Sérgio Magalhães
Quando era estudante, em plena vigência do Movimento Moderno, andávamos pela rua a identificar o que era obra de arquitetura naquele mar de construções de Porto Alegre. Nossa referência era Lucio Costa em sua famosa definição de arquitetura: “construção concebida com ...”. Arquitetura é o que detinha determinado código.
Com a revisão doutrinária que a arquitetura experimentou nesses mesmos anos sessenta, com os estudos de Venturi sobre a arquitetura comum norte-americana, com Rossi, Alexander, Lynch, entre outros, a compreensão sobre a arquitetura e a cidade se ampliou e se tornaram interdependentes.
Já nos anos 80, com Ceça Guimaraens e Flavio Ferreira, ajudei a escrever a “tese” do IAB-RJ levado ao Congresso Brasileiro de Arquitetos que se realizou em Belo Horizonte. Defendíamos que arquitetura era o conjunto construído, que arquitetura brasileira era o conjunto construído no Brasil, que conjunto construído eram as edificações e seu contexto, que arquitetura é cidade, e por aí vai.
A década de 90 trouxe um reforço a essa compreensão com trabalhos urbanísticos assumindo papel cada vez mais presente e envolvendo necessariamente edificação + urbanismo como arquitetura.
Mas também houve uma retomada neomodernista, com a exaltação da unidade edilícia como protagonista do ambiente. Nossas revistas de arquitetura quase nunca apresentam os projetos contextualizados. A rigor, diria que nunca mostram como os edifícios se inserem na cidade e no seu entorno, mesmo quando a crítica diz que o projeto teve o ambiente como referência.
Reconheço realidades a distinguir, escalas que tornam complexa a compreensão da arquitetura como todo o conjunto, mas, convenhamos, está mais do que na hora de retomarmos o diálogo em prol da qualificação do nosso campo de trabalho.
Limitar a arquitetura ao edifício –e ainda ao “bom” edifício, não dá mais.
hum,hum. Eu que sou economista, vejo a cidade e sua arquitetura através de simples conceitos, como povo na rua. Foi assim que identifiquei, segundo o meu juízo ou falta de, o equívoco de Lucio Costa e Niemeyer ao construirem a esplanada dos ministérios. Faltou o conceito de povo na Rua, tal qual os centros das cidade nos ensinam.
ResponderExcluirPrezado Sérgio
ResponderExcluirmuito oportuno este artigo sobre os "limites da Arquitetura".
Lembrei-me que quando participei do Congresso Brasileiro dos Arquitetos em BH, em meados da década de 1980, quando eu era ainda estudante de graduação, de ter presenciado a dicussão que vocês levaram sobre Arquitetura e Cidade. De fato ela foi inovadora. Mas como naquela época eu era demasiadamente jovem, embora o fato tenha marcado em minha mémória, não aproveitei o suficiente.
Alguns anos mais tarde, no final da década de 1980, quando ingressei na academia, estas questões ficaram mais presentes e passaram a ser fruto de maior reflexão.
O fato é que nesta ocasião, algumas cidades como Rio e São Paulo começaram uma importante discussão sobre o papel das intervenções urbanas envolvendo desde a requalificação de centros urbanos à urbanização de favelas - contribuindo para uma revisão de paradigmas em relação ao ensino e à prática profissional da Arquitetura e Urbanismo, ainda que com grande resistências (que ao meu ver perduram ainda hoje).
De qualquer modo, este é um embate contínuo, muito intenso e difícil em nosso meio, principalmente quando o assunto envolve o ambiente construido e a sociedade - incluindo as periferias, favelas, assentamentos precários, centros urbanos etc - e não apenas o edifício enquanto o único protagonista da boa arquitetura.
Arq. Angélica Alvim - SP
Prezada Angélica Alvim,
ResponderExcluirgostei de saber de sua memória sobre o congresso de BH e da "tese" que o RJ sustentou.
De fato, como você diz, "este é um embate contínuo". Não obstante, estou convencido de que há algumas vitõrias importantes.
Mas continuo a não me conformar com a ausência de contexto nas obras publicadas, como se cada edificação pairasse no Olimpo de nosso devaneio autoral.
Obrigado pelo comentário.
Sérgio Magalhães