um todo.
(...)
Precisamos ter um plano de aceleração cultural bem desenhado.
Uma grande oportunidade de dizer ao mundo que somos mais do que um mercado emergente, somos uma cultura emergente que vai exportar artes plásticas, cinema, literatura, música. Mostrando ao mundo, que conhece o nosso talento pelos pés, tudo que o nosso talento também faz com as mãos.
(...)
Pois que seja construído com arte, com boa arquitetura. Que a arte brasileira esteja por todos os lados, nos aeroportos, nos metrôs, nas praças públicas e na nossa rede hoteleira.”
Definitivamente, como diz Guanaes ou como diria Assis Valente: chegou a hora desta gente bronzeada mostrar o seu valor.
Leia o artigo de Nizan: "Espanha e África ganharam a Copa".
Se a África do Sul está se transformando isso só pode ter ocorrido se a elite assim o quis. Quando a elite acha que o povo é bosta, pouco ou nada podemos fazer; fora o fato de que nos resta a possibilidade de derrubá-la. O problema é que virá outra elite e se esta não quiser também, então nada poderá ser mudado. Sonhar não custa; mas se é para ficar nas nuvens....
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLucas, meu comentário vem um pouco tarde, mas ainda assim...
ResponderExcluirAchei a opinião do publicitário Nizan Guanaes um tanto quanto inocente. Conversando com um amigo sul-africano devo admitir que tenho um certo receio em relação aos desdobramentos da copa de 2010. Estádios esportivos grandiosos e hotéis 5 estrelas como você bem deve saber têm um custo. E para países onde a economia beneficia poucos – como é o caso da África do Sul e infelizmente do Brasil – sem dúvida alguma estes gastos serão muito em breve repassados para os outros muitos que restam. Porque alguém tem que pagar a conta, certo? Sendo assim, o que realmente importa não e ‘a excelente hotelaria’ (a propósito, não entendi o que Guanaes quis dizer com isso: a arquitetura em si ou o serviço prestado?!) ou até mesmo a exportação de artes diversas, mas a consciência de que toda e qualquer intervenção arquitetônica tem um impacto muito maior na cidade e conseqüentemente na vida de todos os seus habitantes. Por esta mesma razão, acredito que um planejamento consciente, “socialmente sustentável” e transparente tem uma relevância muito maior nesse contexto.
Abraços,
Isabela Ledo